O Procurador do Banco Central do Brasil, Marcelo Prates, discutiu nesta quinta-feira (21) sobre o projeto do Real Digital, o potencial e os riscos das chamadas ‘CBDCs’ (sigla para Central Bank Digital Currency, moedas digitais emitidas por bancos centrais) no último dia da conferência ‘Open Finance Conference 2021’.

Segundo o Procurador, R$ 9 em cada R$ 10 já são movimentados por meios digitais no país, ou seja, a maioria do dinheiro já circula virtualmente, seja por pagamentos via PIX ou cartão de crédito, por exemplo.

Sendo assim, Prates ressalta que a mudança para uma moeda digital soberana deve acontecer de forma natural nos próximos anos, já que o termo moedas digitais está cada vez mais em alta.

Imagem mostra logo do Banco Central do Brasil (BC)
R$ 9 em cada R$ 10 já são movimentados por meios digitais no país, diz Procurador do BC. Imagem: Jo Galvao/Shutterstock

O Procurador do BC compara a mudança fazendo uma alusão a forma como consumimos conteúdo atualmente. Ao invés de comprar um disco em uma loja, por exemplo, a maioria já prefere recorrer às plataformas digitais para ouvir música. Resta saber como a novidade funcionará na prática e como vai se adaptar à sociedade brasileira.

publicidade

Vantagens do Real Digital

Uma das vantagens é: com as tecnologias disponíveis, Prates indica que será possível que qualquer um acesse o dinheiro pelo BC, sem o intermédio obrigatório de outras instituições financeiras.

Outra possibilidade de acesso ao Real Digital, também será por meio das fintechs e bancos, que podem oferecer à moeda através de seus aplicativos.

Em seguida, Prates tratou de outro tema relevante: a segurança.

Como implementar uma CBDC com segurança?

Sobre a necessidade de optar por uma blockchain para movimentar o Real Digital, o Procurador diz que, apesar das funcionalidades e da segurança, o recurso ainda fica atrás de outras modalidades de transações tradicionais.

“Atualmente, o sistema de pagamentos instantâneos integrado ao PIX pode realizar 2 mil operações por segundos e até 10 mil quando necessário. Já a blockchain do bitcoin só consegue operar 7 transações por segundo”, disse.

Prates também aponta que nenhuma blockchain foi testada no varejo, por isso o BC certamente não deve abandonar os sistemas tradicionais de pagamento para adotar a ferramenta. No fim, o ideal, segundo ele, seria encontrar uma solução segura e que também funcionasse offline para movimentar o Real Digital, o que ainda não existe no Brasil.

E o dinheiro tradicional?

Considerando o que foi dito, fica claro que mesmo que o Real Digital saia literalmente do papel, a moeda ainda vai existir por muitos anos em conjunto com o dinheiro tradicional.

Prates reforçou que com o sistema financeiro e de pagamentos diversificados como temos no Brasil, o Real Digital deve seguir a mesma tendência observada pelo PIX, ou seja, facilitando o acesso a outras modalidades de pagamento além de diminuir custos. 

Segundo o Procurador, tudo isso ainda deve melhorar com a chegada do Open Banking, que permitirá que o público escolha as melhores ofertas financeiras disponíveis.

“O Real Digital será o próximo passo natural na evolução do sistema monetário”, afirmou Prates, já que o mundo está cada vez mais digitalizado. A moeda, desde que seja segura e estável, será essencial para o Brasil “participar dessa tendência global”.

No fim, o Procurador indica que a adoção da moeda será uma questão de escolha de cada um, aparecendo como mais uma opção para os brasileiros. Frente às criptomoedas, um CBDC também oferece estabilidade e menos riscos.

Leia mais:

Qual será o nível de privacidade garantido pela moeda? 

O último tema discutido foi a privacidade ao optar por transações financeiras com o Real Digital. Prates ressalta que a privacidade é um direito fundamental garantido e protegido pelas normas gerais e pela LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Ainda assim, segundo ele, as transações totalmente secretas não são admitidas, já que nenhum BC vai criar um ativo que “aumente os riscos de práticas de crimes”.

De acordo com o Procurador, isso não quer dizer que todas as operações serão espionadas e monitoradas. A quebra de sigilo, como já acontece hoje, será voltada para operações suspeitas. “As normas vigentes no país vão continuar garantindo a proteção” dos usuários do Real Digital.

Apesar das vantagens, algumas questões ainda permanecem. Não ficou claro, por exemplo, se o Real Digital vai contar com alguma ferramenta de combate ao desvio de verbas e qual será a sua proteção contra os ataques de cibercriminosos.

Créditos da imagem principal: SergeiShimanovich/Shutterstock

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!