Em seus 30 anos de funcionamento, o Teslescópio Espacial Hubble colecionou imagens impressionantes. Quando iniciou suas operações foi como se a humanidade tivesse, enfim, aberto seus olhos para o Universo. E logo em seus primeiros anos, ele foi designado para uma de suas mais importantes missões: registrar o impacto do Cometa Shoemaker-Levy 9 com Júpiter.
Aquele foi o maior evento de impacto observado pela humanidade e, sem dúvida, um dos mais importantes registros da história do Hubble.
O Cometa Shoemaker-Levy 9, foi o nono e mais famoso cometa descoberto a partir do Observatório Palomar (Califórnia, EUA) pelo trio Carolyn e Eugene Shoemaker e David Levy, em março de 1993. Embora descobrir cometas não fosse uma novidade para eles, aquele parecia ter algumas características peculiares. Já em suas primeiras imagens, o cometa parecia bastante alongado, com uma cauda difusa um tanto estranha.
Impressionado com a estranheza do objeto, o grupo contactou James Scotti, que, utilizando o poderoso telescópio Spacewatch do Observatório Kitt Peak (Arizona, EUA), não só confirmou a descoberta do cometa, mas identificou o porquê dele parecer alongado: ele era na verdade, uma sequência de pelo menos 11 diferentes núcleos cometários, se deslocando juntos no céu.
Nas noites que se seguiram, telescópios de todo mundo se voltaram para esse cometa bizarro. Para surpresa de todos, percebeu-se que o Shoemaker-Levy 9 estava em órbita de Júpiter, provavelmente capturado em 1970 pelo poderoso campo gravitacional do planeta. Observações mais detalhadas mostravam que havia um total de 21 fragmentos, sendo o maior com cerca de 2 quilômetros.
Estudos apontam que o Shoemaker-Levy 9 era originalmente um corpo único com cerca de 5 km de diâmetro médio. Em 8 de julho de 1992 ele teria passado a apenas 43 mil km de Júpiter e se fragmentado, devido à tração provocada pelas forças de maré.
Ele vinha orbitando o gigante gasoso em uma trajetória elíptica bastante alongada, com período de cerca de dois anos. A cada órbita se aproximava mais do planeta, numa espécie de espiral da morte, que deveria resultar no impacto com Júpiter em julho de 1994. Seria o evento astronômico do século!
Os mais poderosos telescópios do mundo, e de fora dele, foram mobilizados para acompanhar aquele momento. Um observatório foi montado no Pólo Sul, e astrônomos amadores de todo o planeta prepararam seus instrumentos.
As sondas Galileu, Voyager 2 e Ulysses foram reprogramadas para observar o impacto. Mas a principal estrela daquela campanha foi, sem dúvida, o Telescópio Espacial Hubble.
Foram ao todo, 21 impactos entre 16 e 22 de julho de 1994. Cada fragmento atingiu a atmosfera de Júpiter a 215 mil km/h. Como eles ocorreram no lado posterior do planeta, o Hubble não captou nenhum diretamente. Mas registrou, com riqueza de detalhes, todas as plumas geradas pelos impactos, como cicatrizes escuras na atmosfera do gigante gasoso.
Pareciam buracos deixados pelo cometa. E de fato eram uma espécie de buraco, que nos permitiu enxergar as camadas inferiores da atmosfera joviana. Ao atingi-la, os fragmentos do Shoemaker-Levy 9 lançaram para cima os gases mais densos da atmosfera inferior, permitindo sua observação direta e o estudo de sua composição. Tudo isso registrado primorosamente pelo Telescópio Espacial Hubble.
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Mas os efeitos desse impacto foram sentidos bem além da atmosfera de Júpiter.
O Shoemaker-Levy 9 nos mostrou que grandes impactos ainda ocorrem no Sistema Solar. E imaginar que algo desse porte poderia ocorrer com a Terra motivou a NASA a aumentar significativamente seus investimentos na busca por asteroides potencialmente perigosos. Hoje isso faz parte de um esforço global que envolve cada vez mais astrônomos de todo o mundo.
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