Você talvez nunca tenha ouvido falar da luz cinérea, mas se você gosta de apreciar a Lua, provavelmente já viu ela. A luz cinérea é aquele brilho tênue que ilumina o lado escuro do satélite natural da Terra nas primeiras noites da fase Crescente e no fim da fase minguante.

Durante séculos os astrônomos buscaram uma explicação para esse brilho, mas apenas no século XVI o fenômeno foi explicado pelo gênio Leonardo Da Vinci.

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Retrato de Leonardo Da Vinci atribuído à Francesco Melzi
Retrato de Leonardo Da Vinci atribuído à Francesco Melzi. Fonte: wikimedia.org

O italiano Leonardo da Vinci foi, certamente, um dos maiores gênios que já passaram por esse planeta. Em seus 67 anos de vida (1452 – 1519), se destacou como matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta, músico e astrônomo.

Como artista, foi um dos mais importantes nomes do Renascentismo, autor de obras como a “Monalisa” e “A Última Ceia”. Era alguém muito à frente de seu tempo. Com séculos de antecedência, projetou máquinas voadoras, como um protótipo de helicóptero. Também desenhou tanques de guerra, uma calculadora mecânica, e idealizou o uso da energia solar. E como astrônomo, ajudou a desvendar um antigo enigma astronômico: a luz cinérea.

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Monalisa (à esquerda) e A Última Ceia (à direita) duas das mais famosas obras de Leonardo Da Vinci
Monalisa (à esquerda) e A Última Ceia (à direita) duas das mais famosas obras de Leonardo Da Vinci

Não há como não se encantar com a beleza da Lua nas noites próximas à sua fase nova, com aquele brilho tênue que completa seu lado não iluminado.

Mas durante séculos, esse brilho intrigou astrônomos e filósofos, que buscaram em vão, uma explicação para o fenômeno. Alguns sugeriam que a Lua possuía brilho próprio, uma espécie de fluorescência, enquanto outros diziam se tratar da luz das estrelas.

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Lua crescente com luz cinérea
Lua crescente com luz cinérea. Foto: Marcelo Zurita

Dá para imaginar o tamanho desse desafio numa época em que a Astronomia era feita sem telescópios, e que a maioria das pessoas nem sabia que a Terra orbitava o Sol.

Mas com o domínio que possuía em várias áreas do conhecimento e a criatividade que um dos maiores artistas que nosso mundo já teve, Leonardo Da Vinci solucionou o problema.

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Em seu livro Codex Leicester, escrito por volta de 1510, Da Vinci “viajou” até a Lua e imaginou como seria a noite por lá. Ele já sabia que o Sol era o centro do Sistema Solar e que a Lua funcionava como um grande refletor de luz solar. Imaginou que, da mesma forma, a Terra deveria refletir uma grande quantidade de luz do Sol.

Páginas do livro Codex Leicester, onde Da Vinci explica a luz cinérea
Páginas do livro Codex Leicester, onde Da Vinci explica a luz cinérea. Reprodução: covecollective.org

Então, quando o Sol se põe, a Lua escurece, mas não completamente, porque ainda há uma fonte de luz no céu: a Terra. Da mesma forma como a Lua Cheia ilumina as noites por aqui, a luz cinérea não era nada mais que a luz do Sol refletida na Terra iluminando a noite na Lua.

A intensidade da luz cinérea varia de acordo com a cobertura de nuvens em nosso planeta. Dessa forma, sua observação é uma forma indireta de medir a quantidade de nuvens que envolvem a Terra.

Além disso, podemos estudar propriedades químicas da nossa atmosfera através da análise espectral da luz cinérea, mais ou menos da mesma forma como fazemos hoje para procurar indicadores de vida em exoplanetas.

Espectro da luz cinérea permite o estudo das características químicas da atmosfera terrestre
Espectro da luz cinérea permite o estudo das características químicas da atmosfera terrestre. Gráfico: ESO

Hoje, com nossos telescópios, câmeras e toda tecnologia desenvolvida em mais de 500 anos, sabemos que nosso próprio planeta ilumina a superfície lunar 50 vezes mais do que a Lua Cheia, produzindo esse brilho tênue na superfície. Mas no século XVI, só mesmo a criatividade e a genialidade de Leonardo Da Vinci poderia solucionar o enigma que por séculos intrigou a humanidade.

Em sua homenagem, a luz cinérea também é chamada de “brilho de Da Vinci”.

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