Um condor californiano, pássaro em risco de extinção nos EUA, conseguiu ter filhos sem sexo, de acordo com estudo publicado na última quinta-feira (28) no Journal of Heredity. Os animais que saíram dos ovos chocados são clones da mãe, mas não têm parentesco com nenhum macho da espécie.

De acordo com o texto do paper, esse é o primeiro caso relatado de reprodução assexuada (quando não há relação sexual) em condores – embora o mesmo estudo reconheça que a partenogênese – ou o desenvolvimento de embriões sem fertilização – seja uma ocorrência comum em outros animais, desde abelhas, passando por dragões-de-komodo e até tubarões.

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Imagem mostra um condor californiano. Pássaros dessa espécie podem ter filhos sem sexo, segundo estudo
Segundo estudo genético conduzido por biólogos, o condor californiano pode produzir filhotes de forma independente, ou seja, sem relação sexual direta: a “partenogênese” é um fenômeno visto em várias espécies, mas nunca em pássaros (Imagem: George Lamson/Shutterstock)

Em pássaros, já houve suspeita de casos similares no passado, mas houve ainda o reconhecimento da participação de um macho: fêmeas de algumas espécies guardaram material genético de acasalamentos com parceiros sexuais passados, usando-os futuramente para desenvolver seus embriões. Isso se dá quando a fêmea perde o acesso a exemplares machos de sua espécie.

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Os pesquisadores do estudo atual, porém, acreditam que os casos exemplificados – foram duas ocorrências, em 2001 e 2009 – são o primeiro do tipo onde as fêmeas tiveram acesso aos pássaros machos. Em outras palavras, a fêmea poderia ter se relacionado com um macho, mas seguiu sozinha.

O fenômeno foi comprovado por análise genética: os filhotes tem 100% do DNA da mãe, e nada de nenhum macho conhecido da espécie, da qual restam poucos indivíduos.

Segundo o estudo, a descoberta da reprodução assexuada se deu há alguns anos, quando análises de material genético de animais vivos e mortos mostraram que dois deles tinham mãe, mas não pai. “Ao todo, 467 condores californianos machos foram testados para análises parentais, e nenhum macho foi identificado como pai dos dois animais registrados”, diz trecho do estudo.

“Essas conclusões levantam questionamentos sobre a possibilidade de isso ocorrer sem detecção em outras espécies”, disse Oliver Ryder, co-autor do estudo e Diretor de Conservação Genética da Aliança pela Vida Selvagem, no Zoológico de San Diego. A entidade é a mesma que, no passado, conseguiu trazer os abutres gigantes de volta da “quase extinção” por meio de programas de cruzamentos de animais.

O condor californiano é o maior pássaro voador dos Estados Unidos, com até três metros (m) de envergadura – ou seja, a distância da ponta de uma asa à ponta da outra. Antigamente, eles eram rotineiramente avistados na costa oeste, mas a caça e outros avanços humanos reduziram sua população para 22 exemplares na década de 1980, quando o governo os capturou e os colocou em zoológicos para fins de expansão populacional.

Desde então, esforços de criação em cativeiro fizeram com que o animal aos poucos ampliasse sua presença: hoje, existem mais de 500 condores nos EUA e México – sendo que 300 deles foram soltos de volta ao ambiente selvagem.

Os animais de 2001 e 2009 já morreram, segundo o estudo, por doenças. O paper não informa se isso, porém, foi fruto de alguma anomalia genética pertinente ao nascimento deles. Um dos pássaros morreu com dois anos de vida, enquanto o outro viveu menos que oito anos. Em condições normais, o condor californiano tem expectativa de vida de, em média, 60 anos.

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