A ideia de que o objeto interestelar ‘Oumuamua, que passou próximo da Terra em outubro de 2017, seja um destroço de um exoplaneta similar a Plutão não pode ser explicada por nenhum modelo natural, segundo novo estudo pendente de revisão na plataforma arXiv.

Intitulado “The Mass Budget Necessary to Explain ‘Oumuamua as a Nitrogen Iceberg” (“O Coeficiente de Massa Necessário para explicar o ’Oumuamua como um Iceberg de Nitrogênio”, na tradução direta), os autores Amir Siraj e Abraham Loeb argumentam que, basicamente, não há uma população de planetas do tipo para justificar a natureza do objeto interestelar com um destroço de gelo de nitrogênio. 

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Tal premissa havia sido postulada por estudos anteriores, que diziam que o Oumuamua seria um pedaço desgarrado de um planeta parecido com Plutão, vítima de um impacto violento com outro objeto.

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“Nossos cálculos são bem diretos”, disse Siraj ao Phys.org. “Nós pegamos todos os parâmetros de icebergs de nitrogênio, a abundância de material que seria necessária para explicar objetos similares ao Oumuamua e conhecimentos básicos sobre estrelas na galáxia, derivando desses valores a massa total de materiais metálicos necessários para serem convertidos em [planetas] exoplutonianos, para que a teoria de nitrogênio fosse plausível”.

Imagem da Nasa sobre a passagem do 'Oumuamua em 2017
Captura de imagem da passagem do ‘Oumuamua, em 2017: até hoje, natureza do objeto interestelar é objeto de estudo e muita confusão na comunidade científica (Imagem: Alan Fitzsimmons (ARC, Queen’s University Belfast), Isaac Newton Group)

Segundo os especialistas, a conclusão dos cálculos foi a de que não há como haver material suficiente em um sistema estelar – ou seja, gelo de nitrogênio – para existir uma população suficientemente robusta de planetas exoplutonianos (um tipo de planeta similar a Plutão, mas que orbita fora de nosso sistema solar). Vale lembrar que Plutão foi reclassificado em 2006, então por “planetas exoplutonianos”, deve-se entender um objeto com configuração igual ao nosso ex-planeta, mas que ele próprio seja, em si, um planeta.

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Voltando ao assunto principal: Siraj e Loeb ainda reforçam suas conclusões ao citarem a forma como raios cósmicos destroem objetos interestelares como o ‘Oumuamua. Segundo eles, “o maior problema da teoria do iceberg de nitrogênio é o de que, para produzir a população necessária de tais objetos, seria necessária uma massa 10 vezes maior que todas as estrelas da Via Láctea para ser convertida em exoplutonianos – e ao levarmos em conta a erosão causada por raios cósmicos em icebergs de nitrogênio, tal massa teria que ser pelo menos mil vezes maior”.

Em outras palavras, os números calculados pelos dois especialistas tornam a proposta do ‘Oumuama como um iceberg de nitrogênio simplesmente impossível, haja vista que apenas uma pequena fração da massa estelar em nossa galáxia é usada na formação de planetas exoplutonianos.

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Para Loeb, seu estudo serve como reforço para outra teoria – que ele próprio desenvolveu -, que afirma que o ‘Oumuamua é, na verdade, uma “vela solar”, ou seja, uma superfície reflexiva criada para gerar propulsão a uma nave ou outro transporte por meio da pressão causada pela radiação solar.

Mas calma: Loeb não está afirmando que “são alienígenas” – aliás, ninguém na comunidade científica fez tal suposição. Em sua teoria original, o professor e astrônomo aferiu o comportamento do ‘Oumuamua como consistente com uma vela solar – sua natureza reflexiva, seu formato alongado (como um charuto) e achatado (como uma panqueca), bem como sua aceleração e desvio de órbita natural.

Mais além, há que se considerar a forma como o ‘Oumuama entrou em nossa “vizinhança”: ele chegou ao ponto mais próximo do nosso Sol (periélio), o que lhe permitiu fazer uma passagem bastante próxima pela Terra – mais ou menos como nós fazemos quando enviamos as nossas sondas de estudo planetário. Loeb detalhou tudo isso em seu livro “Extraterrestrial: The First Sign of Intelligent Life Beyond Earth” (sem edição no Brasil), que Loeb escreveu antes da nova pesquisa.

Em conclusão: a verdadeira natureza do ‘Oumuama ainda é, para nós, um mistério completo. Aos poucos, estamos chegando em uma resposta, por meio da eliminação prática de outras teorias. “o modelo do iceberg de nitrogênio, agora, é uma carta fora do baralho”, disse Siraj.

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