Um estudo realizado no Brasil em parceria com pesquisadores do Canadá e publicado na última quarta-feira (27) mostrou que o antidepressivo fluvoxamina, utilizado no tratamento de diversos transtornos psiquiátricos, é capaz de reduzir em até 32% as hospitalizações prolongadas por Covid-19.

A pesquisa foi publicada no periódico The Lancet e faz parte da iniciativa TOGETHER, que visa testar novos tratamentos contra o vírus em parceria com diversos cientistas do mundo. O foco do estudo foi em pacientes que sofrem com comorbidades.

O antidepressivo foi administrado nos participantes com Covid-19 logo quando surgiram os primeiros sintomas de inflamação causada pela doença. Entre os pacientes da pesquisa, houve uma redução de pouco mais de 30% nas internações por coronavírus em quem recebeu o antidepressivo em comparação com quem não tomou o medicamento.

No total, 1.497 pacientes com Covid-19 diagnosticada participaram. Destes, 741 receberam o antidepressivo e outros 756m, placebo. Os participantes, com idade média de 50 anos, foram monitorados durante 28 dias.

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A fluvoxamina é usada no tratamento de doenças psiquiátricas, no entanto, ela age quando o sistema imunológico fica descontrolado após uma infecção e tem sua capacidade de combater a doença reduzida. É essa habilidade que os pesquisadores focaram na pesquisa.

“Ela não ataca o vírus em si, mas ajuda na “moderação” da resposta imunológica. Ela vai lá na superfície da célula e ativa uma proteína que consegue bloquear essa resposta citocínica. Então a fluvoxamina faz essa modulação para que a resposta imune seja somente a necessária e aí evita a chamada ‘tempestade de citocinas”, disse Gilmar Reis, coordenador do estudo aqui no Brasil, ao G1.

Antidepressivo contra a Covid-19

O estudo feito pelo departamento de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) em parceria com a Universidade McMaster, do Canadá, realizou o ensaio entre 20 de janeiro e 6 de agosto deste ano.

“Esse é um dado muito importante, mas ainda olhamos para ele com ressalvas. Se o paciente, tomando o medicamento, tem a chance de mortalidade 90% menor, é bem possível que ele também tenha um papel importante na redução das complicações. Se tivéssemos continuado o estudo para 2.500 pacientes, talvez, tivéssemos mostrado isso melhor, mas no cenário atual da pandemia, achamos que não era ético continuar coletando dados só pra ter esse desfecho final”, completou Reis.

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A fluvoxamina é usada desde a década de 1990. Uma das principais vantagens é o custo. “Esta pílula barata e facilmente acessível é uma grande vantagem para a saúde pública, tanto no Canadá como internacionalmente, permitindo que os hospitais evitem tratamentos caros”, disse Ed Mills, pesquisador da McMaster.

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) disse em nota recentemente que ainda são necessárias outras pesquisas para concluir se o remédio é seguro contra o Coronavírus.

O medicamento só é vendido com receita médica e uso sob supervisão. Mais estudos ainda vão ser feitos para entender como esse antidepressivo pode ser usado em pacientes com Covid-19.

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