Na última sexta-feira (15), o Olhar Espacial recebeu Andressa Ojeda, a estudante paranaense que está nos Estados Unidos se preparando para ser a primeira mulher brasileira a voar ao espaço como astronauta. Ela, que cursou o terceiro ano do Ensino Médio nos EUA por meio de um programa de intercâmbio promovido pelo Rotary Club, hoje se dedica aos estudos e treinamentos da Embry-Riddle Aeronautical University, a maior e mais antiga escola de aviação, aeroespacial e aeronáutica – responsável pela formação de 11 astronautas.

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Desde que chegou aos EUA, Andressa tem passado por inúmeras oportunidades oferecidas apenas aos acadêmicos de grande destaque no setor: aos 18 anos, ela já passou por uma tour VIP na SpaceX, onde obteve a aprovação pessoal de Elon Musk (bem como comunicações corriqueiras com o CEO e fundador da empresa), além de ter conduzido pesquisas de iniciação científica em seu primeiro ano e participado de competições em robótica pela Nasa.

Imagem mostra Andressa Ojeda, Marcelo Zurita e Rafael Rigues em uma coluna à esquerda, em uma videoconferência que compartilha imagens de Andressa interagindo com diversos objetos da indústria aeroespacial
Andressa Ojeda, entrevistada da última edição do Olhar Espacial, vê o mercado aeroespacial como predominantemente masculino, mas ela espera mudar isso ao inspirar mais mulheres a se juntarem à indústria (Imagem: Olhar Digital/Reprodução)

Prestes a viajar para Dubai, nos Emirados Árabes, a convite da Organização das Nações Unidas (ONU) para o evento Space for Women Expert Meeting, Andressa Ojeda conversou com o Olhar Digital, respondendo a perguntas dos apresentadores Marcelo Zurita,  presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA) e colunista de Astronomia e Espaço; e Rafael Rigues, editor de Ciência e Espaço do site.

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Inspirada por uma mulher, para inspirar outras mulheres

“[Quando eu perdi minha mãe], as pessoas me falavam que aqueles que falecem viram estrelas”, disse Andressa, comentando sobre o peso que a perda da mãe teve em sua decisão de perseguir uma carreira de estudos e dedicação ao espaço. “Eu sempre fiquei com isso na cabeça, ao ponto de sair para o lado de fora de casa e olhar a noite estrelada. Isso atraiu a minha curiosidade para essas áreas de Física e Astronomia”.

Ela, que comentou ter começado a ler livros sobre Física Quântica ainda na adolescência, disse não ser fácil lidar com o preconceito inerente ao gênero de quem tenta ingressar neste mercado: “em uma página de notícias da minha universidade, tem matérias mostrando que 77% dos estudantes daqui são homens. Em projetos e grupos que participo, geralmente sou a única mulher”, ela diz.

O preconceito existe: no começo, quando eu fazia certos cálculos, os meninos revisavam ‘porque a Andressa fez’, mas o mesmo não acontecia entre eles. Eu sinto que, se mais mulheres estivessem presentes, isso não aconteceria – ou talvez até aconteceria menos [sic] -, então eu tenho por objetivo quebrar esse paradigma e inspirar mais mulheres a entrarem nessa área”.

Imagem mostra Andressa Ojeda, Marcelo Zurita e Rafael Rigues em uma coluna à esquerda, em uma videoconferência que compartilha imagens de Andressa à frente de um avião de caça da Força Aérea americana. Andressa veste um boné da SpaceX, e seus cabelos longos cobrem o logotipo da força aérea. No rosto, ela usa uma máscara preta de proteção
Estudando nos EUA desde o terceiro ano do Ensino Médio, Andressa agora é membro da Embry-Riddle Aeronautical University, a faculdade mais antiga e mais reconhecida pela formação de astronautas de missões de sucesso no espaço (Imagem: Olhar Digital/Reprodução)

Por essa razão, Andressa vê com grande importância a sua participação no evento da ONU, que é especificamente voltado ao desenvolvimento de papéis femininos em uma indústria majoritariamente masculina: “o que eu fiz foi ir além do que se esperava para provar que eu sou tão capaz quanto os homens. É triste você ‘ter que provar’ a sua capacidade para os outros, mas infelizmente foi o que aconteceu. Nessas horas, parece até um clichê, mas o mais importante é nunca desistir: várias dificuldades aparecerão, mas você tem que continuar”.

Essa evolução pode chegar com a crescente participação do setor privado no que se convém chamar de “nova corrida espacial” – parafraseando Rigues em uma de suas perguntas. A SpaceX, por exemplo, é presidida por uma mulher – Gwynne Shotwell, que antes de se juntar a Elon Musk, foi diretora de sistemas espaciais na Microcosm, onde supervisionou o desenvolvimento de ferramentas inovadoras.

Andressa Ojeda acredita que esse aumento no volume de empresas que desenvolvem tecnologias avançadas de exploração espacial será um dos principais motores em favor da inovação. “A competição nos deixaria muito tranquilos, sem ninguém para superar”, ela comenta. “As empresas comerciais – Virgin, Blue Origin, SpaceX… Todas conduziram voos espaciais nos últimos três meses, o que é incrível considerando que, há pouco tempo, nos parecia ser algo tão distante. Eu acredito sim que já está na hora de darmos esse passo de voltarmos para a Lua com o Projeto Artemis, e depois disso, eventualmente, chegarmos em Marte”.

Andressa ainda aproveitou o ensejo para mostrar que, ao contrário do que dizem alguns críticos, o desenvolvimento de tecnologias espaciais também traz benefícios para a Terra: “aparelhos que fazem ressonância magnética em hospitais, por exemplo, são uma tecnologia desenvolvida por conta de viagens espaciais. Até mesmo as luzes LED e outras coisinhas que vemos sempre no dia a dia, vieram por causa disso. Para quem não está na área, parece mesmo um desperdício, mas é preciso mostrar que tudo isso é um investimento, que as tecnologias que nos levarão de volta à Lua poderão ser aplicadas aqui na Terra no futuro”.

Imagens da semana

Como de praxe, Zurita e Rigues selecionaram, cada um, uma imagem veiculada pelo Olhar Digital para comentar ao final do programa: Zurita seguiu com a notícia de um meteoro que atravessou a casa de uma idosa no Canadá (aterrissando em sua cama, inclusive). Embora o registro da rocha espacial na casa exista, o que chamou a atenção foi a imagem feita pelo fotógrafo Hao Qin, do mesmo objeto, momentos antes de seu impacto, cruzando os céus canadenses.

Meteoro que cruzou os céus do Canadá antes de aterrissar na cama de uma residente de Colúmbia Britânica, no Canadá
Meteoro que cruzou os céus do Canadá antes de aterrissar na cama de uma residente de Colúmbia Britânica, no Canadá (Imagem: Hao Qin Photography/Reprodução)

Já Rigues preferiu a imagem do ator de 90 anos, William Shatner (o eterno “Capitão Kirk” de Star Trek), a bordo da cápsula New Shepard da Blue Origin: Shatner voou ao espaço dentro da nave, e o registro o mostra de costas, admirando a beleza do nosso planeta Terra do espaço.

O ator canadense (e, agora, astronauta) William Shatner, o eterno "Capitão Kirk" da série "Star Trek", observa a Terra a bordo da nave New Shepard, da Blue Origin
O ator canadense (e, agora, astronauta) William Shatner, o eterno “Capitão Kirk” da série “Star Trek”, observa a Terra a bordo da nave New Shepard, da Blue Origin (Imagem: Blue Origin/Divulgação)

“Olha, eu achei a imagem do meteoro muito legal”, disse Andressa Ojeda, “porém, eu acho que vou ficar com a do William Shatner: tê-lo visto por tantas vezes em ‘Star Trek’ e pensar que ele sempre esteve inserido neste meio – mas até agora, não verdadeiramente -, e agora ele foi realmente para o espaço, isso é algo incrível”.

O Olhar Espacial é transmitido ao vivo, todas as sextas-feiras, às 21h, pelos nossos canais oficiais no YouTube, Facebook, Instagram, Twitter, LinkedIn e TikTok, e conta sempre com a participação dos espectadores, enviando suas perguntas, sugestões e críticas.

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