Pesquisa revela que jovens saudáveis que contraíram Covid-19 podem ter prejuízos neurológicos significativos durante vários meses, especialmente em relação as reações de luta e fuga – estresse imediato que desperta o corpo para situações de perigo. O novo estudo amplia as descobertas acerca da chamada Covid longa ou Síndrome Pós-Covid, que consiste em um prolongamento dos sintomas da doença ou da manifestação de novas sequelas.

Médicos e pesquisadores explicam a ocorrência da denominada Covid longa, síndrome prevalente que inclui uma infinidade de sintomas debilitantes decorrentes do coronavírus e que podem durar semanas ou meses, mesmo após uma infecção moderada ou leve. As manifestações incluem falta de ar, cansaço, dor no peito, palpitações e desregulamentação de alguns órgãos, como o cérebro, por exemplo.

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Segundo a ScienceAlert, o novo estudo, realizado por cientistas da Carolina do Norte (EUA), propôs analisar mais a fundo as sequelas da Covid-19 nas funções do cérebro, especialmente do sistema nervoso simpático, responsável pelas alterações do organismo em situação de emergência. Para isso, os pesquisadores monitoraram, durante seis meses, 30 voluntários, dos quais 16 haviam contraído a doença recentemente.

Sequelas neurológicas da Covid
Pesquisadores verificaram que as sequelas da Covid-19 incluem desarmonia no sistema nervoso simpático, responsável por controlar as reações de luta e fuga (emergência). Esse desequilíbrio pode afetar outros órgãos do corpo, como as funções cardiovasculares.
Imagem: Kateryna Kon / Shutterstock

Durante a análise, os cientistas observaram que uma pequena célula nervosa, inserida na parte posterior do joelho, encontrou redução da atividade elétrica nos músculos daqueles que estão se recuperando da Covid-19. Esses nervos são responsáveis pelo funcionamento do sistema nervoso simpático, encarregado de controlar a resposta de lutar ou fugir – teoria que diz que os animais reagem às ameaças com uma descarga de adrenalina.

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Eles também verificaram, durante um dos testes, que ao passar da posição de repouso para uma posição vertical, por exemplo, os 16 pacientes em recuperação mostraram atividade simpática anormalmente ativa, seguida por uma resposta da frequência cardíaca exagerada à mudança na pressão arterial.

Em outros casos, contudo, o sistema nervoso simpático desses pacientes se mostrou gravemente inativo. Quando os jovens participantes colocaram as mãos em água gelada, por exemplo, sua atividade nervosa muscular foi menor do que o normal. Além disso, aqueles que tiveram a doença recentemente relataram sentir substancialmente menos dor do que 14 voluntários saudáveis de controle.

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Os resultados sugerem que o SARS-CoV-2 pode, de alguma forma, desequilibrar o sistema nervoso simpático, fazendo-o trabalhar muito em repouso e não o suficiente durante situações estressantes emergenciais, mesmo entre jovens que não possuem quaisquer fatores de risco. Essa desregulação em adultos mais velhos pode implicar em sérias complicações cardiovasculares. Isso porque uma atividade mais elevada de repouso no sistema nervoso simpático aumenta a frequência cardíaca e o fluxo sanguíneo do coração, colocando pressão sobre o sistema cardiovascular com o passar do tempo.

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Entretanto, os autores não possuem convicção sobre os motivos pelos quais o coronavírus está atrapalhando o sistema nervoso simpático dos pacientes a tal ponto, apenas suspeitam que o desequilíbrio das funções esteja relacionado ao estresse oxidativo e à inflamação provocados pela doença.

Eles explicam que altos níveis de atividade nervosa simpática nos músculos foram associados ao aumento da rigidez arterial em estudos anteriores e, curiosamente, os jovens adultos do recente experimento mostraram maior rigidez em suas artérias até três meses após o teste positivo para a Covid-19. Essa elasticidade reduzida pode alterar a quantidade de oxigênio que está sendo transportada para a cabeça ou o coração, e isso, por sua vez, pode limitar as reações de luta e fuga. Por outro lado, a inflamação, provocada pelo sistema imunológico, possivelmente está ativando o sistema nervoso simpático sem necessidade.

A pesquisa, apesar de pequena, aponta importantes (e preocupantes) resultados, que devem ser melhor explorados por experimentos futuros.

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