Um estudo conduzido pela Nasa afirma que, até a década de 2030, a oscilação presente na órbita da Lua fará com que nós tenhamos mais inundações. A pesquisa tem relação com os prováveis efeitos do aquecimento global nos próximos anos e foi publicada no jornal Nature Climate Change.

Segundo o levantamento, um dos efeitos do aquecimento global – o derretimento acelerado das partes geladas do planeta e cujos pedaços cairão na água do mar, aumentando seu nível – devem ser mais evidentes na próxima década. Com o mar subindo, a Lua terá mais água para exercer a sua influência nas marés.

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Imagem mostra a Lua envolta em nuvens de um céu noturno, com as águas do mar se movimentando abaixo dela.

Estudo da Nasa indica que órbita da Lua deve causar mais inundações até 2030.
Efeitos da Lua sobre a maré das águas na Terra devem piorar na próxima década, causando mais inundações em menos tempo. Imagem: Krivosheev Vitaly/Shutterstock

Segundo estimativas da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, o mar já está apresentando recordes de elevação: de 1880 até hoje, seu nível já subiu aproximadamente 24 centímetros (cm) – sendo que um terço disso ocorreu nos últimos 25 anos. Até 2100, o nível do mar deve aumentar entre 0,3 metros (m) e 2,5m, dependendo de nossa capacidade de gerenciar emissões de gases do efeito estufa e outros problemas que adicionam peso ao aquecimento global.

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Em outras palavras, o nível do mar vai aumentar. O que depende de nós é se isso será “pouco” ou “muito”. E nisso entra a Lua.

Muitas pessoas não se dão conta de que o movimento do nosso satélite não é regular. Existe uma oscilação na órbita da Lua que pode ser fator importante na ocorrência de inundações nos próximos anos: basicamente, ela tem um período de menos marés altas e mais marés baixas. No outro lado da moeda, a Lua também tem um período de causa de mais marés altas e menos marés baixas.

Essa inversão é que pode ser problemática: segundo a Nasa, essa oscilação inverte a influência lunar nas marés uma vez a cada 18,6 anos. No momento atual, nós estamos no meio do ponto de mais marés altas – com a próxima época disso se repetindo no meio da década de 2030.

A Nasa argumenta que, quando chegarmos nesse período, o aquecimento global terá aumentado o nível do mar de tal forma que cheias de rios, transbordamentos de córregos e inundações serão bem mais do que uma irritação à segurança pública.

Evidentemente, não estamos falando de um tsunami. Inundações, embora trabalhosas, não são consideradas uma situação de calamidade extrema. Em 2019, somente os EUA enfrentaram mais de 600 episódios do tipo. A Nasa crê, porém, que até a década de 2030, esse número deve aumentar entre três e quatro vezes, e sua distribuição não será muito igualitária, com espaços de poucos meses do ano vendo dúzias de inundações ao invés de duas ou três por mês em regiões litorâneas.

Vale ressaltar: inundações oriundas da maré alta ocorrem quando tais marés ficam cerca de meio metro acima da média esperada, efetivamente transbordando para as ruas ou escorrendo por galerias pluviais e piscinões. O efeito disso é o de prejuízos aos cidadãos: a água invade casas, destrói eletrodomésticos, estraga certas construções, força lojas a fecharem e transborda fossas sépticas. Quanto mais elas duram, mais dano elas causam.

Agora imagine isso acontecendo cinco, sete, 10 vezes no mês.

“É o efeito cumulativo disso ao longo do tempo que trará o maior impacto”, disse Phil Thompson, autor do estudo e professor na Universidade do Havaí. “Se tivermos 10 a 15 inundações por mês, um negócio não poderá operar com o seu estacionamento submerso em água. As pessoas perderão empregos porque não conseguirão sair de casa. Fossas sépticas transbordarão dejetos e se tornarão um problema de saúde pública”.

A situação, segundo a Nasa, já beira o inevitável, com o estudo recomendando medidas de planejamento ao invés de procedimentos para evitar que isso aconteça, ressaltando a importância de “entender que todos esses eventos ocorrem de forma próxima em um mês ou dois, ou que você pode ter inundações mais severas na segunda metade de um ano. Essas são informações úteis”, conforme disse Ben Hamlington, outro autor da pesquisa e cientista do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa.

Em uma época onde o aquecimento global faz a mídia prestar atenção em eventos extremos – como furacões -, as inundações podem acabar despercebidas, mas tão logo, diz a Nasa, elas também devem deixar de serem “irritações municipais” para se tornarem “preocupações federais”.

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