A pandemia permitiu observar, em tempo real, as teorias evolutivas descritas por Darwin. Em todas as espécies, as mutações são o motor máximo da evolução e fornecem a matéria-prima para a seleção natural agir. Com o coronavírus, evidentemente, não é diferente. Estudiosos indicam que os vírus possuem grande facilidade para as mudanças evolutivas, que surgem devido a erros no momento em que seus genomas são copiados para a replicação. Contudo, nem todas as mutações se transformam em uma variante poderosa, como a Delta, apenas aquelas que melhor se adaptaram e encontraram uma oportunidade favorável para se disseminar.

Segundo a Medical Xpress, o genoma do SARS-CoV-2 é composto por 30 mil bases individuais. Quando o coronavírus invade o corpo e se liga às células do hospedeiro, essas bases são copiadas para a sua reprodução, denominada replicação. Ademais, a probabilidade de que uma dessas bases sejam erroneamente substituídas é de três em um milhão, o que leva a uma média de 0,1 mutação a cada vez que o genoma viral se replica.

Considerando que em humanos o pico da infecção por Covid-19 se estende entre cinco a sete dias, durante os quais o vírus normalmente completa de três a sete ciclos reprodutivos, temos cerca de 0,5 mutação a cada pessoa infectada. Outro dado apresentado pelas pesquisas indica que a população global de coronavírus acumula, em média, cerca de uma mutação a cada duas semanas – uma taxa semelhante à de uma única pessoa infectada.

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Comparação com a taxa de variação do genoma humano

Para fins comparativos, a taxa de variação do genoma humano compreende 0,05 de índice de mutação a cada duas semanas. Não parece tão diferente do SARS-CoV-2 a priori, apenas 20 vezes mais lento. Contudo, é necessário lembrar que o material genético humano é centenas de milhares de vezes maior, fazendo com que a taxa de mutação por base seja dois milhões de vezes mais rápida em um vírus. Quer dizer que o coronavírus já experimentou, desde o início da pandemia, aproximadamente a mesma quantidade de mutações que os seres humanos em 2,5 milhões de anos.

Inobstante, esses cálculos aproximados se referem ao número de mutações esperadas dentro de uma única linhagem do coronavírus. Para verificar o número total de mutações que surgem durante uma infecção é preciso também levar em consideração todas as partículas de vírus produzidas, cada uma das quais sofrem outras modificações. De maneira resumida, o número total de partículas virais produzidas no decorrer de uma infecção está entre 300 mil a 300 milhões. E se cada linhagem acumular uma média de 0,5 mutação, então a estimativa do número total de variações em todas as partículas de vírus combinadas será algo em torno de 100 mil a 100 milhões.

Com tantas operações e estimativas envolvidas, o mais é importante é entender que inúmeras mutações são prováveis ​​de surgir durante cada infecção única pelo coronavírus, mas nem todas essas mutações terão consequências significativas ao hospedeiro – podendo até ser prejudicial ao próprio vírus.

Como descreveu Darwin, os seres vivos sofrem modificações evolutivas, inclusive os vírus. Especialistas explica, porém, que nem todas as centenas de milhares de mutações do coronavírus se transformam em variantes perigosas, apenas aquelas que melhor se adaptam às adversidades.
Créditos: Shutterstock

Além do mais, apenas uma pequena fração das partículas do SARS-CoV-2 dentro de um paciente causa novas infecções e quase todas as mutações que se acumulam serão perdidas assim que a doença regredir. Ainda, como o tempo entre as infecções é curto, a seleção natural terá poucas oportunidades de escolher as variantes mais adaptadas para infectar novos hospedeiros.

Dessa maneira, poucos genomas mutantes são designáveis para serem transmitidos entre os indivíduos e, posteriormente, se espalharem para se tornarem variantes preocupantes. A grande maioria das mutações, felizmente, são relegadas ao esquecimento evolutivo.

Fim de novas variantes do coronavírus?

Dado que a ciência já verificou a existência de quatro variantes, alguns podem ter a impressão de que o coronavírus está perto de encerrar suas opções e que a ocorrência de novos tipos perigosos é pequena. De fato a circunstância de que grande parte das mutações nunca cheguem a ser transmitidas confere uma desvantagem evolutiva aos vírus. No entanto, isso pode ser compensado se o número total de infecções for muito grande, como ocorre com a pandemia de Covid-19.

Ademais, algumas propriedades do vírus podem não ser determinadas apenas por mutações únicas, mas pela interação de múltiplas variações agindo em conjunto no mesmo genoma. Por exemplo, o efeito de uma variante pode ser intensificado se surgir dentro de um organismo que já foi afetado por outras mutações específicas. Enfim, a verdade é que o SARS-CoV-2 ainda pode ter alguns truques evolutivos na manga para usar, o que requer alerta.

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