Nas últimas semanas, o Facebook se viu em meio a um turbilhão de polêmicas com o vazamento de documentos internos da empresa, que citam por exemplo a existência de sistema de moderação menos rigorosos para alguns usuários e até mesmo pesquisas que indicam os perigos do Instagram para adolescentes. No entanto, essas informações não vieram ao público sozinhas e foram vazadas por informantes que já trabalharam no próprio Facebook.

Seguindo a cronologia, tudo começou com uma série de reportagens especiais do The Wall Street Journal chamada “Facebook Files”. Até então, a identidade da fonte do jornal era um segredo, mas as matérias colocaram a segurança da rede social, que já vinha sendo questionada pelas autoridades, em xeque.

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Um dos temas que ganhou mais destaque entre os vazamentos foram os relatórios do Facebook que mostravam como as redes sociais, principalmente o Instagram, eram perigosas para os adolescentes. Isso ganhou força pois, quando as matérias foram publicadas a empresa falava publicamente sobre estar desenvolvendo uma versão da plataforma voltada para o público infantil.

Além disso, o Facebook ainda está enfrentando um grande processo movido por parte de seus próprios acionistas após o escândalo da Cambridge Analytica, depois das eleições dos EUA de 2016. Na ação, os investidores pedem o pagamento de cerca de US$ 5 bilhões para compensar os gastos que a gigante teria tido para proteger a reputação de Mark Zuckerberg após a polêmica.

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As informantes do Facebook

Mas quem foram as informantes que revelaram as informações do Facebook para o The Wall Street Journal? Após alguns dias da publicação das matérias, Frances Haugen veio a público e assumiu a autoria dos vazamentos em entrevista para um programa de televisão.

Frances Haugen
Imagem: Divulgação CBS

Frances Haugen é uma ex-funcionária do Facebook que atuou como gerente de produtos de 2019 até maio deste ano. Enquanto era anônima, a ex-funcionária forneceu documentos ao jornal The Wall Street Journal. Ela ainda trabalhou em outras empresas do ramo como o Google. No entanto, a ex-funcionária classifica a rede social como “substancialmente pior” do que outras plataformas do gênero.

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Após os vazamentos, Haugen prestou depoimento sobre as informações do Facebook no Congresso dos Estados Unidos. Na abertura, o relator do caso senador Richard Blumenthal disse que o Facebook “colocou os lucros à frente das pessoas”. Ele ainda cobrou que o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, volte a testemunhar no congresso. “Em vez de assumir responsabilidades e mostrar liderança, o Sr. Zuckerberg está navegando”, completou.

Haugen destacou a necessidade de uma equipe maior na empresa para lidar com denúncias e investigações. Segundo a informante, os funcionários não dão conta da demanda e a plataforma parece não se importar com isso, com a prioridade sendo sempre as métricas de engajamento.

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“Um padrão de comportamento que vi no Facebook era que, muitas vezes, os problemas eram tão insuficientes que havia um desânimo implícito de ter melhores sistemas de detecção. Por exemplo, trabalhei na equipe de contra-espionagem e, a qualquer momento, nossa equipe só conseguia lidar com um terço dos casos que conhecíamos. Sabíamos que se construíssemos até mesmo um detector básico, provavelmente teríamos ainda mais caixas”, contou.

Haugen não é a única

As declarações da ex-gerente de integridade do Facebook acenderam um alerta sobre problemas que ocorrem dentro da empresa e na rede social e com isso mais uma ex-funcionária se diz disposta a testemunhar contra a plataforma.

Segundo declarou a uma reportagem da CNN, Sophie Zhang, que disse sentir que tinha “sangue nas mãos” depois de trabalhar no Facebook, se colocou à disposição da justiça para testemunhar contra a empresa de Mark Zuckerberg junto ao Congresso americano.

Imagem: CNN

Zhang, que trabalhou como cientista de dados na gigante da tecnologia por quase três anos, afirmou que também repassou documentos sobre a empresa a uma agência de aplicação da lei dos EUA.

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No ano passado, conforme divulgado pelo Olhar Digital, ela redigiu um extenso memorando quando foi demitida pelo Facebook, por meio do qual detalhou os motivos pelos quais acreditava que a empresa não estava fazendo o suficiente para combater o ódio e a desinformação – especialmente em países menores e em desenvolvimento.

Agora, ela se diz novamente encorajada porque acredita haver apoio bipartidário para ações relacionadas à proteção de crianças na internet após o testemunho da denunciante Frances Haugen.

Zhang afirmou que levou informações sobre o Facebook às autoridades. “Forneci documentação detalhada sobre possíveis violações criminais a uma agência de aplicação da lei dos EUA. Meu entendimento é que a investigação ainda está em andamento”, informou ela pelo Twitter no domingo.

Os vazamentos ainda não terminaram. Após os documentos do The Wall Street Journal, Haugen entregou o novo acervo para um consórcio formado por grandes veículos de imprensa como o The Washington Post, a Bloomberg, a Reuters e o The New York Times. As matérias estão sendo publicadas durante esta semana.

Respondendo a pergunta inicial, o Facebook até o momento está com duas informantes. Ambas ex-funcionárias da empresa. É possível que o movimento incentive outros ex-trabalhadores da companhia a se pronunciarem sobre os métodos da rede social.

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