Milhares ou até milhões de aranhas Joros, uma espécie nativa do leste asiático vêm tecendo suas teias espessas e douradas em linhas de energia, varandas e canteiros de vegetais por todo o norte da Geórgia ao longo deste ano – uma proliferação que levou alguns proprietários a ficarem confinados em casa e gerou uma avalanche de postagens nas redes sociais.

“Existem duas teias na minha varanda perto de Atenas, Geórgia. Elas são diferentes das nossas aranhas nativas. As teias são douradas e difíceis de quebrar. Eu odeio matar coisas, mas elas precisam ir”.
Vi minha segunda aranha Joro em Atlanta! Que beleza!
Acredito que seja a aranha Joro (Trichonephila clavata), que foi recentemente introduzida na Geórgia, nos EUA. Nativa do Japão e áreas circunvizinhas.

De acordo com uma reportagem do site Phys, na área metropolitana de Atlanta, Jennifer Turpin – autodenominada aracnófoba – parou de soprar folhas em seu quintal depois de entrar inadvertidamente em uma teia criada pela aranha Joro. 

Stephen Carter evitou uma trilha de caminhada ao longo do rio Chattahoochee, depois de perceber teias de Joro a cada dez passos.

Mais a leste, em Winterville, a varanda da frente da casa de Will Hudson tornou-se inutilizável em meio a uma abundância de teias Joro de 3 metros de profundidade. Hudson estima que já tenha matado mais de 300 delas em sua propriedade.

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“As teias são uma verdadeira bagunça”, disse Hudson, entomologista da Universidade da Geórgia. “Ninguém quer sair de casa pela manhã, descer as escadas e ficar com o rosto cheio de teia de aranha”.

Aranha Joro, uma espécie originária da Ásia, que está se proliferando na Geórgia, EUA. Imagem: Sidcreatives – Shutterstock

Motivo de infestação de aranhas Joros na Geórgia é uma incógnita

Da espécie denominada Trichonephila clavata, as Joros fazem parte de um grupo de aranhas conhecidas como “tecelãs de orbe” por suas teias em forma de roda altamente organizadas. 

Muito comuns no Japão, China, Coreia e Taiwan, as fêmeas Joro têm marcações coloridas amarelas, azuis e vermelhas em seus corpos. Eles podem medir 8 cm de largura quando suas patas são totalmente estendidas.

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Não se sabe exatamente como e quando a primeira aranha Joro chegou aos EUA. Na Geórgia, um pesquisador identificou uma em 2014, a cerca de 128 km a nordeste de Atlanta. Elas também já foram vistas na Carolina do Sul, e Hudson está convencido de que serão espalhados pelo sul do país.

Também não está claro por que elas surgiram em tamanha abundância neste ano. “Vemos vazantes e fluxos naturais nas populações de muitas espécies diferentes que podem estar ligadas às condições locais, particularmente pequenas mudanças nas chuvas”, sugere Paula Cushing, aracnóloga do Museu de Natureza e Ciência de Denver.

Especialistas divergem quanto à periculosidade da espécie

Cushing e outros especialistas afirmam que as aranhas Joros não são uma ameaça para humanos, nem para cães e gatos, e não os atacam, a menos que se sintam muito ameaçadas. 

Segundo Hudson, um pesquisador que coletou algumas delas com as próprias mãos relatou uma beliscada ocasional, mas disse que as aranhas nunca rompiam sua pele.

No entanto, os pesquisadores não concordam totalmente sobre que impacto, se houver, a aranha terá sobre outras espécies e o meio ambiente.

Debbie Gilbert, 67, não está esperando para descobrir. Ela adotou uma política de tolerância zero para as aranhas ao redor de sua casa em Norcross, Geórgia, enrolando suas teias com um graveto, derrubando-as e pisoteando-as.

“Não defendo matar nada”, disse ela. “Vivo em paz com todas as aranhas por aqui e tudo o mais. Mas essas, simplesmente, não pertencem a este lugar, isso é tudo”.

Nancy Hinkle, que também é entomologista da Universidade da Geórgia, disse que Joros ajudam a suprimir mosquitos e moscas picadoras e é uma das poucas aranhas que capturam e comem percevejos marmoreados, pragas graves para muitas culturas.

“Isso é maravilhoso. Isso é emocionante. As aranhas são nossas amigas”, disse ela. “Elas estão lá fora, pegando todas as pragas que não queremos em nossa casa”.

Ann Rypstra, que estuda o comportamento das aranhas na Universidade de Miami, foi mais cautelosa em sua avaliação dos impactos potenciais da espécie, dizendo que mais pesquisas são necessárias. “Eu sempre errei pelo lado da cautela quando você tem algo que se estabelece onde não deveria estar”, disse ela.

Pesquisadores da Universidade Clemson, da Carolina do Sul, também foram mais circunspectos, dizendo em artigo online publicado em agosto que “ainda não sabem se haverá impactos negativos dessa espécie não nativa na ecologia local da Carolina do Sul”.

Rypstra estudou uma espécie de aranha semelhante e disse que suas teias são usadas por outras aranhas como fonte de alimento, o que indica que a Joro pode ajudar as aranhas nativas. No entanto, ela disse que também há evidências de que Joros competem com outros tecelões de orbe.

Espera-se que a maioria das aranhas Joros morra no fim de novembro, mas elas podem retornar em números igualmente grandes, ou até maiores, no ano que vem, embora cientistas digam que isso é difícil de prever com alguma certeza.

Anthony Trendl, proprietário de uma casa em Suwanee, Geórgia, está gostando delas, por enquanto. Ele criou um site, para compartilhar seu entusiasmo sobre as aranhas e promover a compreensão da espécie. 

“Embora suscitem preocupações e possam ser assustadores, também são animais bonitos”, disse ele. “As coisas têm sido difíceis. Eu queria encontrar algo de bom neste mundo. Para mim, a natureza é um lugar fácil de encontrar”.

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