Cientistas descobriram fósseis nas profundezas de uma caverna sul-africana que formaram parte do crânio de uma criança hominídea. Segundo os pesquisadores, tudo indica que o crânio foi deixado em um compartimento interno da caverna por outros membros de sua espécie, coisa de 250 mil anos atrás, em um possível ritual de morte.
Publicado em dois artigos na revista PaleoAnthropology, o estudo contou com 21 pesquisadores da Universidade de Witwatersrand, da África do Sul, e 13 outras instituições ao redor do mundo.
Descoberta de crânio infantil é um grande mistério
Segundo o site Phys, essa descoberta contribui para o enigma que cerca o Homo naledi – uma espécie de hominídeo da Idade da Pedra identificada há menos de uma década em uma região chamada Berço da Humanidade – em referência aos fósseis impressionantes ali encontrados.
Declarado patrimônio mundial da UNESCO em 1999, o autoproclamado Berço da Humanidade consiste em um complexo de cavernas de calcário a cerca de 50 quilômetros a noroeste de Joanesburgo.
“O verdadeiro mistério sobre essa criança é por que ela foi encontrada onde estava”, disse Lee Berger, o cientista que liderou o projeto. “Algo incrível estava acontecendo nesta caverna entre 200 mil e 300 mil anos atrás”.
Embora os pesquisadores se refiram à criança como “ela”, eles ainda não sabem se era um menino ou uma menina.
Restos fossilizados de crianças são raramente encontrados, porque seus ossos são muito finos e frágeis para sobreviver por eras. Isso reforça a ideia de que a ossada pode ter passado por algum ritual.
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Sabe-se que a criança, provavelmente, tinha apenas entre quatro e seis anos quando morreu, devido aos dentes de leite intactos e os dentes permanentes começando a surgir. Por causa de sua distância das outras descobertas, os investigadores apelidaram a criança de Leti, abreviando a palavra setswana “letimela”, que significa “a perdida”.
Cientistas encontraram quase 2 mil fósseis no local
Segundo os cientistas envolvidos na pesquisa, quase 2 mil fósseis foram encontrados nas cavernas no total, que foram separados em esqueletos parciais de mais de duas dúzias de indivíduos.
Vinte e oito fragmentos de crânio e seis dentes foram encontrados ainda mais fundo no complexo da caverna, a 12 metros de distância da descoberta principal, local cujo acesso se dá através de pequenas fendas que exigiam que os exploradores se espremessem entre as paredes rochosas. Partes da passagem têm apenas 10 centímetros de largura.
De acordo com o explorador Mathabela Tsikoane, uma seção exigia que os pesquisadores deitassem e se puxassem uns aos outros com as mãos estendidas à frente e, em seguida, escalassem uma elevação chamada Costas do Dragão. “É muito, muito difícil”, disse ele. “Você tem que literalmente se esforçar”.
No entanto, para o Homo naledi, a jornada para dentro da caverna poderia ter sido muito mais fácil do que para os pesquisadores, pois eles eram menores do que os humanos modernos.
“Seus corpos também pareciam bem adaptados à escalada”, disse Tebogo Makhubela, um dos cientistas do projeto. “Homo naledi eram melhores escaladores do que nós. O que é difícil para nós pode não ter sido necessariamente difícil para eles”.
Descoberta pode mudar origem conhecida de sepultamentos
Em relação ao crânio de Leti, nenhum outro osso foi encontrado, nem mesmo uma mandíbula, e o crânio não mostrou sinais de danos – como o de um ataque de algum carnívoro.
Segundo Berger, os pesquisadores especulam que outros membros da espécie podem ter colocado o crânio de Leti lá por motivos que podem estar ligados a rituais em torno dos mortos. Por essa linha de pensamento, o local seria usado para sepultamentos.
Se mais evidências apoiarem essa teoria, isso marcaria um repensar dramático sobre a odisseia humana. Isso porque, até agora, os primeiros rituais hominídeos conhecidos associados à morte datam de 50 mil a 100 mil anos atrás.
E essa recente descoberta pode empurrar evidências desse comportamento – um sinal de pesar e possivelmente crença – para muito antes disso.
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