Possivelmente a equação mais conhecida do mundo da Física, a “E = m.c²”, postulada por Albert Einstein em 1905, serviu de base para cientistas criarem matéria a partir da luz, em um estudo publicado no Physical Review Letters. A fórmula rege que a energia é igual à massa multiplicada pela velocidade da luz ao quadrado.

A equação de Einstein diz que duas partículas de luz (fótons) suficientemente carregadas, quando arremessadas uma contra a outra, podem criar matéria na forma de um elétron e um pósitron — partículas com carga negativa e positiva, respectivamente. Foi o que os cientistas do laboratório Brookhaven, nos EUA, fizeram.

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Ilustração mostrando dois fótons, partículas de luz que, segundo Albert Einstein, podem gerar matéria caso se choquem em extrema velocidade
Fótons, que são partículas de luz, podem gerar matéria caso se choquem em extrema velocidade: pela primeira vez, cientistas conseguiram observar isso de forma prática, mas ideia já era antecipada por Albert Einstein no começo do século XX. Imagem: Jurik Peter/Shutterstock

Esse processo, porém, é extremamente difícil de ser realizado. Os fótons obrigatoriamente devem ser raios gama muito energizados — o tipo de coisa que nós ainda não somos capazes de criar. Uma alternativa a isso foi proposta em 1934 pelos físicos Gregory Breit e John Wheeler, sugerindo o uso de íons. Foi o que os cientistas fizeram.

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“No paper original, Breit e Wheeler já haviam percebido que o choque de fótons é algo quase impossível de ser feito”, disse Zhangbu Xu, do laboratório Brookhaven. “O laser nem sequer existia naquela época, mas eles já propuseram uma alternativa na aceleração de íons pesados. E é justamente isso que estamos fazendo aqui no RHIC”.

“RHIC”, no caso, é a sigla em inglês para “Colisor Relativo de Íons Pesados”. O que os cientistas fizeram foi aumentar — muito — a velocidade dos íons, núcleos atômicos com seus elétrons removidos (ou seja, têm carga positiva). A aceleração, porém, não foi até o ponto de choque, mas sim para que dois íons passassem perto um do outro.

Isso porque íons, quando acelerados, se movem a uma velocidade muito próxima da que observamos com a luz, gerando um campo eletromagnético ao seu redor. Dentro desse campo, estão o que podemos chamar de “falsos fótons”. Não exatamente as partículas de luz ambicionadas por Einstein, mas algo perto disso. Os especialistas chamam isso de “fótons virtuais”.

A partir daí é que o “tecniquês” da Física entra em cena: segundo o que Xu explicou ao Phys.org, partículas virtuais só “existem” por um breve momento, como perturbações que nascem nos campos magnéticos entre duas partículas reais. Nesse experimento, quando os íons passavam perto um do outro, mas não colidem, as “nuvens” magnéticas com os fótons virtuais estavam tão velozes que eles agiram como se fossem reais.

O resultado disso veio quando essas partículas virtuais fingindo serem reais colidiram, e produziram um par elétron-pósitron que os cientistas conseguiram detectar. Desta forma, eles foram bem-sucedidos em demonstrar a proposta de Breit-Wheeler.

Mais além, os níveis de energia medidos são consistentes com estimativas posicionadas pela equação de Einstein, ou seja, próximas de números que seriam atingidos por fótons de verdade. 

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