Um corpo de um foguete descartado no espaço há 48 anos reentrou na atmosfera na noite da última sexta-feira (23), provavelmente sobre o Oceano Pacífico. Era esperado que o foguete reentrasse na atmosfera no fim de semana do dia 24 de julho.

Trata-se do segundo estágio do foguete soviético Kosmos-3M, que foi lançado em 26 de dezembro de 1973 a partir do Cosmódromo de Plesetsk.

O foguete colocou em órbita o satélite DS-U2-GKA (ou Aureole-2), que tinha como objetivos investigar a atmosfera superior da Terra em latitudes elevadas e estudar a natureza das auroras polares.

Foguete Kosmos-3M (esquerda) e satélite DS-U2-GKA (direita)
Foguete Kosmos-3M (esquerda) e satélite DS-U2-GKA (direita). Fonte: kosmonautix.cz

Reentrada

A reentrada estava prevista para ocorrer na sexta (23) ou sábado (24). Segundo o engenheiro Joseph Remis, ela deveria ocorrer às 21:47 (horário de Brasília) de sexta. A previsão tem uma margem de erro de +- 13 horas, o que significa que ela pode ocorrer entre a manhã de sexta e a manhã de sábado.

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Dentro dessa margem de erro, o corpo do foguete, também chamado de SL-8 R/B, deve completar 17 órbitas ao redor da Terra. Em 4 delas ele passará sobre o Brasil. Isso significa que há uma pequena possibilidade da reentrada ocorrer sobre o território brasileiro. Os cálculos mais precisos devem ser divulgados apenas na quinta ou sexta-feira, e podem aumentar ou afastar a possibilidade de reentrada sobre nosso país.

Passagens (linhas amarelas) do SL-8 R/B dentro da margem de erro da previsão da reentrada
Passagens (linhas amarelas) do SL-8 R/B dentro da margem de erro da previsão da reentrada. Reprodução: satflare.com

Por que o foguete deve reentrar na atmosfera

Para orbitar a Terra, qualquer objeto precisa viajar a uma velocidade de cerca de 27 mil quilômetros por hora, o que gera uma força centrífuga que compensa a atração gravitacional. Após cumprir sua missão, muitos foguetes são deixados em órbita baixa, onde existem partículas de gases atmosféricos em quantidade suficiente para produzir arrasto. Isso reduz a velocidade do foguete, fazendo com que, aos poucos, a gravidade prevaleça.

Força centrífuga (v) e aceleração da gravidade (a) gerando movimento orbital
Força centrífuga (v) e aceleração da gravidade (a) gerando movimento orbital.
Fonte: wikimedia.org

A cada órbita em torno da Terra, o arrasto reduz ainda mais a velocidade do foguete. Como consequência, sua altitude diminui, o que faz o foguete atingir camadas ainda mais baixas e mais densas da atmosfera, que oferecem ainda mais resistência. É um caminho sem volta. Sua órbita vai deteriorando até ele atingir o ponto de ruptura, quando o calor intenso e a desaceleração mecânica fará com que o foguete se despedace e queime, deixando no geral poucos rastros.

No caso do SL-8 R/B, ele foi deixado em uma órbita não tão baixa, mas que ainda sofria algum arrasto. Por isso, sua órbita demorou quase 50 anos para se deteriorar até o ponto de estar prestes a reentrar na atmosfera.

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Reentrada não deve oferecer riscos

Quando lançado, o segundo estágio do Kosmos-3M tinha mais de 20 toneladas. Mas depois de queimar e drenar seu combustível, ele ficou com “apenas” 1,4 toneladas de massa. É uma peça cilíndrica com 6 metros de comprimento e 2,4 metros de diâmetro. Nada tão pequeno e nem tão leve ao ponto de nos deixar à vontade ao saber que ele vai cair na Terra a qualquer momento.

Entretanto, não há com o quê se preocupar: graças à enorme velocidade em que isso ocorre, cerca de 28 mil km/h, a atmosfera terrestre funciona como um escudo, desintegrando quase que completamente o objeto. Durante o processo de reentrada, os gases atmosféricos são aquecidos e ionizados, gerando uma enorme bola de fogo que pode ser vista a centenas de quilômetros de distância. O calor é tão elevado que vaporiza completamente até 80% do objeto. O pouco que sobrar deve ser fragmentado pela resistência do ar, e deve chegar à superfície de forma praticamente inofensiva.

Bola de fogo gerada na reentrada do ATV-5 em 2015
Bola de fogo gerada na reentrada do ATV-5 em 2015. Créditos: ESA/Nasa

Apenas os componentes mais maciços devem resistir à passagem atmosférica, como a carcaça do motor e os tanques de pressurização. Apesar de não serem partes tão leves, o risco de que eles possam causar algum dano em solo ainda é extremamente pequeno. Dois terços da superfície do planeta são cobertos por oceanos e as áreas continentais ainda contam com uma enorme quantidade de regiões pouco povoadas ou completamente desabitadas.

Por isso, essa reentrada não deve gerar grandes preocupações. O único risco que corremos é de poder observar um belo espetáculo no céu, principalmente se tivermos a sorte se tivermos a sorte dela ocorrer durante a noite e próxima de nós.

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