Com a vida sendo aos poucos retomada com a flexibilização das restrições causadas pela Covid-19, entusiastas da vida fitness (e mesmo quem apenas quer começar nela) se reencontraram com pistas públicas de corrida e esteiras de academia. Com isso, o volume de consumo de dispositivos inteligentes como o Ignite 2, o smartwatch da Polar, aumentou consideravelmente.

Segundo o Statista, líderes de mercado, como o Apple Watch e GT, que venderam, respectivamente, 28,4 milhões e 8,7 milhões de unidades em 2020, atingiram a marca de 33,9 milhões e 11,1 milhões em 2021. No caso da Apple, esse número ainda nem representa o recém revelado Apple Watch Series 7, que a “Maçã” mostrou neste mês.

Entretanto, “aumento de interesse público” nem sempre se traduz em “qualidade técnica”, e por mais recursos que o Ignite 2 da Polar apresente – e acredite, são vários -, alguns problemas acabam minando a experiência e trazendo um sabor amargo ao paladar de quem pagou o preço sugerido do produto.

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O smartwatch Ignite 2, da Polar, é mostrado estendido sobre uma mesa com pano vermelho
O Ignite 2, smartwatch da Polar, se apresenta como opção para quem quer começar a vida mais ativa, mas com opções mais aprofundadas que os modelos de base mais comuns do setor (Imagem: Rafael Arbulu/Olhar Digital)

Começando pelo design, a Polar apostou em um visual arrojado, refinado. Esqueça o corpo agressivo natural de um “G-SHOCK” (Casio) da vida: seja no ambiente esportivo ou em situações do dia a dia, o Ignite 2 é exibido como um acessório casual, bem agradável aos olhos.

O mesmo pode ser dito do conforto: a pulseira de silicone é intercambiável e traz várias possibilidades de personalização, cortesia das cores padronizadas de comércio do aparelho: dourado-champagne, azul-escuro (versão usada por mim, e que, sinceramente, não é tão escuro assim), rosa com rosê-gold e, finalmente, preto-perolado.

Aqui, porém, entra a primeira ressalva: a pintura do relógio sai com certa facilidade, ficando desgastada à menor fricção (em alguns pontos, o nosso modelo saiu do azul para o primer – o branco que serve de base para qualquer pintura). Antes que isso seja atribuído ao “mau uso”, lembre-se: estamos falando de um smartwatch para ser usado de forma ativa. Evidentemente, não esfregamos o acessório em uma parede chapiscada, mas o mero ato de suar em cima dele ou usá-lo com uma blusa mais grossa de mangas longas já causou esse efeito.

Não sei dizer se isso foi azar do “nosso” modelo de testes ou se isso se traduz no produto de forma massificada, mas foi algo que não agradou muito. Felizmente, segundo o site oficial, a customização do aparelho, bastante encorajada, parece ser simples de se executar, então pode ser que você não se importe muito com isso.

O Ignite 2, smartwatch da Polar, é exibido no pulso de um usuário, com seu display iluminando as horas do dia, o nível de bateria e batimentos cardíacos
Com uma vasta gama de recursos e relatórios de desempenho que conversam entre si, o Ignite 2 é bem poderoso na entrega de suas melhores qualidades, mas peca na qualidade técnica, com display pouco responsivo e problemas com sensores (Imagem: Rafael Arbulu/Olhar Digital)

Essa mesma customização, aliás, se traduz na “face” do relógio: quando você o liga e termina sua (longa, tediosa e incrivelmente lenta – mais sobre isso abaixo) configuração, uma navegação rápida permite que você escolha o formato de exibição das horas (formato analógico ou digital), previsão de tempo, qual parâmetro será mostrado com a tela ativa (batimentos cardíacos, nível de oxigenação sanguínea etc.) ou mesmo o seu medidor específico de qualidade de sono.

Especificamente nessa parte, não há o que criticar: a Polar mostrou dedicação em colocar todas as opções do Ignite 2 como destaque, facilitando a sua chegada neles sem muitos caminhos.

E “opções”, aqui, são numerosas: não falamos apenas do volume de treinos reconhecidos pelo sistema (que são muitos, mas nada diferente do que se vê na maioria dos modelos do mercado), mas sim da forma como os dados coletados a partir deles se cruzam. Por meio do aplicativo dedicado de smartphones, a Polar criou um formato de relatório de caráter diário, semanal e mensal, onde todos os treinos conversam entre si, e lhe oferecem um panorama de saúde bastante detalhado, mesmo na versão mais simples dos relatórios.

Durante o meu uso, por exemplo: eu dediquei segundas, quartas e sextas-feiras para levantamento de peso e treinos de força, com terças e quintas-feiras voltados à corrida. Ao longo de uma semana, o Ignite 2 da Polar me mostrava não apenas o meu desempenho em cada um, mas como o treino do dia anterior influenciava na atividade do dia atual, além de me informar como o meu sono antes de cada treino poderia impactar minha performance (especialmente, quando eu inventava de correr com dores um dia depois do famigerado “leg day”).

São informações que não iniciados na vida de exercícios físicos terão um pouco de dificuldade em interpretar, já que muitos dos dados exibidos são bem técnicos – eu mesmo precisei consultar um amigo que é educador físico e técnico de bodybuilders para entender o que eram e o que significavam alguns termos. Mas isso não é uma crítica: na verdade, a ideia de colocar “algumas” informações técnicas dentro de um relatório mais básico serviu para me incentivar a pesquisar mais.

É meio que uma “gamificação” dos exercícios físicos, onde você tem metas diárias, semanais e mensais, mas algumas estratégias só lhe são conhecidas depois de um estudo e um pouco de prática – como um tutorial de um videogame, onde o jogo lhe ensina os movimentos básicos, mas você eventualmente descobre formas inovadores de aplicá-los. A experiência, assim, ficou bem divertida.

Minha única crítica aqui é a falta disso ser exibido no relógio: por relatórios assim dependerem do smartphone (que nem sempre é algo confortável de se ter pulando nos bolsos durante uma corrida, por exemplo), essa sinergia entre os dois aparelhos acabava atrapalhando um pouco em certos momentos.

Aliás, um adendo estranho, porém bom: o Ignite 2 reconhece exercícios de peso corporal (aqueles que você faz sem equipamento algum) com extrema precisão. Entretanto, nenhuma peça de comunicação da Polar – site oficial ou releases que recebemos da empresa – menciona isso. Em tempos de pandemia e com muita gente sem equipamento de treino em casa, isso me pareceu…esquisito. Por que não apostar nessa qualidade – especialmente com diversos fitness trackers que prometem, mas não entregam essa qualidade?

Em outros recursos, você consegue conectar o smartwatch da Polar em diversos equipamentos com suporte à tecnologia bluetooth, ampliando sua capacidade analítica. Finalmente, controles de mídia permitem que você ajuste a sua playlist favorita de treinos.

O carregador magnético do Ignite 2, smartwatch da Polar: relógio vai bem de bateria, durando cerca de quatro dias em grau baixo de atividade (Imagem: Rafael Arbulu/Olhar Digital)

Agora, entrando nos aspectos técnicos da coisa, o Ignite 2 não traz uma experiência muito agradável: embora a navegação seja simples, ela é relativamente lenta, cortesia de um display sensível ao toque com baixa responsividade – em alguns casos, o tempo entre o toque e a execução do comando passava de três segundos.

E não é como se a exibição na tela trouxesse elementos pesados: 90% disso consiste de fundo preto com fontes brancas. O máximo que vi nesse departamento foram algumas GIFs animadas que demonstravam os movimentos de alguns exercícios – e mesmo assim, não pareceu ser muito pesado.

Outro problema do display é a ausência de uma função onde ele ficasse sempre acionado. Está claro que a Polar preferiu esse parâmetro no intuito de economizar o consumo de bateria (o Ignite 2 vai bem nesse aspecto). Isso porque, na teoria, o aparelho reconhece o movimento que você faz quando gira o pulso para ver as horas, e acende o display automaticamente diante disso.

“Na teoria”, porque, na prática, isso nem sempre funcionava. Os sensores do Ignite 2 não são dos mais precisos, e você vai se pegar acionando funções repetidas vezes, dependendo do que procura. É estranho falar isso depois de elogiarmos os relatórios exatos de exercícios que o relógio entrega (que derivam desses mesmos sensores), mas funções mais estáticas acabaram pecando um pouco (um “teste fitness” mais generalizado, por exemplo, requer que você deite e relaxe por uns dois ou três minutos, apenas para falhar quando chega entre 50% e 70% de prontidão – a nossa solução para isso foi “enforcar” o pulso de leve, o que tira o conforto).

Isso, sem falar da configuração do aparelho: você passa por todo o básico visto em quase todo smartwatch por aí, ou seja, você cria um perfil em uma plataforma fitness, oferece alguns dados básicos para uma análise preliminar, conecta o relógio com o celular em app dedicado via bluetooth e deixa ele começar a trabalhar. Simples, porém demorado. Demais.

Só a conexão entre smartwatch e smartphone leva em torno de dois a três minutos – toda vez que você precisar sincronizar informações. Sim, porque “fechou o app, fechou a conexão”, e abri-lo de novo resultará em uma nova sincronização – mesmo que você não tenha feito nada que mereça um novo registro. Atualizações de firmware (passamos por duas em nosso tempo com o aparelho) também tendem a demorar bastante, e uma delas se fez necessária logo na primeira configuração.

Finalmente, no que tange à bateria, somos “só elogios”: não que ela dure muito mais do que a maioria dos modelos de mercado – na verdade, ela está na média -, mas a recarga dela é bastante rápida, para uma perda bem minimizada: em algumas ocasiões, fomos de 8% a 100% em pouco mais de 40 minutos, e a duração dela sem exercícios (onde há gravações armazenadas e todos os sensores trabalhando em conjunto), passou perto de 100 horas de uso – coisa de quatro dias, em média.

Mas afinal, o Ignite 2 vale a pena?

Não. E, de novo, sabemos o quanto estamos sendo elogiosos como Ignite 2 da Polar, mas o ponto fora da curva (negativamente falando) é o preço. Ou “os preços”: esse smartwatch, segundo o site oficial da empresa, tem preço sugerido de R$ 2.449. Por esse valor, você consegue comprar um Galaxy Watch4 (Samsung), que tem vários modelos e várias faixas de preço, indo de R$ 2.000 a R$ 3.000, dependendo da versão – e todos eles são relativamente melhores produtos.

Isso também se estende às pulseiras: apesar do site oficial do Ignite 2 dedicar boa parte da página às customizações visuais, a pulseira mais barata que vimos lá sai por R$ 179 (um modelo de nylon), enquanto a mais cara (com detalhes em cristal), fica por R$ 499.

Considerando que o Polar Ignite 2 é um modelo mais generalista, destinado a quem quer começar na prática de exercícios, mas busca algo mais robusto do que as opções de base, esses preços, aliados às ressalvas que apontamos aqui, podem acabar minando o interesse do usuário com certa velocidade. No Olhar Digital, a impressão que ele deixou foi “gostei, mas ainda bem que não paguei”.

Tomara que, no futuro, essa realidade muda: com a Black Friday chegando, é certo que promoções desse tipo de produto apareçam. Dentro desse panorama, o Ignite 2 pode ser uma opção viável, se você estiver com disposição para ignorar seus percalços.

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