Existe uma Política de Proteção Planetária que estabelece normas de higiene em relação a espaçonaves e objetos que transitam de um planeta a outro. Um relatório divulgado na quinta-feira (7) atualiza as medidas em relação a Marte, e define que os robôs que trabalham nas missões no Planeta Vermelho não necessitam de procedimentos tão rigorosos.

Quem assina o documento são 15 membros das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA, que fizeram o estudo a pedido da Nasa.

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De acordo com o site Space, os procedimentos de proteção planetária visam garantir que os germes da Terra não estabeleçam uma base em outros mundos e vice-versa. Desde a década de 1980, em nome da prevenção de tal invasão, espaçonaves com destino a lugares que os cientistas acham que podem ser hospitaleiros para a vida como a conhecemos, devem passar por processos de higienização rigorosos antes de decolar. 

Engenheiros vestidos com trajes de proteção inspecionam o rover Perseverance em uma sala de higienização, em 2019, antes de a espaçonave ser lançada a Marte. Imagem: NASA / JPL-Caltech

“Mudanças nas políticas de proteção planetária devem ser consideradas no contexto de quanto a ciência aprendeu nos últimos anos sobre Marte”, disse Amanda Hendrix, cientista sênior do Instituto de Ciência Planetária e copresidente do comitê que escreveu o relatório.

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Segundo os cientistas responsáveis pelo relatório, a chegada de organismos terrestres em Marte não deve gerar preocupação. A equipe se concentrou na possibilidade de que os organismos da Terra pudessem se estabelecer de uma forma que pudesse interferir na busca de vida em Marte e no estudo de qualquer vida encontrada.

Regiões específicas de Marte são mais propensas à contaminação

Devido às missões realizadas em Marte, já se sabe que é um planeta caracterizado por dramáticas oscilações de temperatura, escassez de água líquida e um ataque violento de radiação ultravioleta e partículas de alta energia (raios cósmicos galácticos).

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“Por causa desse conhecimento aprimorado, a Nasa agora tem a oportunidade de adotar uma abordagem mais matizada e, em alguns casos, mais permissiva para reduzir os requisitos de biocarga em certas missões”, disse Hendrix. “No entanto, ainda se justifica cautela porque temos muito ainda que aprender sobre Marte e sobre a capacidade de sobrevivência da vida terrestre”.

Apesar do ambiente hostil de Marte, há alguns lugares no Planeta Vermelho onde micróbios provenientes da Terra poderiam se sentir confortáveis, segundo os cientistas – por exemplo, em uma caverna subterrânea úmida protegida da radiação ultravioleta que queimaria a vida terrestre na superfície de Marte. 

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A superfície profunda de Marte, mais de 1 metro abaixo da crosta, também pode ser um bom ambiente para micro-organismos viajantes que procuram sobreviver.

“Com isso em mente, as diretrizes de proteção planetária precisam continuar evitando que tal cenário se desenvolva”, conclui o relatório. 

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Assim, as naves espaciais que se aventuram dentro de cavernas ou perfurando profundamente abaixo da superfície ainda precisam ser extremamente higienizadas, de acordo com o documento. 

E essas áreas sensíveis também precisam de “zonas tampão” ao seu redor para evitar que microorganismos terrestres as alcancem por acaso ou em uma rajada de vento.

Existem outros locais que os cientistas querem ter certeza de manter intactos também, como as calotas polares nos pólos marcianos e características conhecidas como linhas de declive recorrentes, que podem ser formadas por água e em qualquer lugar onde haja metano – uma substância química intrigante para os especialistas de Marte.

Portanto, embora algumas espaçonaves não precisem passar por protocolos de limpeza tão rígidos, as diretrizes de proteção planetária não vão desaparecer tão cedo, e os cientistas precisarão continuar avaliando o equilíbrio entre explorar mais facilmente e arriscar um desastre.

Atualização da Política de Proteção Planetária reflete melhor o risco real

“As medidas de proteção planetária devem ter como objetivo reduzir os riscos e, ao mesmo tempo, preservar, na medida do possível, a perspectiva de que objetivos científicos importantes possam ser realizados”, disse Joseph Alexander, consultor de política espacial e copresidente do comitê.

“O cenário da proteção planetária está se modificando muito rápido”, disse Thomas Zurbuchen, administrador associado da Diretoria de Missão Científica da Nasa. “Queremos estar preparados neste novo ambiente com políticas pensadas e práticas que possibilitem descobertas científicas e preservem a integridade de nosso planeta e dos lugares que visitamos”.

O novo relatório destaca os desafios de trabalhar dentro dos requisitos atuais de proteção planetária, que são baseados na contagem máxima permitida de esporos. Essas contagens são desenvolvidas calculando-se o número de esporos em uma seção específica da espaçonave, assumindo então que o resto da espaçonave é semelhante.

De acordo com os cientistas do comitê responsável pelo novo relatório, as técnicas mais recentes podem refletir melhor o risco real.

O relatório também trata de duas áreas onde as diretrizes de proteção planetária ainda nem existem: missões humanas a Marte e missões comerciais a Marte que não incluem qualquer envolvimento da Nasa.

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