Em um acordo pela descarbonização da frota automotiva do Brasil, a Volkswagen e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) acabam de assinar um protocolo de metas.

O plano será feito, segundo comunicado da VW, “promovendo articulações com entidades, desenvolvendo parcerias, disponibilizando instrumentos de apoio financeiro e propondo ações que intensifiquem o estudo de soluções tecnológicas sustentáveis baseadas no uso de energia limpa”.

É um acordo pela estratégia dos biocombustíveis, conforme definida pelo governo federal no Programa Combustível do Futuro, em maio deste ano. Está também em sintonia com a iniciativa conjunta tomada pelas associações da indústria automotiva e canavieira, anunciada semana passada.

O presidente do BNDES assim explicou a posição da entidade: “A economia verde impulsiona mudanças estruturais na indústria automotiva, em linha com o movimento global de descarbonização”.

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O mundo está avançando rapidamente na direção principalmente dos elétricos. Mas o plano para o Brasil é um pouco diferente. Quanto ao Brasil, Gustavo Montezano afirma: “Na mobilidade, diversas alternativas tecnológicas coexistirão, mas as rotas relacionadas à bioeletrificação, considerando a expertise do Brasil em biocombustíveis, promovem rápida e efetiva resposta a esse desafio, tendo o benefício de já contarmos com uma agricultura altamente competitiva e com infraestrutura de abastecimento por todo país.”

Do lado da Volkswagen, o CEO das VW da América Latina Pablo de Si, afirmou: “O acordo com o BNDES vai proporcionar benefícios ambientais, sociais e econômicos, incentivando a pesquisa e o desenvolvimento de uma tecnologia nacional nos tornando aptos para exportar este conhecimento no futuro. Teremos todo o subsídio técnico para avançarmos em nosso Centro de Pesquisa & Desenvolvimento em etanol e outros biocombustíveis”.

A ação da Volkswagen e BNDES, em consonância com outras, é sinal de um movimento cada vez mais claro da indústria: há uma estratégia ativa de manutenção da frota movida a etanol ou biodiesel, que usa motores a combustão interna, diante do abandono dessa tecnologia previsto no resto do mundo, em particular em centros de inovação.

Desafios da biomassa

É um caminho compreensível, e o do menor esforço: a biomassa é neutra em carbono, já está aí, há décadas, e o Brasil desenvolveu tecnologias e infraestrutura para isso. Mas não é uma aposta sem riscos.

No mesmo 2035 que a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotivos prevê 5% de elétricos puros no Brasil, e 95% com motores a combustão interna, sendo 82% sem nenhum tipo de eletrificação, a União Europeia planeja ter banido motores a combustão interna.

Há ineficiências comparativas em energia solar versus biomassa, que produz 1/5 da energia na mesma área que uma usina de painéis solares. Motores a explosão tem 1/3 da eficiência de motores elétricos. A distribuição via caminhões e postos, versus fios, é mais dispendiosas.

A queima de combustíveis fósseis contribuiu para o aumento do hidrogênio atmosférico, ampliando o impacto do aquecimento global
Imagem: OlegRi/Shutterstock

Essa coisas não contam tanto no Brasil, onde já está criada a estrutura da biomassa, mas tornam improvável a adoção no resto do mundo, com o risco do isolamento da tecnologia e mercado no Brasil.

Ha também a preferência do consumidor: se brasileiros aceitarão continuar abastecendo no posto enquanto o resto do planeta abandona a ideia, e objetos do desejo no exterior permanecem fora do alcance.

Quem sabe, nesse ponto, surja um solução “híbrida”. Talvez biomassa para gerar eletricidade, em termelétricas, ou carros elétricos com células de etanol.

Ainda assim, isso não responderia o ponto mais nevrálgico, que é a situação da fronteira agrícola invadindo a Amazônia, invertendo as ideias do plano, e segurança alimentar do Brasil.

Mas, agora com o acordo da Volkswagen e BNDES, o caminho parece estar dado.

Imagem: Leonidas Santana/Shutterstock

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