Um peixe que já é conhecido pelo homem há anos e, inclusive, vem sendo usado em diversos estudos científicos, finalmente recebeu uma classificação de espécie para chamar de sua: o Danionella cerebrum, reconhecido pela sua cabeça com o cérebro exposto, é figura constante em estudos voltados à neurociência.

Eles não são muito maiores que a unha da sua mão e, na natureza, são facilmente encontrados nas águas do nordeste da Índia e Mianmar (antiga Burma). “Eles são peixes muito importantes em termos de inovação científica”, disse Kevin Conway, professor associado do Departamento de Ecologia e Conservação da Universidade Texas A&M. “Foi uma surpresa, mas uma surpresa importante para a ciência e para dar a esse peixinho o crédito que ele merece”.

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O Danionelle cerebrum, nova espécie de peixe que não é tão nova assim, já que vinha sendo usada informalmente em estudos de neurociência
O Danionelle cerebrum, nova espécie de peixe que não é tão nova assim, já que vinha sendo usada informalmente em estudos de neurociência (Imagem: Ralf Britz/Museu Senckenberg de Coleções Naturais de Dresden)

Uma das razões pela demora em reconhecer o sucesso do peixe se deu pelo fato de ele ser bem parecido com outra espécie: a Danionella translucida, assim nomeada na década de 1980, tem um tamanho bastante similar e também traz um corpo translúcido. Foi necessária a percepção de Ralf Britz, no Museu Senckenberg de Coleções Naturais de Dresden, na Alemanha, para enxergar algumas diferenças fundamentais entre ambas as espécies – o cérebro exposto é uma dessas disparidades, mas não é a única.

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Depois de ampla análise, descobriu-se que cerebum e translucida, embora pertençam ao mesmo gênero biológico, são primos bem mais distantes do que se pensava. Mas esse conhecimento só veio após estudos feitos no DNA dos dois animais: “mesmo sob o microscópio, eles são quase idênticos”, disse Conway. “Mas há v[arios detalhes internos que comprovam que eles são espécies diferentes”.

Marcar o peixe em questão em uma classificação própria de espécie traz implicações positivas aos estudos neurocientíficos: olhando para o passado e para o futuro, agora será mais fácil atribuir a ele certos sucessos do campo, ampliando o interesse dele como figura de pesquisa em outros trabalhos do gênero.

Principalmente porque cientistas já identificaram padrões complexos de comportamento cerebral vindos do Danionella Cerebrum, ligados a comandos cerebrais: essa espécie consegue estabelecer comunicação visual identitária (ou seja, ele consegue reconhecer individualmente um peixe que enxerga com seus olhos), além de emitir um som similar a uma batida quando machos da espécie querem se comunicar. Esses são parâmetros ligados à configuração do cérebro, e estudar isso nos dá uma ideia do funcionamento de processos similares em humanos.

“Eles começaram como um modelo para neurocientistas porque têm corpos muito simples, mas exibem comportamentos complexos e oferecem aos pesquisadores a capacidade de estudar localmente a conexão entre atividade cerebral e ação, algo não muito fácil de fazer”, disse Conway. “Ainda não chegamos na aplicação humana desses estudos, mas é possível imaginar o papel importante que esse peixinho desempenha na nossa compreensão de como o cérebro adulto vertebrado funciona”.

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