Assim como você faz depois alguns shots de tequila, a Terra também já “deitou de ladinho” há cerca de 84 milhões de anos, de acordo com um paper publicado na revista científica Nature. Mas assim como você também fez no dia seguinte – embora com uma ressaca horrível -, a Terra também retornou à posição normal ao longo do tempo.

É o que afirmam os cientistas de uma equipe internacional liderada por Joe Kirschvink, chefe de investigação do Instituto de Tecnologia de Tóquio e professor na Caltech; e o professor Ross Mitchell do Instituto de Geofísica e Geologia de Beijing, na China.

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O assunto é relativamente complicado de se entender, mas vamos tentar explicar: a Terra é formada por diversas camadas, como o núcleo (essencialmente, uma parte bem sólida de metal) e uma camada externa a ele, feita majoritariamente de metal líquido, responsável pelo campo magnético do nosso planeta. Depois vem a crosta, que é onde seus pés (ou suas costas, se o efeito da tequila ainda não passou) estão agora.

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Já sabemos que essas camadas têm movimento – vide as placas tectônicas que causam terremotos e a chamada “deriva continental” que vem afastando os continentes há milhões de anos. Muito disso se dá pela capacidade de rotação da Terra, além de outros fatores, mas o importante aqui é: pelo fato da região externa ao núcleo ser líquida (ou tão “líquida” quanto mel ou melaço, por exemplo), ela consegue se ajustar com maior facilidade nesse movimento. Consequentemente, o que está acima dessa parte consegue “deslizar”.

Gráfico mostra inclinação de 12º da Terra, explicando como ela "deita de ladinho"
Inclinação identificada em rochas específicas na região montanhosa da Itália revela que a Terra é capaz de “deitar”, de acordo com os movimentos feitos pelas suas camadas internas (Imagem: Kirschvink/Mitchell/Divulgação)

Com esse conceito em mãos, os cientistas usaram a geologia para coletar dados relacionados ao movimento dos pólos magnéticos da Terra e como eles podem ser refletidos pelo magnetismo de alguns tipos de rochas e minerais (o nome disso é “informação paleomagnética”, aliás) e também bactérias fossilizadas, como a magnetita, o material magnético mais antigo de que temos conhecimento.

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Rochas e elementos desse tipo foram encontrados após extensa pesquisa na região da Cordilheira dos Apeninos, na Itália, entre Florença e Roma. E é aqui que o assunto fica interessante de fato: Kirschvink, Mitchell e equipe encontraram, lá, rochas cujas idades não correspondem à região onde elas foram vistas.

Muitas dessas rochas trazem uma característica especial: a magnetita, por exemplo, grava em si a direção para a qual o campo magnético aponta em sua formação – não muito diferente da agulha de uma bússola. E no meio do apontamento dessa direção, a rocha se solidifica e “prende” essa informação de forma fossilizada. Escavados, esses fósseis podem nos contar para onde o eixo vai girar em relação à crosta.

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E, como você já deve ter adivinhado, os especialistas identificaram uma inclinação de aproximadamente 12 graus há 84 milhões de anos. Ao longo de cinco milhões de anos seguintes, ela se reajustou e voltou para a posição original.

“Imagine que você está olhando para a Terra do espaço”, diz Kirschvink. “Essa variação polar pareceria com a Terra ‘deitando de ladinho’, e o que aconteceu de fato foi toda a ‘casca’ do planeta – o manto e a crosta – está rotacionando à medida que desliza pela camada líquida ao redor do núcleo se move”. Segundo ele, embora esses movimentos da Terra já fossem conhecidos, geólogos e outros especialistas ainda debatiam sobre a ocorrência deles no passado do nosso planeta.

Então, a grosso modo (e para desespero dos terraplanistas), a Terra aparentemente “rola de ladinho”. E volta à posição correta.

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