Desde o início do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), o gás de cozinha acumula alta de 66% e se consolida como o maior vilão do orçamento de famílias de baixa renda. Para tentar economizar, as pessoas têm buscado alternativas na hora de cozinhar, como usar carvão ou lenha. No entanto, pesquisadores indicam que esses combustíveis “sujos” estão associados com o desenvolvimento de doenças oculares. Em casos mais extremos, o hábito pode levar à cegueira.

A Medical Xpress divulgou um estudo, publicado na revista PLOS Medicine nesta sexta-feira (30), que revelou uma forte ligação entre cozinhar com lenha ou carvão e os riscos de desenvolver doenças oculares graves (ou até cegueira). Pesquisas análogas anteriores já indicavam que o hábito de cozinhar com combustíveis sólidos sujos aumentava as chances de desenvolver catarata.

publicidade

A recente pesquisa, que durou longos anos, foi desenvolvida em conjunto por cientistas da Universidade de Oxford, da Academia Chinesa de Ciências Médicas e da Universidade de Pequim. Durante o experimento, os voluntários foram questionados sobre seus hábitos na cozinha. Em seguida, eles foram rastreados por 10 anos, através dos registros do plano de saúde, para verificar possíveis internações hospitalares devido a doenças oculares. 

Passados os 10 anos de observação, constatou-se 4.877 casos de conjuntivite, 13.408 de catarata, 1.583 transtornos da esclera, córnea, íris e corpo ciliar (H15 – H22) e 1.534 registros de glaucoma.

publicidade

Paralelamente, a pesquisa atestou que não existem grandes diferenças de ameaça entre os tipos de combustíveis sólidos usados, por exemplo, carvão versus madeira. A lenha, porém, pode levar a ferimentos mais graves nos olhos devido a faíscas ou pó de madeira.

“Os riscos aumentados são, em geral, causados ​​pela exposição a altos níveis de partículas finas (PM2. 5) e monóxido de carbono, que danificam a superfície do olho e causa inflamações”, disse o o principal autor do estudo, Dr. Peter Ka Hung Chan (Universidade de Oxford).

publicidade

Além de constatar que as os combustíveis limpos (eletricidade ou gás) apresentam riscos menores do que os combustíveis sujos (carvão e lenha), a complexidade de informações do estudo indicou que aqueles que cozinham a partir de carvão ou lenha são, em maioria, mulheres mais velhas, residentes em áreas rurais e com baixa escolaridade.

Os dados, portanto, assinalam que as pessoas de baixa renda estão mais vulneráveis a ter que recorrer a fontes “sujas” na cozinha. Devido a pouca arrecadação, a procura por um tratamento adequado, caso desenvolvam doenças oculares, pode ser um empecilho agravante.

publicidade
Pesquisa longa e detalhada, realizada na China, constatou que mulheres de baixa renda são as mais atingidas por doenças oculares provocadas pelo uso de lenha e carvão na cozinha. Créditos: BlurryMe/Shutterstock

As conclusões do experimento chinês são importantes não apenas para a comunidade médica mas para a sociedade como um todo, pois comprovam que problemas oculares resultam de uma série de fatores e hábitos cotidianos e não apenas das causas tradicionais nas quais comumente pensamos (predisposição genética, por exemplo).

Ademais, a pesquisa reforça a necessidade de pressionar por esforços governamentais que facilitem o acesso ao gás de cozinha por um preço justo. Além do mais, o público em geral deve ser informado sobre os perigos e potenciais riscos ao usar combustíveis alternativos – ainda que não tenha oportunidade de escolha, muitas das vezes.

Leia também!

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!