Parece que Jeff Bezos é um péssimo perdedor. Sua empresa aeroespacial, a Blue Origin, está processando a Nasa por causa do contrato firmado entre a agência espacial e a SpaceX, do rival Elon Musk, para construção do “Human Landing System”, sistema de pouso que levará astronautas à superfície da Lua.

Tudo começou em Abril de 2020, quando a Blue Origin, a SpaceX e a Dynetics foram escolhidas pela Nasa para competir entre si no desenvolvimento de veículos de pouso para o programa Artemis.

Cada empresa apresentou uma proposta, e a Nasa alocou, a cada uma, um valor determinado de acordo com o nível de desenvolvimento de cada projeto, sendo que o da Blue Origin era o que estava, na época, em estágio mais avançado. 

Com isso, a empresa recebeu US$ 579 milhões para desenvolver um Veículo Integrado de Pouso (“Integrated Lander Vehicle”, ou ILV), com um módulo de três estágios que poderia ser lançado pelos foguetes New Glenn, da própria empresa, ou Vulcan, da United Launch Alliance (ULA), consórcio entre a Lockheed Martin e a Boeing.

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A Dynetics, recebeu US$ 253 milhões para criar o Dynetics Human Landing System (DHLS), uma estrutura única que também seria lançada por um Vulcan da ULA. Por fim, a SpaceX trabalha na sua Starship — uma espaçonave totalmente integrada que usará o foguete Super Heavy, e recebeu cerca de US$ 135 milhões.

As empresas teriam que finalizar seus projetos até fevereiro de 2021, quando a Nasa escolheria como prosseguir, com o entendimento de que os dois melhores projetos seriam selecionados.

Surpresa na escolha

Mas ao anunciar sua escolha em abril deste ano, a agência espacial norte-americana surpreendeu: escolheu apenas a SpaceX, lhe concedendo um contrato de US$ 2,9 bilhões (R$ 15,2 bilhões). Segundo o jornal norte-americano The Washington Post, a proposta da empresa foi escolhida por ser “de longe era a que tinha o menor custo”.

A Nasa também gostou da capacidade da Starship de carregar grande quantidade de carga de e para a superfície da Lua, o que “tem potencial para melhorar consideravelmente as operações científicas”.

Segundo especialistas, a escolha apenas da SpaceX reflete a confiança da agência espacial na companhia, que em breve lançará sua terceira missão tripulada ao espaço em um ano, enquanto concorrentes ainda desenvolvem seus veículos.

Quem não gostou da história foi Jeff Bezos. A Blue Origin e a Dynetics entraram com uma reclamação contra a Nasa no Escritório de Responsabilidade Governamental (GAO, Government Accountability Office) do governo dos EUA. Elas alegam que a agência violou os termos originais da competição, pelos quais deveria selecionar mais de uma empresa para compor o projeto, escolhendo as melhores propostas para o fornecimento de equipamento mediante concorrência igualitária. 

Imagem mostra o foguete Super Heavy montado em sua base de lançamento
Starship e Super Heavy, juntos pela primeira vez. Primeiro teste orbital deve acontecer ainda em 2020. Imagem: SpaceX/Divulgação

Após suspender o contrato entre a Nasa e a SpaceX por 95 dias para análise, o GAO desconsiderou os argumentos das empresas, considerando-os “frívolos”, e afirmou:

“Ao negar os protestos, o GAO concluiu, primeiramente, que a Nasa não violou as leis de oferta e procura ao decidir escolher apenas uma empresa. O anúncio feito pela Nasa esclareceu que a premiação a ser feita seria sujeita ao valor de financiamento disponibilizado para o programa. Mais além, ao anúncio se reservou o direito de promover vários prêmios, apenas um prêmio ou nenhum prêmio. A Nasa concluiu, então que só teria financiamento suficiente para um prêmio. O GAO concluiu, em seguida, que não havia necessidade da agência em engajar discussões sobre, emendar ou mesmo cancelar o anúncio. Como resultado, o GAO negou as argumentações dos protestos”.

O novo processo

A nova investida da Blue Origin, um processo na US Court of Federal Claims, está oculta atrás de uma medida protetora, mas foi descrita por advogados da empresa como um desafio à “ilegal e imprópria avaliação pela Nasa das propostas enviadas como parte da competição”.

Segundo o The Verge, um porta-voz da Blue Origin chama o processo de “uma tentativa de remediar as falhas no processo de aquisição do Human Lansing System da Nasa”, e adiciona que “acreditamos firmemente que os problemas identificados nesta solicitação e seus resultados devem ser resolvidos para restaurar a justiça, criar competição e garantir à América um retorno seguro à Lua”.

A Nasa ainda não se posicionou sobre o assunto.

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