A sonda Juno, da Nasa, devolveu à Terra algumas informações interessantes, pertinentes ao que ocorre por baixo das nuvens de Júpiter. De acordo com as informações divulgadas pelas agência espacial norte-americana, esse provavelmente é o mapeamento em 3D mais completo que temos do maior planeta do sistema solar.
A nova análise veio graças ao uso do instrumento chamado “radiômetro de microondas” (MWR), pelo qual a Juno foi capaz de enxergar a uma profundidade maior de Júpiter, revelando alguns detalhes até então desconhecidos: o primeiro é o fato de que a mancha vermelha notável na superfície é, na verdade, bem mais profunda do que pensávamos – a tempestade representada por ela chega quase 500 km de altura.
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Isso, aliado a um conhecimento prévio de que a tempestade tem aproximados 16 mil km de extensão. Em outras palavras, a tempestade tem um aspecto relativamente achatado, mas bem mais profundo do que se pensava anteriormente.
“Nós já sabíamos que ela vem durando por muito tempo, mas nunca descobrimos o quão funda ela é ou como ela funciona de fato”, disse Scott Bolton, chefe de investigação da missão Juno, pela Nasa, durante a coletiva que apresentou o vídeo acima à imprensa norte-americana.
Em termos técnicos, pensava-se anteriormente que as tempestades em Júpiter – das quais a Grande Mancha Vermelha é a maior – eram limitadas pela distância de chegada da luz solar no planeta gasoso. Em resumo, a superfície das nuvens é mais evidente. Ali, a luz do Sol penetra até certa distância e existe a condensação de água e amônia.
A realidade, entretanto, é outra: usando o mapeamento em 3D feito pelo MWR, os cientistas puderam perceber que a mancha vermelha está entre 200 km e 500 km para baixo, superando consideravelmente a distância atingida pela luz. Em uma comparação mais simplista, a distância do topo para a base da tempestade em Júpiter é um pouco maior que a da nossa superfície para a Estação Espacial Internacional (ISS).
Mas isso não é tudo: a tempestade em si não é tão notável quanto os jatos que a alimentam – estes estão enraizados a quase 3.000 km. Mas tudo indica que esse poder está diminuindo: de 1979 para cá, a tempestade já perdeu cerca de um terço de seu tamanho.
Outro detalhe interessante é a presença de detalhes naturais que nós também temos aqui. Na Terra, existe o que se convém chamar de “células de Ferrel”: fluxos de ar em direção ao aos pólos e ao oriente quando perto da superfície e em direção ao ocidente e ao Equador em maiores altitudes. Esse movimento é o oposto de outro, chamado “célula de Hadley”. Ambos têm influência no nosso clima.
Em Júpiter, existe algo similar: as nuvens do planeta são movimentadas por fluxos a leste e oeste, com profundidades de 322 km. Quando os cientistas seguiram o caminho percorrido pela amônia condensada, porém, também perceberam fluxos de ventos a norte e sul, em direção aos pólos.
A premissa é igual à nossa, mas com números bem maiores: enquanto a Terra tem uma célula de Ferrel por hemisfério, Júpiter tem 16 – oito para cada lado. Mais além, as células da Terra se estendem por quase 10 km a partir da superfície, enquanto as de Júpiter vão a 322 km.
“Isso significa que as células em Júpiter são pelo menos 30 vezes mais profundas que suas equivalentes na Terra”, disse Keren Duer, estudante de doutorado no Instituto Weizmann de Ciências em Israel.
Isso tudo mostrou um grau elevado de influência nos inúmeros ciclones do planeta gigante: há cinco anos, a sonda Juno coletou informações sobre as tempestades dos pólos de Júpiter. Ao todo, o gigante gasoso tem 13 ciclones em seus pólos – cinco no sul (que formam um pentágono) e oito no norte que formam um octógono.
Esse padrão não mudou cinco anos depois: novamente, a Juno usou seu Mapeador Infravermelho Auroral Joviano (ou, simplesmente, “JIAM”) e descobriu que todos os ciclones estão nos mesmos lugares.
Basicamente, alguns dos ciclones tentavam se aproximar dos pólos, mas a ação das células de Ferrel junto do ciclone ao topo em cada lado os “empurrava” de volta às suas posições originais.
A missão Juno passou por uma extensão recentemente, com a Nasa dizendo que a sonda do tamanho de uma quadra de basquete continuará coletando informações até setembro de 2025 – isto é, se a radiação não a inutilizar antes.
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