Enquanto muitos se preocupam com os riscos oferecidos pelas grandes erupções vulcânicas, pesquisadores do Centro de Estudo de Risco Existencial da Universidade de Cambridge (CSER) garantem que o perigo real está nas mais moderadas. Isso porque elas ocorrem muito mais frequentemente do que as massivas, consideradas raras. 

Erupções vulcânicas pequenas, como esta, ocorrida em março de 2021, no Monte Fagradalsfjall, Indonésia, são mais perigosas do que as de grandes proporções, de acordo com novo estudo. Imagem: DanielFreyr – Shutterstock

Para eles, a sociedade científica dá muito foco às explosões vulcânicas de grandes proporções, enquanto muito pouca atenção é dada ao potencial efeito dominó de erupções menores em partes importantes do planeta.

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Foram identificados sete “pontos de aperto” pelos pesquisadores, onde aglomerados de vulcões relativamente pequenos, mas ativos, ficam ao lado de infraestrutura vital que, se paralisada, pode ter consequências globais catastróficas.

Essas regiões incluem grupos de vulcões em Taiwan, Norte da África, Atlântico Norte e noroeste dos EUA. O relatório foi publicado nesta sexta-feira (6), na revista Nature Communications .

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“Mesmo uma pequena erupção em uma das áreas que identificamos pode lançar cinzas suficientes ou gerar tremores grandes o bastante para interromper as redes que são centrais para as cadeias de abastecimento globais e sistemas financeiros”, disse Lara Mani, principal autora do estudo.

Mani e seus colegas afirmam que erupções menores classificadas até 6 no “índice de explosividade vulcânica” — em vez de 7 e 8, que tendem a ocupar o pensamento catastrofista — poderiam facilmente produzir nuvens de cinzas, fluxos de lama e deslizamentos de terra capazes de afundar os cabos submarinos, paralisando o mercado financeiro ou levando à devastação de lavouras, o que ocasionaria escassez de alimentos e outras turbulências.

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Erupção vulcânica de magnitude 4 fez estrago na Islândia em 2010

Como um exemplo na história recente, a equipe aponta para eventos de 2010, na Islândia, onde uma erupção de magnitude 4 do vulcão Eyjafjallajökull, perto do principal “ponto de aperto” do continente europeu, gerou nuvens de cinzas transportadas pelos ventos noroeste, que fecharam o espaço aéreo europeu a um custo de US$ 5 bilhões para a economia global.

Erupção do vulcão Eyjafjallajökull, na Islândia. Imagem: Olivier A. A. Vandeginste – Shutterstock

No entanto, quando o Monte Pinatubo entrou em erupção com magnitude 6 nas Filipinas, em 1991, sua distância da infraestrutura vital significou que o dano econômico geral foi inferior a um quinto do Eyjafjallajökull, mesmo sendo 100 vezes maior em escala do que o evento islandês. (O impacto econômico global, em 2021, seria de cerca de US$740 milhões).

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Saiba quais são os sete “pontos de aperto” das erupções vulcânicas de média magnitude

As sete áreas de “ponto de aperto” identificadas pelos especialistas — dentro das quais erupções relativamente pequenas poderiam infligir o caos global máximo — incluem o grupo vulcânico na ponta norte de Taiwan, lar de um dos maiores produtores de chips eletrônicos. Se essa área — junto com o Porto de Taipei — ficasse indefinidamente incapacitada, a indústria global de tecnologia poderia parar.

Outro ponto crítico é o Mediterrâneo, onde lendas do mundo clássico, como Vesúvio e Santorini, podem induzir tsunamis que destroem redes de cabos submersos e isolam o Canal de Suez. “Vimos o que o fechamento de seis dias do Canal de Suez fez no início deste ano, quando um único navio de contêiner preso custou até dez bilhões de dólares por semana ao comércio global”, disse Mani.

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Erupções no estado norte-americano de Washington, no noroeste do Oceano Pacífico, podem desencadear fluxos de lama e nuvens de cinzas que cobrem Seattle, fechando aeroportos e portos marítimos. A modelagem de cenários para uma erupção de magnitude 6 no Monte Rainier prevê perdas econômicas potenciais de mais de US$ 7 trilhões nos cinco anos seguintes.

Os centros vulcânicos altamente ativos ao longo do arquipélago indonésio — de Sumatra a Java Central — também se alinham no Estreito de Malaca: uma das passagens marítimas mais movimentadas do mundo, com 40% do comércio global percorrendo a rota estreita a cada ano.

Outra rota de transporte importante, o Estreito de Luzon, no Mar da China Meridional, é o ponto crucial de todos os principais cabos submersos que conectam China, Hong Kong, Taiwan, Japão e Coréia do Sul. Também é circundado pelo Arco Vulcânico de Luzon.

Os pesquisadores também apontam a região vulcânica na fronteira entre a China e a Coreia do Norte, a partir da qual nuvens de cinzas perturbariam as rotas aéreas mais movimentadas no leste. Segundo os cientistas, um novo despertar dos vulcões islandeses faria o mesmo no oeste.

“É hora de mudar a forma como vemos o risco vulcânico extremo”, acrescentou Mani. “Precisamos deixar de pensar em termos de erupções colossais destruindo o mundo, como retratadas nos filmes de Hollywood. Os cenários mais prováveis ​​envolvem erupções de menor magnitude interagindo com nossas vulnerabilidades sociais e nos levando à catástrofe”.

Com informações da Phys.org