Há mais de dez anos, uma manifestação pacífica pró-democracia contra o presidente da Síria acabou transformando o país no palco de uma violenta e extensa guerra civil, que já registrou mais de meio milhão de mortos. Como se não bastasse, os sírios vêm sofrendo com uma persistente seca, desde 2007, que foi ainda mais agravada pelos conflitos, que destruíram ou danificaram metade dos poços locais.
Segundo a Agence France-Presse (AFP), as mudanças climáticas causadas pelo homem, responsáveis pelo aumento na frequência de estiagens e incêndios florestais em todo o mundo, fazem com que a Síria esteja passando por um dos anos mais secos e quentes já registrados, depois de chuvas historicamente baixas no último inverno.
A escassez de chuvas, os danos estruturais provocados pela guerra e a extração de água por agricultores em dificuldades esvaziaram por completo um reservatório importante no noroeste do país, deixando-o totalmente seco pela primeira vez na história.
É possível andar no fundo do reservatório seco na Síria
Fonte chave de abastecimento para milhares de pessoas e de irrigação para mais de 150 hectares de terras agrícolas onde vivem cerca de 800 famílias, o reservatório formado pela Barragem Al-Duwaysat, na província de Idlib, nunca esteve nessa situação desde a sua construção, há 27 anos.
De acordo com o Banco Mundial, o leito da bacia, que tem capacidade para 3,6 milhões de metros cúbicos, está repleto de barcos a remo encalhados, ossadas de animais e árvores mortas por toda sua extensão.
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“Por causa da seca e do baixo índice pluviométrico, agora podemos andar no fundo do reservatório”, disse o engenheiro-chefe da reserva, Maher al-Hussein, lembrando que ele estava em capacidade máxima há apenas dois anos.
Com as baixas chuvas no último inverno, o reservatório ficou pela metade, e toda a água foi usada para irrigação por agricultores que tentavam salvar suas safras, segundo Hussein.
Além disso, danos na tubulação principal que alimenta a água do reservatório para as redes de irrigação causaram vazamentos significativos, reduzindo ainda mais o volume que chega aos campos.
“Há 10 anos viemos para este reservatório”, disse o pecuarista Abu Joumaa. “Se Deus não nos enviar boas chuvas que poderiam encher o reservatório este ano, as pessoas não poderão cultivar as safras de que dependem para sobreviver”.
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