Uma semana após o término de ‘What If …?‘, animação nem tão antológica do Marvel Studios para o Disney+ que mostra caminhos diferentes nas histórias de personagens famosos do Universo Cinematográfico (MCU), o Olhar Digital conversou de forma exclusiva com a brasileira que trabalhou com o estúdio na produção, Isadora “Brisa” Pinotti.

Natural de Cuiabá (Mato Grosso), mas segundo ela “perdida” em São Paulo muito por conta dos estudos, a rigger revelou que chegou até à Marvel em 2020 graças aos amigos, contatos e networking da área, que a guiaram até à Stellar Creativer Lab, produtora de animação atende o estúdio. Uma troca de e-mails certeira foi a ação responsável para que a profissional fosse contratada e começasse a, enfim, trabalhar em uma “produção tão grandiosa como essa”.

“Foi muito emocionante ver o e-mail pela primeira vez, de ver que era um estúdio gringo que estava conversando comigo mostrando todos os projetos da casa e, depois, eu vejo: ‘ah, você vai trabalhar no projeto da Marvel’. Eu estava: ‘é sério isso?'”, detalhou “Brisa” sobre o quão surpresa ficou ao receber o convite de trabalhar em ‘What If…?’.

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A brasileira Isadora “Brisa” Pinotti fez parte da produção da série ‘What If…?’, do Marvel Studios. Imagem: Instagram/Reprodução

Para quem não está familiarizado, o rigging é uma técnica de animação em 3D para adicionar movimentos aos personagens. O processo consiste na construção quase literal de “ossos” para simular a estruturação de um corpo e, posteriormente, articulações que servirão como uma espécie de controle de movimentação por meio de softwares.

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Em meio à pandemia de Covid-19, “Brisa” precisou trabalhar de forma remota, mas admite ter tido todo o suporte desde o começo das operações – ainda mais porque o Marvel Studios queria, ao máximo, evitar vazamentos sobre o projeto. “Uma das maiores dificuldades foi a de eu trabalhar aqui no Brasil para eles, lá no Canadá. A gente precisava fazer isso acontecer com todo o cuidado possível, para não vazar as coisas e dentro de toda uma segurança”.

Por toda a questão de sigilo extremo e “segredos a todo custo”, “Brisa” revela que a Marvel providenciava o trabalho dela e da equipe de pouco a pouco, justamente por conta de segurança. “A gente só sabe com aquilo que vamos trabalhar. Para nós, é importante saber o que vai acontecer em toda a animação, mas a gente só recebia o animatic (storyboard animado) e é isso”, declarou a rigger – que, mesmo estando no projeto, não tomou spoilers antes da hora.

“Na hora que você está montando [a animação], que você está soltando pedacinho por pedacinho do que você está fazendo, você não consegue montar tudo, principalmente poque fizemos apenas algumas sequências. Então, a gente não viu o episódio até ele ser lançado“, revelou a profissional, que brincou com o fato de “não entender” nada da história de ‘What If…?’ que ela mesmo estava produzindo. “Pensa na loucura que foi. Segredo atrás de segredo”.

Brasileira trabalhou em um episódio de ‘What If…?’, mas no melhor!

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Brasileira trabalhou no melhor episódio de ‘What If…?’, protagonizado por Ultron. Imagem: Marvel Studios/Divulgação

A brasileira contou ao Olhar Digital que trabalhou somente no oitavo e penúltimo episódio de ‘What If…?, batizado de ‘O Que Aconteceria Se… Ultron Tivesse Vencido?’. O capítulo em questão foi extremamente elogiado pelo público e mídia especializada como o melhor de toda a produção. O site IMDB, base de dados online de informação sobre cinema e TV, classifica-o como mais bem avaliado pela crítica, com uma nota de 9.2/10.

“Trabalhei em algumas sequências, não no episódio completo. A gente trabalhou, aproximadamente, nos primeiros nove minutos de episódio”, explicou “Brisa”. Na trama do capítulo em questão, os eventos de ‘Vingadores: Era de Ultron’ (2015) são ignorados e mostra o apocalíptico cenário decorrente do que aconteceria se o vilão do filme (Ross Marquand) conseguisse vencer o grupo de heróis e se apossasse do corpo de Visão (Paul Bettany).

(SPOILERS A SEGUIR). “Você começar a receber os personagens e só pensa: eita!”, diverte-se a rigger ao contar os detalhes do episódio e lembrar que, na época em que estava animando-o, não fazia ideia dos eventos surpreendentes que levariam o público à loucura.

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“Viúva Negra, Gavião Arqueiro – o personagem mais esquecido, vira alguém muito importante. Também tem aquele momento que o Thanos aparecer para pegar a Joia do Infinito e daí o Visão aparece e corta ele no meio. Cara (sic), ele apareceu por cinco segundos, e aí você tem que riggar os personagens que vão aparecer por cinco segundos – e eles precisam ser muito bons”, destaca a profissional.

Mesmo vivendo momentos incríveis ao trabalhar com o Marvel Studios, “Brisa” afirmou que o comprometimento a respeito da entrega de qualidade no trabalho sempre foi solicitado. “É muito divertido e legal trabalhar com as coisas que você gosta, e isso te ajuda a entregar coisas com mais qualidade – porque você está super envolvido no projeto, mas ainda sim é uma responsabilidade”, admite a profissional.

Marvel Studios cobrou qualidade e comprometimento

“Você tem capacidades técnicas que precisa atingir e precisa entregar”, avalia ela, que também explica que, por ser uma animação de qualidade impecável em um projeto com alto orçamento, mais de um rigger trabalha com o mesmo personagem em diversos momentos. “A gente divide algumas vezes o mesmo personagem porque as demandas são muito grandes. É muito trabalho (…), mas já é esperado. Há uma pressão – mesmo que não estejam “em cima” de você”.

O maior desafio de toda a participação no seriado, segundo ela, foi entregar algo funcional em uma animação que mescla 2D com 3D – ainda mais pelo fato de que os personagens, na maior parte do tempo, estão lutando. “Mais do que você ter o visual final, [a dificuldade] é a gente conseguir entregar riggs que precisam fazer tudo”, afirma.

“Quando você é uma pessoa, você se estica, exercita e faz coisas surreais. Só que para o rigger, há problemas como ombro, quadril e/ou deformações que a gente precisa que sempre funcione muito bem para todo o tipo de posição que você vai colocar esse boneco. Foi preciso entregar [para a Marvel] algo útil, pode ser simples, mas tem que ser o mais funcional possível”, detalhou “Brisa”.

Ainda não assistiu ‘What If…?’? Então, vale lembrar que a primeira temporada conta com nove capítulos ao todo. Todos os episódios da animação, protagonizada e narrada pelo Vigia (Jeffrey Wright) e com o retorno de alguns dos principais astros do estúdio em seus respectivos papéis dos filmes do MCU, já estão disponíveis no Disney+

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Créditos no Episódio 8 de ‘What If…?’, que mostra o nome de “Brisa”. Imagem; Marvel Studios/Reprodução

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