Em janeiro de 2019, o rompimento da barragem B1 da Vale, na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), provocou uma avalanche de rejeitos de mineração que causou 270 mortes, além da destruição de comunidades, devastação ambiental e poluição do Rio Paraopeba. Até hoje, dez pessoas ainda continuam desaparecidas. 

Agora, dois anos após a tragédia, animais silvestres afugentados pelo desmoronamento estão retornando à região, seu habitat original. 

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Segundo a Vale, 50 dispositivos de captura de imagens e calor, posicionados em pontos estratégicos, já identificaram animais diversos transitando novamente pela área, tais como jaguatiricas, tamanduás-bandeiras, pacas e tucanos.

Áreas reflorestadas e dispositivos para uso animal instalados na região afetada

De acordo com reportagem da Agência Brasil, ao todo, mais de 12 hectares de locais diretamente impactados e áreas protegidas (Reserva Legal e Área de Preservação Permanente/APP) já foram reflorestados. 

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Além disso, foram instalados 11 poleiros e 8 abrigos artificiais em uma área de 3,33 hectares, bem como 36 bebedouros para uso animal nos arredores da região impactada. 

Quatis bebendo água em um dos 36 bebedouros instalados no local. Imagem: Vale

Segundo a analista ambiental da Vale e doutora em comportamento animal, Cristiane Cäsar, várias atividades de manejo e reflorestamento estão sendo realizadas na região desde o rompimento da barragem, assim que as áreas são liberadas pelo Corpo de Bombeiros.

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“Registramos diferentes tipos de animais logo depois do rompimento, com uma abundância menor. Mas os resultados que temos agora foram especificamente entre 2020 e 2021, quando fizemos um monitoramento com câmeras em armadilhas fotográficas que fazem o registro de vários desses animais – que são mais difíceis de serem registrados de outra forma”, argumentou Cristiane.

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Até animais ameaçados de extinção foram vistos em Brumadinho

Composta por botânicos, agrônomos e engenheiros florestais, a equipe trabalha na parte de reflorestamento – desde o processo de contenção da área para não acontecer erosão até o plantio de mudas de plantas de árvores da própria região. 

Animais ameaçados de extinção, como a onça parda acima, foram vistos em Brumadinho. Imagem: Vale

De acordo com a analista ambiental, já foram identificados até animais ameaçados de extinção, como onça parda, jaguatirica e gato do mato. Também foram identificadas espécies de mamíferos consideradas dispersoras de sementes, como quatis e cachorros do mato.

“Esses animais são importantes porque consomem os frutos de uma região já florestada e quando eles estão transitando em diferentes áreas, já começamos a contar que a área está em recuperação, eles levam esse material com eles propiciando a germinação da semente, que vem nas fezes desses animais”, explicou Cristiane.

Ela diz que a polinização de plantas e a dispersão das sementes são importantes processos resultantes da interação entre animais e plantas. 

Na dinâmica natural das florestas, a polinização é um dos mecanismos essenciais para o funcionamento dos ecossistemas e manutenção da biodiversidade. Já a dispersão de sementes determina a diversidade, abundância e distribuição das espécies de plantas e é feita por insetos, aves e mamíferos.

O retorno dos animais, segundo Cristiane, é um processo natural. “A natureza se reestabelece normalmente, mas ficamos bem satisfeitos de ter visto que as ações que fazemos de recuperação para as áreas isoladas ou interrompidas pelo rejeito, elas possam se recuperar”, diz a bióloga. “Quando começamos a ver a fauna utilizando essas áreas em recuperação, como pontes construídas para que os animais pudessem passar de um lado para o outro, a gente começa a ver que o trabalho que vem sendo feito tem resultados e vale a pena”. 

Monitoramento dos efeitos do rompimento da barragem

Adriano Taglia, professor de ecologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), integra a equipe que monitora os efeitos do rompimento da barragem sobre a biodiversidade e as ações de restauração na região. 

Ele explica que o programa avalia como essas ações estão contribuindo para o retorno das condições adequadas para fauna e flora da região que foi impactada pela tragédia, além de monitorar se os animais já estão, de fato, repovoando a região impactada.

“A restauração da área que foi impactada começou há pouco tempo e não é toda área que está sendo recuperada porque ainda tem muito rejeito na parte do ribeirão que foi atingido, mesmo porque ainda há ações de buscas por desaparecidos naquela região. Então, tem algumas áreas que não podem ser alvo do processo de restauração ambiental”, afirmou.

Segundo o professor, o processo de restauração da floresta é longo. “Deve demorar cerca de uns 10 anos para começarmos a ver a região com aspecto mesmo de floresta. Durante esse período, as condições ambientais vão melhorando e isso faz com que a fauna comece a repovoar a região que foi atingida”, disse.  

“A presença de animais ameaçados de extinção na região nos indica que o ambiente está no processo de melhoria. O que a gente ainda não sabe é se esses animais estão passando por ali, transitando, ou se o ambiente vai ser capaz de suportar populações dessas espécies. Por isso, é importante continuar monitorando ao longo do tempo para poder acompanhar esse processo pela área”, acrescentou.

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