Além de beneficiar as práticas de controle da Covid-19, os lockdowns também ajudaram nas mudanças de habitats de pássaros, segundo um novo estudo da Universidade de Manitoba. Pelo paper, entre março e maio de 2020, espécies variadas dos animais se tornaram mais abundantes em áreas urbanas, onde raramente eram vistos em condições normais.

Segundo Michael Schrimpf, biólogo e um dos autores do estudo, a redução no tráfego humano fez com que áreas urbanas densamente ocupadas se esvaziassem rapidamente, abrindo espaço para que cerca de 80% das espécies de pássaros comuns a ambientes urbanos mudassem seus habitats.

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Imagem mostra uma águia-de-cabeça-branca, que se beneficiou dos lockdowns promovidos nos EUA assim como pássaros em outros países
Pássaros como a águia-de-cabeça-branca, que normalmente evitam humanos, foram vistos com maior frequência em ambientes urbanos, graças aos lockdowns contra a Covid-19, visto em vários países (Imagem: Butler Stock Photography/Shutterstock)

De acordo com a documentação, que comparou o primeiro trimestre da pandemia – onde as restrições foram mais pesadas – com o mesmo período em 2019 e 2018, concluindo que pássaros como águias-de-cabeça-branca foram 17% mais vistos em cidades onde o tráfego de carros foi reduzido devido aos lockdowns. Paralelamente, beija-flores-de-pescoço-vermelho eram 10% mais presentes em aeroportos. Ambos os casos significam que os animais expandiram seus habitats como forma de aproveitar a ausência do homem.

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“Essas são mudanças muito, muito significativas”, disse Nicola Koper, um biólogo especializado na conservação animal na universidade, e co-autor do estudo. “Esses são, provavelmente, os mais fortes impactos que eu já vi”.

A fim de evitar erros estatísticos, o trabalho dos pesquisadores foi bastante detalhista, sobretudo no que tange a eliminar possíveis vieses e interferências. Por exemplo, o estudo descartou completamente dados vindos de observadores amadores, e também desconsiderou casos onde os pássaros eram apenas mais reconhecidos pelos seus cantos, uma vez que não precisavam competir com motores de carros ou barulhos de cidades.

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O estudo aponta que as espécies migratórias foram as maiores beneficiadas. Isso porque, com a ausência do elemento humano nas proximidades, pássaros que fazem ciclos de grandes viagens passaram a contar com mais “paradas de descanso” – algo importante para eles. 

Houve também alterações curiosas de padrão de comportamento em alguns casos: miotos-da-Jamaica (conhecidos também como ”falcões da cauda vermelha”) não eram muito vistos em ninhos próximos de áreas urbanas, mas eram frequentemente encontrados próximos de rodovias. Com os lockdowns, a situação se inverteu: os pássaros construíram mais ninhos nas cidades, e abandonaram estradas – provavelmente porque a ausência de carros resultou em menos acidentes com animais mortos e, consequentemente, menos comida para os falcões.

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O estudo ainda não conseguiu determinar se essas mudanças foram desencadeadas pela redução de barulho, menos interações nocivas com humanos (impactos contra carros, janelas de vidro e afins) ou se há algum fator que eles ainda não conseguiram enxergar. Os autores prometem expandir as pesquisas para descobrir isso, além de também determinar qual foi o impacto da volta dos lockdowns nas populações de pássaros beneficiadas.

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