Em 2018, astrônomos descobriram um evento conhecido como “FRB” – ou “disparo rápido de rádio”, na sigla em inglês -, que pensaram ser emitido por um sistema de estrelas binário. Entretanto, um novo estudo publicado na Nature descartou essa ideia, descartou essa possibilidade, admitindo em seu lugar algo ainda mais raro.

O chamado “FRB 20180916B” emite os sinais de rádio uma vez a cada 16 dias, e segundo a pesquisadora Inés Pastor-Marazuela, uma astrofísica da Universidade de Amsterdã, o emissor destes sinais pode ser um magnetar, um tipo muito raro de estrela de nêutrons, tida como o ímã mais poderoso do universo.

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À esquerda, as luzes azuis do “FRB 20180916B”, e à direita, as luzes vermelhas, mais numerosas. Essa disposição refuta pesquisas anteriores de que o disparo rápido de rádio vinha de um sistema de estrelas binário. Imagem: Universidade de Amsterdã/Divulgação

Antigamente, pensava-se no sistema binário – um onde uma estrela age em conjunto com outra estrela – pelo seu efeito “na cor” dos sinais de rádio, de acordo com as suas frequências: no que tange à luz visível, ondas mais curtas são azuis, enquanto ondas mais longas são vermelhas.

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Se a fonte dos sinais emitidos pelo “FRB 20180916B” fosse um sistema de estrelas binário, a expectativa de pesquisas anteriores era a de que poderosos ventos estelares carregados de partículas energéticas deveriam deixar escapar mais luz azul e, ao mesmo tempo, bloquear mais ou toda a luz vermelha.

“Esses modelos pareciam ser os cenários mais prováveis antes do nosso estudo”, disse Pastor-Marazuela, que, junto de sua equipe, decidiu colocar essa tese à prova, combinando análises de dois dos maiores telescópios do mundo – o LOFAR (Low-Frequency Array) e o WSRT (Westerbork Synthesis Radio Telescope), ambos localizados na Holanda. Com um, eles programaram análises de luz azul, enquanto o outro verificou a luz vermelha, mas ambos estavam operando ao mesmo tempo.

O resultado: dois dias de luz azul, e três dias de luz vermelha, desmentindo pesquisas anteriores por completo já que a observação descartava a hipótese de um sistema de estrelas binário.

Um magnetar, porém, caberia dentro da observação, de acordo com Pastor-Marazuela. Só há um problema com essa hipótese: historicamente, os magnetares são conhecidos por seus giros numerosos, graças a uma velocidade avançada de rotação. Um objeto desse tipo, emitindo sinais a cada 16 dias, implicaria em uma rotação consideravelmente lenta – algo inédito até hoje.

Estudar os FRBs é uma parte importante da astronomia: a grosso modo, um único disparo deles consegue dispensar mais energia em milésimos de segundo do que o Sol faria em um século. Entretanto, o nome “disparo rápido” não vem à toa: eles ocorrem e somem, literalmente, em um piscar de olhos. Então nosso conhecimento sobre eles é bem raso.

A natureza cíclica do “FRB 20180916B”, no entanto, nos dá um espaço maior para observarmos e estudarmos o fenômeno, e o novo estudo sugere que alguns desses disparos possam ser livres de qualquer material nas proximidades, como uma nuvem densa de elétrons, que poderia ofuscar as cores observadas. Sinais tão puros podem ajudar pesquisadores com uma dor de cabeça científica que existe há tempos: a localização de metade da matéria bariônica do universo.

“Bariônica”, vale lembrar, é a matéria observável do espaço. Feita de partículas chamadas “bárions”, é ela quem faz estrelas, planetas e galáxias. Entretanto, apenas cerca de 50% dela foi observada por nós até hoje. Os FRBs, argumentam os cientistas, podem ajudar nisso: conforme os sinais passam por nuvens de matéria bariônica, especula-se que as luzes azuis fiquem mais presas que as vermelhas.

Ao avaliar a diferença de tempo com o que as luzes vermelhas e azuis chegam na Terra, é possível estimar por quantas nuvens bariônicas os FRBs passaram em seu caminho.

O estudo está sendo avaliado pelos seus congêneres para confirmação da hipótese.

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