Fantasmas, espíritos desencarnados que vagam pelo plano dos vivos, estão presentes em quase todas as culturas humanas há milhares de anos. Mesmo hoje em dia, na “Era Digital”, muitas pessoas acreditam ter capturado a imagem de uma aparição nas câmeras dos seus smartphones ou em circuitos internos de vigilância. Mas pesquisadores do Museu Britânico encontraram uma imagem fantasmagórica muito mais antiga, de mais de 3,5 mil anos.

A figura, um homem de barba e com as mãos amarradas, ilustra o texto de um antigo ritual babilônico de exorcismo, com o objetivo de banir o tipo de fantasma que “se apodera de uma pessoa, a persegue e não pode ser solto”. De acordo com o curador do departamento do Oriente Médio no Museu Britânico, Irving Finkel, os contornos do desenho são tênues, apenas perceptíveis em um determinado ângulo – o que manteve o fantasma escondido desde a compra do artefato, ainda no século 19, até agora.

“É obviamente um fantasma masculino e ele é miserável. Você pode imaginar um fantasma alto, magro e barbudo andando pela casa irritando as pessoas. A análise final foi que esse fantasma precisava de uma companheira”, explica o pesquisador. Especialista em escrita cuneiforme, Finkel percebeu que a placa de argila havia sido decifrada incorretamente anteriormente. O desenho foi perdido pois o fantasma só “ganha vida” quando visto de cima e sob a luz certa. Por isso, o artefato nunca foi exibido ao público.

Leia também:

publicidade

Finkel acredita que a placa de argila fazia parte da biblioteca de um exorcista ou de um templo, mas confessa que ele próprio nunca viu um fantasma na vida real. “Nem mesmo nas abóbadas mais sombrias do Museu Britânico”, que está “crivado de fantasmas”, brinca o pesquisador. “Na Biblioteca do Rei, mais de uma pessoa viu uma cabeça e ombros se movendo, mas em uma altura peculiar. Isso foi rejeitado pelos céticos, mas descobriu-se que o piso original sob o atual era, na verdade, mais baixo, o que significa que eles estavam quase certos”.

O espírito solitário é conduzido à felicidade eterna por uma companheira nessa placa de argila da Babilônia. Imagem: James Fraser/Chris Cobb/Museu Britânico
O espírito solitário é conduzido à felicidade eterna por uma companheira nessa placa de argila da Babilônia. Imagem: James Fraser/Chris Cobb/Museu Britânico

Mas para o caso de você se ver às voltas com um fantasma babilônico de mais de três mil anos, eis o ritual sugerido pelo objeto: prepare duas estatuetas, uma para representar o fantasma e outra para representar o parceiro ou parceira a quem você está oferecendo. Vista o “fantasma” com uma roupa de uso diário e equipe-o com provisões de viagem e a outra pessoa com quatro roupas vermelhas, além de um pano roxo. O parceiro ou parceira deve ter também um broche de ouro, um pente e um frasco. Prepare ainda uma cama, cadeira, tapete e toalha, de acordo com o texto.

Com tudo pronto, “ao nascer do sol, em direção ao Sol, faça os arranjos rituais e monte duas vasilhas de cornalina de cerveja e um incensário de zimbro. Puxe a cortina como a do adivinho e coloque as estatuetas junto com seus equipamentos e os posicione”. Agora é hora de invocar o deus babilônico do Sol, que também é o juiz do submundo. “Diga o seguinte: Shamash”. O último conselho é talvez o mais importante: “não olhe para trás”.

Via: The Guardian

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!