Embora sem regulamentação de plantio e cultivo no Brasil, o mercado da cannabis (gênero da planta da maconha) promete ser promissor, com estimativa de movimentação de R$26 bilhões até o quarto ano após sua legalização no país. Isso é o que aponta uma prospecção feita pela empresa brasileira de pesquisa Kaya Mind, especializada em consultoria de inteligência de dados da erva.

De acordo com reportagem de Rodrigo Lara, para o site Tilt, do UOL, o montante equivale a toda a movimentação do mercado de compras por celular no Brasil em 2019. 

Apesar de não haver previsão para legalização do plantio e cultivo da cannabis no Brasil, para fins medicinais, o mercado está em plena ascensão e promete movimentar bilhões, atraindo interesse de diversas empresas. Imagem: Poring Studio – Shutterstock

“É muito raro, no estágio avançado de maturidade que a economia global se encontra, surgirem novos mercados bilionários do zero, que é o que vem ocorrendo com o setor da cannabis com as recentes flexibilizações com relação à planta ao redor do mundo”, declarou Maria Eugênia Riscala, presidente-executiva da Kaya Mind. 

“Somam-se a isso as inúmeras finalidades que a planta possui, podendo fornecer matéria-prima para os mais variados setores, temos um mercado extremamente promissor dentro de suas limitações”, afirma. “A cannabis não substituirá todos os usos do medicinal ou da construção civil, mas pode beneficiar muitos desses mercados”.

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De olho nesse potencial, muitas startups relacionadas ao setor surgiram no Brasil nos últimos anos.

Segundo o diretor de marketing da The Green Hub, plataforma especializada em aceleração de startups, com foco em negócios voltados à indústria da cannabis, Marcelo De Vita Grecco, a construção desse ecossistema ainda está no começo, “mas startups brasileiras exploram da biotecnologia à economia criativa, passando por soluções financeiras e têm no meio acadêmico um berço importante”.

“As iniciativas devem crescer e se multiplicar com o avanço deste mercado”, diz o executivo. Para ele, a impossibilidade de cultivo mais amplo da cannabis no país não têm impacto relevante nas iniciativas do tipo. 

“Enquanto a liberação não acontece, a cadeia produtiva pode se desenvolver inicialmente por meio de importações legais dos derivados da planta”, explica Grecco. “Há muita oferta de matéria-prima, até mesmo em países vizinhos, como Uruguai e Paraguai. Com isso, estrategicamente, se desenvolveria no país tecnologia para as diversas aplicações, sistema logístico e, mais importante ainda, o mercado consumidor”.

Ele acredita que, antes de focar tanto no cultivo, é preciso que haja demanda para absorver essa produção, caso contrário, o país se torna mais um produtor de matéria-prima e não de produtos finais (como os medicamentos à base da planta, por exemplo). “É o caso de Uruguai e Equador. Ambos focaram muito na produção, têm muita gente plantando, mas ainda não há demanda suficiente para absorver”, explica. “Com um mercado formado, quando o plantio for liberado no Brasil, o crescimento da oferta de matéria-prima vai ajudar a tornar os produtos finais mais baratos e acessíveis”.

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Quais as empresas que mais têm se destacado no mercado da maconha no país

Grecco enumerou seis startups que mais têm crescido no Brasil com iniciativas voltadas à cannabis:

  • The Dogons: empresa de pesquisa e desenvolvimento de produtos probióticos com infusão de canabinoides; 
  • Kaneh Bosm Genes: voltada para a pesquisa do cultivo aquapônico (na água) da planta;
  • Centro de Excelência Canabinoide: especializada no atendimento clínico, com foco em educação e pesquisa relacionados ao uso medicinal da cannabis; 
  • Scirama: empresa que estuda substâncias psicodélicas para uso em psicoterapia assistida;
  • Adwa: voltada para o aperfeiçoamento genético; 
  • Rubian Extratos: apresenta soluções eficazes para a produção de extratos vegetais ricos em bioativos da cannabis.

Além dessas, a reportagem também destaca empresas com iniciativas voltadas à exploração financeira desse mercado. Uma delas é a Cannapag Bank, uma fintech voltada a soluções financeiras para atendimento de pacientes, clínicas, associações e indústrias da cannabis. 

Há também as empresas com foco na indústria criativa, como a Jamba Studios, que trabalha a arte atrelada à informação para derrubar preconceitos contra a maconha, abrangendo estratégias de narrativa e entretenimento educacional.

Do que depende a liberação do cultivo da maconha no Brasil

De autoria do deputado Fabio Mitidieri (PSD/SE), o Projeto de Lei (PL) 399/2015, o mais avançado no país em relação ao tema, foi aprovado em 8 de junho deste ano por uma comissão especial da Câmara dos Deputados, seguindo, em caráter conclusivo, para aprovação no Senado Federal. Ainda não há previsão de votação dos senadores.

Embora o plantio e o aproveitamento da cannabis em outras áreas ainda não seja realidade por aqui, o consumo de derivados da planta tem forte apelo na indústria farmacêutica. Atualmente, em torno de 60 países têm regulamentações específicas para o uso medicinal da cannabis, que pode ser usada com segurança e eficácia nos tratamentos de autismo, epilepsia, doença de Alzheimer, fibromialgia, depressão, ansiedade e dores crônicas.

Medicamentos e óleos essenciais à base de cannabis são usados para tratamento de diversas doenças. Imagem: ElRoi – Shutterstock

Como terapia para quadros psiquiátricos, como transtorno de ansiedade, psicose, depressão e outros, especialistas garantem que essas substâncias se mostram promissoras, ainda que ainda sejam necessários níveis mais altos de evidências. 

De acordo com o biomédico Renato Filev, especialista em cannabis e sistema endocanabinoide e doutor em neurociências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a falta de regulamentação e a criminalização da cannabis afeta a todos, mesmo quem nunca consumiu maconha. 

“A proibição das drogas acaba gerando mais custos e danos sociais e em saúde pública e individual do que aqueles que a política visa combater”, declara Filev. “O resultado é que pessoas que enfrentam alguma condição de saúde para a qual a cannabis poderia ser empregada são afetadas pela proibição em diferentes camadas”.

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