Para algumas pessoas, nenhuma quantidade de exercícios e dieta é suficiente para manter a saúde em dia. Para outras, o peso ideal vem naturalmente, independente dos hábitos. Agora, os pesquisadores sabem dizer o motivo. Em um dos estudos mais abrangentes sobre obesidade até hoje, cientistas identificaram que fatores genéticos raros protegem os portadores de engordar em grande escala.

Segundo a Science Magazine, cerca de 2,8 milhões de pessoas morrem todos os anos por excesso de peso ou obesidade clínica. A enfermidade aumenta o risco de desenvolver outros problemas, como diabetes tipo 2, doenças cardíacas, alguns tipos de câncer e até mesmo Covid-19 grave.

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A maioria dos estudos que se concentraram em pessoas com obesidade extrema, realizados até hoje, identificaram variantes genéticas comuns – como uma cópia “quebrada” do gene MC4R, ligada à regulação do apetite. Essa condição torna as pessoas mais propensas estar muito acima do peso.

“Essas variações no DNA são importantes para desenvolver novos medicamentos para as doenças. No entanto, encontrar fatores genéticos raros é muito difícil, já que os estudos de sequenciamento são geralmente realizados em proporções menores”, observa Sadaf Farooqi, especialista em estudos de obesidade.

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Pesquisa aponta que dieta e exercícios podem ajudar pessoas com obesidade, mas a genética também influencia fortemente no desenvolvimento da doença. Créditos: Shutterstock

Estudo em larga

No novo estudo, os pesquisadores da Universidade de Cambridge sequenciaram os genomas de mais de 640.000 pessoas do México, Estados Unidos e Reino Unido, considerando apenas o exoma – a parte do genoma que codifica as proteínas.

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Ruth Loos, geneticista da Universidade de Copenhagen, avalia a proporção da pesquisa desenvolvida pelos colegas de Cambridge como impressionante.

“Assim como uma foto com milhares de pixels revela pequenos detalhes de uma cena, o grande número de participantes do estudo forneceu uma ‘resolução muito alta’ para obter as variantes mais raras”, diz.

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Para Loos, o experimento comprova a necessidade de grandes amostragens e tempo hábil para pesquisar doenças tão complexas e estigmatizadas, como é o caso da obesidade.

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Detalhes sobre a pesquisa

A observação genética se deu a partir do índice de massa corporal (IMC), a medida de obesidade mais usada, embora relativamente imprecisa. Os pesquisadores analisaram as mutações em genes que estavam associadas a um IMC mais baixo ou mais alto.

Dos 16 genes ligados ao IMC encontrados, cinco demonstraram codificar proteínas de superfície celular, conhecidas como receptores acoplados à proteína G. Somando-se às evidências de que influenciam o peso, os cientistas descobriram que eles são expressos no hipotálamo, uma região do cérebro que regula a fome e o metabolismo.

Variações de um desses genes – GPR75 – tiveram maior efeito no IMC, indicando que seus portadores pesavam em média 5,3 quilos a menos do que aqueles que não possuem a mutação genética.

Para ver como o GPR75 afetou o ganho de peso, os pesquisadores projetaram ratos de laboratório para não ter uma cópia funcional do gene. E, quando alimentados com uma dieta rica em gordura, os roedores ganharam 44% menos peso em comparação com os ratos de controle. Eles também tiveram melhor controle do açúcar no sangue e foram mais sensíveis à insulina.

Dessa forma, o gene GPR75 pode ser alvo potencial de medicamentos, dizem os cientistas. Segundo eles, já existem duas moléculas comprovadas que ativam o receptor GPR75, mas as drogas que o desligam podem oferecer novas opções de tratamento para pacientes que lutam contra a obesidade.

O trabalho também mostra ser possível estender essa abordagem para doenças relacionadas, como diabetes tipo 2 e outros distúrbios metabólicos.

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