Na quarta-feira (20), funcionários transexuais da Netflix realizaram uma paralisação em protesto contra o especial de stand-up do comediante Dave Chappelle. Nele, o humorista faz comentários transfóbicos em tom de piada. Os trabalhadores receberam apoio de outros colegas. O co-CEO da plataforma de streaming, Ted Sarandos, por sua vez, afirmou ter “estragado tudo”, mas não mudou de posição sobre a produção.

A resposta de Sarandos foi dada na véspera do protesto dos empregados do serviço, em entrevista ao site norte-americano Variety. O co-CEO disse que “deveria ter liderado com mais humanidade”, mas que continua a defender o especial, baseado na “liberdade de criatividade e expressão artística”.

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“Ou seja, eu tinha um grupo de funcionários que definitivamente estava sentindo dor e mágoa por uma decisão que tomamos. E acho que isso precisa ser reconhecido de antemão, antes de entrar nos detalhes de qualquer coisa. Eu não fiz isso. Isso não era característico para mim, estava acontecendo rápido e estávamos tentando responder a algumas perguntas realmente específicas que estavam flutuando”, disse.

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O especial de stand-up de Dave Chappelle se chama ‘The Closer’. O humorista escancara preconceito na produção, zombando da identidade de gênero e se dizendo “TERF”, sigla em inglês para as feministas radicais que excluem mulheres trans do movimento. Mesmo com a repercussão negativa, Ted Sarandos defendeu o produto.

Questionado sobre o que define discurso de ódio para a Netflix, o executivo disse que a empresa traça o limite “em algo que intencionalmente exigiria ferir fisicamente outras pessoas ou até mesmo remover proteções. Para mim, a intenção de causar danos físicos ultrapassa os limites, com certeza”.

No Brasil, a expectativa de vida da população trans é de apenas 35 anos. Imagem: tereza ferreira – shutterstock

“Acredito 100 por cento que o conteúdo na tela pode ter impacto no mundo real, positivo e negativo”, disse ele, também na terça-feira (19), ao The Hollywood Reporter. Mesmo assim, a plataforma vai manter o especial. Para Sarandos, um dos desafios da Netflix é entreter o mundo com públicos de “vários gostos, várias sensibilidades, várias crenças”.

“Você realmente não pode agradar a todos ou o conteúdo seria muito enfadonho. E dizemos aos nossos funcionários desde o início que estamos tentando entreter nossos membros, e que parte do conteúdo da Netflix você não vai gostar, portanto, esse tipo de compromisso com a expressão artística e a livre expressão artística às vezes entra em conflito com pessoas se sentindo protegidas e seguras”, completou.

É importante lembrar que, no Brasil, a expectativa de vida da população transexual ou travesti é de apenas 35 anos de idade. O número é menos da metade dos 76 anos da expectativa geral de brasileiros e brasileiras.

Via: The Hollywood Reporter / The Verge / Indie Wire

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