A Realme continua com a rápida expansão do seu portfolio no Brasil. Em 24 de agosto a empresa colocou no mercado, além de vários acessórios, o Realme 8 5G, que chega para ser o “smartphone 5G mais barato no mercado”.

Segundo Marcelo Sato, gerente de vendas da Realme no Brasil, o produto é importante na construção do portfolio 5G da marca no Brasil, já que demonstra que a empresa “acredita que ninguém precisa pagar uma pequena fortuna para ter acesso à tecnologia 5G”.

Visualmente, o Realme 8 5G parece uma mistura do Realme 8 Pro com o Realme C25 (dois aparelhos que já testamos antes aqui no Olhar Digital). A traseira tem um acabamento liso com visual perolado, com a logo da empresa no canto inferior esquerdo. O conjunto de câmeras, à primeira vista, parece o mesmo do 8 Pro, mas os mais atentos vão notar que o que parecem ser quatro lentes são, na verdade, três. 

Realme 8 5G: tela de 6,5″ e bateria de 5.000 mAh. Imagem: Rafael Rigues / Olhar Digital

A frente é dominada pelo painel LCD IPS de 6,5″, que tem resolução de 1080 x 2400 pixels e atualização a 90 Hz, o que dá mais suavidade na movimentação das imagens. A qualidade da imagem é boa e, se o usuário preferir, é possível reduzir a frequência de atualização da tela para 60 Hz, para economizar bateria. Não que isso seja necessário, como veremos mais adiante.

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Gostei bastante do leitor de impressões digitais integrado ao botão liga/desliga na lateral direita. Ele é rápido e fica em uma posição conveniente, como no Motorola Edge 20. E é muito mais preciso que o leitor sob a tela do Realme 8 Pro.

Entretanto, a Realme moveu os botões de volume para a lateral esquerda do aparelho, algo com o qual demorei um pouco a me acostumar. Ergonomicamente, a decisão faz sentido: não importa se você segura o smartphone com a mão esquerda ou direita, sempre vai ter um indicador e um polegar exatamente sobre o botão liga/desliga e os botões de volume, o que facilita o uso.

Na parte inferior do aparelho o usuário vai encontrar um alto-falante, com bom volume de som, a porta USB-C para recarga e transferência de dados e ele, o queridinho dos usuários, o conector para fones de ouvido. Obrigado, Realme!

Capinha translúcida e película já instalada sobre a tela estão inclusas na embalagem do Realme 8 5G: Imagem: Rafael Rigues / Olhar Digital

Falando em fones de ouvido, não há um par na caixa. Mas você vai encontrar lá dentro o aparelho (com película instalada sobre a tela), uma capa translúcida para protegê-lo, extrator de SIM Card, carregador rápido de 18 watts e cabo USB-C.

É um pacote bem completo, considerando que, na opinião de concorrentes como a Apple e a Samsung, nem sequer o carregador é “necessário”. 

O retorno do “bloatware”

O sistema operacional do Realme 8 5G é o Android 11 com a interface RealUI 2.0, da própria empresa. Um dos destaques do software é a capacidade de personalização da interface: há até uma “loja” onde o usuário pode baixar gratuitamente papéis de parede estáticos ou animados, fontes, ringtones de vídeo (animações que são mostradas quando o telefone toca), ícones ou temas completos.

Porém, mais uma vez a Realme cometeu o pecado capital de encher o aparelho de “bloatware”, aqueles programas pré-instalados que ninguém nunca usa e só servem para ocupar espaço na memória interna. 

Sei que a pré-instalação de apps é uma fonte de renda para os fabricantes, e que isso ajuda a subsidiar o custo de aparelhos mais acessíveis. E é compreensível pré-instalar apps como o Facebook e TikTok, algo que 90% dos usuários vão baixar de qualquer forma. Falando em TikTok, porque instalar duas versões dele? Sim, não se trata de um ícone duplicado na lista de apps, são duas versões diferentes: a 18.2.0 e a 20.9.3. 

Acredite, existem quatro lojas de aplicativos (destacadas em vermelho) na foto acima. Pra quê, Realme? Imagem: Rafael Rigues / Olhar Digital

São mais de 20 apps pré-instalados, e aqui não estou contando coisas úteis como relógio, calculadora ou assistente de migração de dados. Falo de apps como uma rede social parecida com o Instagram chamada 92, três lojas de jogos (HeyFun, Hot Games e Game Center), duas lojas de apps (App Market e Hot Apps), um pacote Office (WPS Office), um browser e um “shopping center” chamado Lazada, que nem sequer pode ser usado aqui no Brasil: todos os países listados na tela de seleção ao abrir o app são do sudeste asiático.

E o pior, nem todos podem ser desinstalados. Alguns só podem ser “desativados”: param de rodar, seu ícone some da lista de apps, mas eles continuam na memória interna do aparelho.

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Uma câmera pelo preço de três

O Realme 8 5G tem três câmeras na traseira: um sensor principal de 48 MP e dois sensores de 2 MP, um para fotos em macro e outro apenas para detecção de profundidade nas cenas, usado no modo retrato.

Não se engane: o quarto círculo na traseira (em destaque) é só uma logo, não é uma câmera. Imagem: Rafael Rigues / Olhar Digital

Mas este é mais um daqueles casos em que só uma das câmeras importa. E não, o quarto círculo no módulo de câmeras não é uma lente, é só uma logo para “harmonizar” o conjunto. 

Além da resolução baixa, a câmera macro sofre do mesmo problema encontrado no C25: ela tem foco fixo a 4 cm da lente. Se você conseguir acertar a distância exata entre o que quer fotografar e a lente, até que vai conseguir boas fotos.

Mas isso é difícil: deixe ela um pouquinho mais perto, ou mais longe, que isso e a nitidez vai embora. É um exercício em frustração. Dica para a Realme: que tal trocar a câmera macro por uma ultrawide, mais útil?

Resta a câmera principal de 48 MP, que no geral faz um bom trabalho. As fotos sob pouca luz (como cenas noturnas) não são ruins, mas tem um nível de ruído notável. Já as selfies noturnas, feitas com a câmera frontal de 16 MP são muito ruins pelo motivo inverso: a redução de ruído é agressiva demais, o que destrói os detalhes na imagem e deixa o rosto com aquela aparência de “boneco de cera”. 

Na gravação de vídeos, a resolução máxima é 1080p a 30 quadros por segundo (Full HD). Não é ruim, mas vale mencionar que a gravação de vídeo em 4K está se tornando algo comum mesmo em aparelhos numa faixa de preços semelhante, como o Moto G60. Também há um modo de câmera lenta a 240 quadros por segundo na resolução de 1280 x 720 pixels.

Dá pra jogar, mas não espere muito

Com processador MediaTek Dimensity 700 5G, 8 GB de RAM e 128 GB de memória interna, o Realme 8 5G tem um bom desempenho na maioria das tarefas do dia a dia, como era de se esperar.

Em jogos, a performance foi apenas aceitável. Bloodstained roda bem na qualidade média, mas a 30 FPS. Na verdade, ele até roda a 60 FPS, mas é possível ver perda constante de quadros, sinal de que a GPU não está conseguindo manter o ritmo.

Genshin Impact roda bem na qualidade gráfica baixa, ainda mais se você der uma “forcinha” e usar o Espaço de Jogos para colocar o desempenho em “Modo de Competição”. Entretanto, isso aumenta o consumo de bateria, e pode fazer o aparelho esquentar.

Vale mencionar o desempenho na emulação de consoles de videogame. Pela primeira vez vi um smartphone com processador MediaTek rodar o Citra, emulador de Nintendo 3DS, e o jogo Super Mario 3D Land a quase que 100% da velocidade original, fora uns engasgos aqui e ali. Entretanto, jogos mais complexos como Donkey Kong Country Returns ainda rodam na metade da velocidade, às vezes menos.

Isso porque o emulador é fortemente otimizado para as GPUs Adreno da Qualcomm, e para um bom desempenho é recomendado um smartphone com um chip Snapdragon 765 ou superior. O ideal é ter um Snapdragon da série 800.

Não se preocupe com a bateria

A autonomia de bateria de 5.000 mAh do Realme 8 5G é excelente, algo que já está se tornando uma marca registrada nos aparelhos da empresa (vide nossos reviews do Realme 8 Pro e Realme C25). 

No momento em que escrevo este artigo, o celular está há 34 horas fora da tomada. Deste tempo, 8h e 10 minutos foram com a tela ligada (uso ativo), sem contar a constante chegada de notificações mesmo quando o aparelho está parado sobre a mesa. E ele ainda tem 21% de carga restante, o suficiente para 5h e 27 minutos (segundo estimativa do sistema).

A autonomia de bateria do Realme 8 5G é excepcional. Imagem: Rafael Rigues / Olhar Digital

Se eu estiver disposto a ativar o “modo de supereconomia de energia”, que reduz o desempenho do sistema e o número de apps que podem ser executados por vez, posso esticar esse tempo para 9 horas. Um resultado muito impressionante.

Em jogos, a autonomia também agradou: jogando o já mencionado Bloodstained, o consumo de eenrgia foi de 10% por hora, ou seja, uma autonomia de quase 10 horas de jogo com uma carga completa.

Entretanto, o carregador “rápido” de 18 Watts incluso na embalagem não é tão ligeiro quanto o nome sugere: são necessários 30 minutos para chegar aos 34% de carga, 90 minutos para 90%, e 115 minutos para uma carga completa. 

Você quer 5G ou recursos extras?

O principal atrativo do Realme 8 5G é justamente o que “complica” sua situação. Sim, ele é um dos smartphones 5G mais baratos no mercado, mas a pergunta é: o quão importante é o 5G para você?

Hoje sequer temos “5G de verdade” em operação no Brasil: as redes atuais usam a tecnologia DSS, uma espécie de intermediária entre o 4G e o 5G. Mais rápidas que o 4G, porém ainda longe de tudo o que o 5G pode oferecer. E não temos uma perspectiva de quando essa situação vai mudar, já que o leilão de frequências para as novas redes, que deve ser realizado pela Anatel, nem sequer tem data para acontecer.

Até lá, se você abrir mão do 5G pode encontrar aparelhos com configuração similar, como o Realme 7, ou superior, como o Moto G60 (com tela maior, câmeras melhores, bateria com maior capacidade e carregamento mais rápido), pelo mesmo preço, ou até menos.

Nesses tempos bicudos em que cada centavo conta, eu prefiro esperar e economizar. E vocês?

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