Se um dia você encontrar um “miudinho” no mar (e seu instinto de defesa não o mandar nadar para bem longe dali), pode fazer como a Dory, de Procurando Nemo, e tentar falar “baleiês”. Para isso, você poderá usar um programa de Inteligência Artificial que está sendo desenvolvido para permitir a decodificação da linguagem entre as baleias e os seres humanos. 

Trecho da animação “Procurando Nemo”. Crédito: Disney – Pixar, 2003

Sim, isso é possível, segundo uma equipe interdisciplinar de cientistas que lançou o projeto norte-americano Cetacean Translation Initiative (CETI, não confunda com o SETI, que procura vida extraterrestre), com o objetivo de decodificar e se comunicar com cachalotes. Em tradução livre, CETI significa Iniciativa Tradução de Cetáceos, e tem como objetivo usar a IA como ferramenta para compreender a linguagem destes animais.

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Projeto CETI usa sons emitidos pelas cachalotes para decodificar linguagem das baleias. Imagem: Wonderful Nature – Shutterstock

De acordo com o site Futurism, mais especificamente, a equipe quer decodificar os sons de “cliques” que os cachalotes usam para se comunicarem, também conhecidos como “codas”.

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Um longo caminho até o baleiês

Para conseguir isso, os pesquisadores planejam alavancar o processamento de linguagem natural (PNL), um subcampo da IA ​​focado no processamento da linguagem escrita e falada. A equipe já aplicou gravações de codas de cachalotes a um algoritmo de PNL, com resultados promissores.

“Eles pareciam estar funcionando muito bem, pelo menos com algumas tarefas relativamente simples”, disse Michael Bronstein, líder de aprendizado de máquina do Projeto CETI.

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Por mais incríveis que sejam os objetivos das equipes, há um enorme obstáculo: eles precisam de dados – e muitos deles.

A primeira meta do Projeto CETI é coletar quatro bilhões de codas de cachalotes. Por enquanto, a equipe, que usa dados de pesquisas do Projeto Cachalotes de Dominica, tem apenas 100 mil codas coletados. Para efeito de comparação, o GPT-3 – um conhecido modelo de linguagem preditiva baseado em aprendizado de máquina – foi treinado com cerca de 175 bilhões de palavras.

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Além disso, os pesquisadores também precisarão colocar todos os codas em contexto. Afinal, palavras sem contexto não oferecem nenhum significado. E isso vai exigir anos de pesquisa nos habitats naturais dos cachalotes.   

Se e quando o Projeto CETI concluir essa tarefa complexa, é uma possibilidade viável de que um modelo de linguagem possa ser desenvolvido para se comunicar em “baleiês” – o que poderia alterar permanentemente a forma como os humanos percebem e interagem com a natureza. 

“Isso talvez isso resulte em alguma mudança na maneira como tratamos nosso meio ambiente”, acredita Bronstein. “E, talvez, [tenhamos] mais respeito pelo mundo vivo”.

A opção mais segura, por enquanto, é: “continue a nadar!”

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