Por Nelson Travnik*

Em algum momento, quando você olha para as estrelas, não teria pensado que em alguma delas pode haver um planeta semelhante à Terra, com alguém que também estará pensando em você? Existe no mundo atual questões tão fascinantes quanto a vida extraterrestre? É um tema que vem ganhando espaço cada vez maior desde o célebre filme “A Guerra dos Mundos” baseado no livro do inglês H. G. Wells.

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O assunto é um dos que mais abastece os cofres da cinematografia e atualmente é tópico de pesquisa em todo o mundo. O que outrora era uma possibilidade, aproximou-se da realidade a partir da descoberta do primeiro exoplaneta ao redor da estrela 51 da constelação de Pégaso em 6 de abril de 1995 por Michel Mayor e Didier Queloz da universidade de Genebra na Suíça.

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Os primeiros foram planetas gigantes. Com a aprimoramento de novas técnicas, instrumentos maiores e ultrassensíveis em terra e no espaço, já são mais de 6 mil os exoplanetas descobertos, desses cerca de 350 na zona habitável, isto é, nem perto e nem longe do astro central. No sistema solar isto se situa entre a Terra e Marte. Em nossa galáxia, a Via Láctea, existem aproximadamente 200 bilhões de estrelas e já calcula-se que existem ainda 50 bilhões de sistemas planetários a serem descobertos.

Nesse raciocínio, é lícito pensar que, considerando uma média de 3 a 7 planetas para cada estrela, nossa galáxia contém mais planetas que estrelas! Isso nos lembra Giordano Bruno (1548-1600) e Camille Flammarion (1842-1925). O primeiro com o livro “Acerca do Infinito do Universo e dos Mundos” e o segundo com seu livro “A Pluralidade dos Mundos Habitados”. Giordano foi considerado herege e queimado vivo pela Santa Inquisição. Flammarion rejeitado no início, logrou grande êxito posteriormente. Ambos foram os grandes arautos da época que estamos vivenciando. Sabemos hoje que a confirmação da vida extraterrestre é pura questão de tempo.

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Os exobiólogos já chegaram à conclusão de que a vida aflora onde as condições favorecem a existência de água em estado líquido aliada a área continental e oceânica. Sabe-se, contudo, que a matéria viva é extremamente complexa, resultado de reações químicas combinando moléculas e flutuações estatisticamente improváveis. Isso mostra que a eclosão da vida é um acidente raríssimo, uma singularidade estatística que se caracteriza por suas propriedades fundamentais: nascem, crescem, alimentam-se, reagem ao meio ambiente, reproduzem e morrem. Quando ela aflora, está programada para morrer.

E tudo inserido na lei da evolução das espécies de Charles Darwin. A mais poderosa fonte de informações para a vida extraterrestre são os radiotelescópios em terra e aqueles colocados no espaço. Trabalhos nessa área já foram premiados quatro vezes com o Prêmio Nobel. Os cientistas já chegaram à conclusão que procurar transmissões de rádio inteligentes, elas deverão ser feitas na frequência natural do átomo de hidrogênio que é de 1420 megahertz uma vez que ele é o elemento mais abundante no universo. Nessa área contamos com uma rede de radiotelescópios no deserto de Atacama no Chile e na África do Sul.

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Antena de 12 metros do radiotelescópio do Museu Aberto de Astronomia, MAAS, no Pico das Cabras, Campinas, SP. Aprendendo a ver como são recebidos os sinais que vem do espaço
Antena de 12 metros do radiotelescópio do Museu Aberto de Astronomia, MAAS, no Pico das Cabras, Campinas, SP. Aprendendo a ver como são recebidos os sinais que vem do espaço. Foto: Cesar Negreiros

O primeiro compreende 66 antenas de 12 metros e o segundo com 87 antenas de 12-15 metros. Mas não é só. Radiotelescópios frequentemente combinados através da técnica chamada Radiointerferometria de Longa Base, VLBI, se somam como se fossem uma só antena gigantesca. Esse processo permite registrar imagens inéditas do nascimento de estrelas, planetas e estudar e descobrir moléculas que se formam no espaço entre as estrelas em ondas milimétricas e submilimétricas. Mas os investimentos não param por aí. Na área do visível, o telescópio espacial Kepler está observando simultaneamente 100 mil estrelas!

Com lançamento previsto para esse final de ano, o Telescópio Espacial James Webb com espelho 2,5 maior que o Hubble, será capaz de descobrir atmosferas em exoplanetas mais próximos. A isso acrescenta-se a construção no deserto de Atacama, do “European Extremely Large Telescope”, E-ELT, com incríveis 39,3 metros de diâmetro! Capaz de ler a capa de um jornal na Lua, ele irá imagear exoplanetas próximos e encontrar como Webb, bioassinaturas em sua atmosfera numa tarefa muito difícil porque eles são ofuscados pelo brilho de sua estrela mãe. Ao final, vemos que a ciência astronômica nos mostra a existência de infinitos mundos que podem ser habitados.

Isso indica que somos um grão de poeira, engrenagens microscópicas em um vasto universo que existe há bilhões de anos antes do aparecimento do Sol, da Terra, dos humanos e que ele seguirá adiante muito bem sem nós após o último suspiro. Quando recebermos a tão aguardada mensagem: também estamos aqui, surgirá uma nova era para a humanidade que irá deitar abaixo a crença milenar de que somos uma civilização especial, donos da verdade e eleitos de Deus. Não somos criações milagrosas destinadas a um universo de papelão.

A maioria dos alicerces da estrutura filosófica criada pelo homem e centrada unicamente em seu habitat, irá ruir como os castelos de areia que as crianças constroem a beira mar. Esses conhecimentos mudaram a forma de pensar do homem moderno possibilitando assumir uma postura mais honesta e humilde sobre sua origem e destino final. Que somos uma espécie transitória. Nada mais que isso.

*Nelson Travnik é astrônomo voluntário no Museu Aberto de Astronomia de Campinas e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França

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