Pássaros na região amazônica estão respondendo ao aquecimento global ao adaptarem seus tamanhos e outras propriedades de seus corpos para lidar com o aumento da temperatura, de acordo com um novo estudo publicado pela Universidade do Estado da Louisiana (LSU) no jornal Science Advances.

O paper analisou dados coletados nos últimos 40 anos, indicando que não só algumas espécies de pássaros em áreas remotas do que já foi considerado “o pulmão do mundo” desapareceram, como as mudanças físicas nas espécies que restaram ocorreram paralelamente ao avanço do aquecimento global.

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O pesquisador Vitek Jirinec, que identificou alterações nos corpos de pássaros da Amazônia em resposta ao aquecimento global
O pesquisador Vitek Jirinec, que identificou alterações nos corpos de pássaros da Amazônia em resposta ao aquecimento global (Imagem: VITEK JIRINEC/LSU/Reprodução)

“Mesmo no centro da floresta amazônica, nós já estamos vendo os efeitos globalizados das mudanças climáticas causadas pelo ser humano, incluindo nós”, disse Vitek Jirinec, estudante de Ph.D da LSU e ecologista assistente do Integral Ecology Research Center, ligado à instituição de ensino.

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De acordo com Jirinec, as mudanças mais evidentes estão nos troncos e asas dos animais: alguns pássaros encolheram, ao mesmo tempo em que ampliaram a envergadura de suas asas. A premissa, aparentemente, é a de que a massa reduzida dos animais e as asas maiores, quando abertas, facilitam a redução da temperatura interna dos animais.

O especialista indica que tais mudanças podem ter vindo de mudanças nos hábitos alimentares dos pássaros, que viram algumas de suas comidas preferidas desaparecerem devido ao aumento da temperatura da Terra.

“Esses pássaros não variam muito em tamanho. Eles são relativamente equilibrados, então quando uma população inteira perde alguns gramas de peso, é algo significativo”, disse o co-autor Philip Stouffer, que também é professor de Recursos Naturais Renováveis na LSU. “Sem dúvida, isso está acontecendo em todo lugar – e não só com pássaros. Se você olhar pela janela agora e considerar o que estiver enxergando, as condições disso não são as mesmas de 40 anos atrás, e é bem provável que plantas e animais estejam respondendo a essas mudanças. Nós temos essa percepção de que aquilo que vemos está fixo no tempo, mas se esses pássaros desafiam isso, então pode ser que essa noção não seja verdadeira”.

Os dois cientistas analisaram 77 espécies variando das regiões mais densas, frias e baixas da floresta amazônica, até as áreas mais centralizadas e altas. Eles perceberam que os pássaros que voam mais alto tendem a ser mais expostos ao calor e a condições de ar mais seco, o que se traduziu em mudanças mais evidentes de seus corpos.

Em termos práticos, pense em um avião com um corpo pesado e asas curtas – ele certamente demanda muita energia para levantar e se manter em voo (ou seja, mais combustível gasto, mais aceleração no motor etc.). Paralelamente, um planador com asas longas e cabine reduzida pode se alçar aos céus com bem menos energia.

No caso dos pássaros, se um deles tem asas maiores, então ele precisa batê-las mais rápido para se manter voando. Isso, em contrapartida, se traduz em mais gasto energético e maior produção de calor. O aquecimento global entra na equação ao forçar essa modificação corporal para que os pássaros se mantenham resfriados diante da temperatura mais quente.

O problema: o Brasil, onde a floresta amazônica é mais abundante, aumentou sua média de emissão de gás carbônico, um dos gases que contribuem com o efeito estufa e, daí, com o aquecimento global. Em outras palavras, a situação ainda vai piorar antes de melhorar – e os cientistas dizem que não há como saber se os pássaros terão a capacidade de continuar se adaptando, argumentando que a natureza só consegue ir até certo ponto e que mais estudos serão necessários.

“Pode ser que pesquisadores de outros países tenham dados relevantes das décadas de 1970 e 1980 que possam ser comparados a informações modernas, pois o protocolo analítico que usamos é bem padronizado”, disse Stouffer. “Então se você medir massa e envergadura das asas, talvez novas bases de dados apareçam e nós possamos ter uma ideia mais aprofundada da variação espacial e como ela muda em diferentes sistemas”.

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