Na última semana, a Nasa anunciou que o primeiro voo tripulado à Lua no programa Artemis, depois de mais de 50 anos desde a última missão, não acontecerá em 2024, como programado. Em vez disso, segundo o administrador Bill Nelson, ele será realizado “não antes de 2025”. No entanto, um novo relatório emitido pela agência espacial norte-americana diz que o atraso pode ser muito maior.
“Dado o tempo necessário para desenvolver e testar totalmente o HLS e os novos trajes espaciais, projetamos que a Nasa excederá seu cronograma atual para pousar humanos na Lua no final de 2024 por vários anos”, afirma o relatório, divulgado na segunda-feira (15).
O documento se refere à Starship Harmonized Landsat and Sentinel-2, uma variante do módulo lunar da nave espacial que transfere astronautas de uma órbita lunar para a superfície da Lua e vice-versa – um elemento fundamental do programa Artemis.
Como se sabe, o programa depende de um conjunto de veículos complicados, todos trabalhando juntos para levar os astronautas com segurança à Lua, o que inclui o novo e complexo foguete chamado Sistema de Lançamento Espacial, ou SLS, que enviará pessoas ao espaço profundo dentro de uma nova cápsula chamada Orion.
Enquanto isso, a SpaceX está desenvolvendo sua Starship para transportar pessoas de e para a superfície lunar para a Nasa – parte de um contrato de US$2,9 bilhões concedido à empresa em abril.
No entanto, a Starship está apenas nos estágios iniciais de desenvolvimento e ainda não foi lançada em órbita. SLS e Orion também não fizeram seu primeiro voo juntos, algo que só deve acontecer em fevereiro de 2022.
Por essas razões, o parecer do OIG, que ainda detalha todo o trabalho que resta a ser feito pelas equipes da missão Artemis, considera a data de desembarque ainda muito distante.
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Processo da Blue Origin contra a Nasa atrapalhou o cronograma de retorno à Lua
Ao anunciar o adiamento para 2025, a Nasa atribuiu o ajuste a vários fatores, como os atrasos causados pela pandemia de Covid-19, mudanças no escopo de alguns dos programas, bem como um entrave judicial em andamento que sufocou o desenvolvimento do módulo lunar da SpaceX.
Trata-se do processo que a empresa espacial rival Blue Origin moveu contra a agência, já que também esperava firmar um contrato para desenvolver uma sonda lunar. Enquanto não saía a decisão do litígio (que foi desfavorável à empresa de Jeff Bezos), a Nasa e a SpaceX foram impedidas de continuar trabalhando no módulo de pouso.
Embora reconheça que o processo teve um impacto significativo no cronograma geral, o OIG ressalta que o cronograma de desenvolvimento da nave espacial da SpaceX é “excessivamente otimista”. O CEO da empresa, Elon Musk, continua fazendo previsões ousadas para o primeiro grande teste de lançamento do Starship, alegando várias vezes que estaria pronto para voar para a órbita pela primeira vez ainda neste ano.
No entanto, o relatório do OIG estima que o primeiro teste de voo orbital da nave espacial ocorrerá apenas no segundo trimestre de 2022. O documento reconhece que a SpaceX pode ganhar tempo devido ao seu ritmo veloz de testes em comparação aos programas anteriores de voos espaciais da Nasa. Mas diz que ainda há muito trabalho a ser feito após o teste de voo orbital da Starship.
Por exemplo: o veículo precisaria ser reabastecido enquanto em órbita, a fim de ter propelente suficiente para chegar à Lua – e a SpaceX ainda precisa testar essa capacidade, algo que nunca fez antes.
Além disso, destaca o relatório, a Starship terá que realizar um pouso não tripulado antes de fazer um com as pessoas a bordo. Todos esses marcos, combinados com muitos dos outros programas que precisam ser concluídos, fazem o OIG estimar um pouso lunar tripulado para, pelo menos, 2026 – se tudo correr bem.
Missão Artemis I deve ser adiada em seis meses
Não é apenas a programação da SpaceX que está equivocada aos olhos do inspetor geral da Nasa. O documento também diz que a missão Artemis I, por meio da qual o combo SLS/Orion voará por uma semana ao redor da Lua, sem tripulação, não poderá acontecer em fevereiro de 2022. Para o OIG, esse voo inaugural do sistema só será possível no segundo semestre. Um atraso pequeno, já que, originalmente, era para ter sido no início de 2017.
Talvez a descoberta mais chocante do relatório seja o alto custo do programa. O OIG estima que a Nasa terá investido US$93 bilhões no Artemis entre 2012 e 2025. E cada voo do SLS com o Orion no topo custará cerca de US$4,1 bilhões – mais que o dobro da estimativa do Escritório de Administração e Orçamento da Casa Branca, que afirmou que o SLS custaria mais de US$2 bilhões para voar a cada vez.
Isso acontece, de acordo com o relatório do OIG, por causa da forma como se deu o contrato do SLS e do Orion. Os veículos estão sendo construídos pela Boeing e Lockheed Martin, respectivamente, sob um tipo de acordo conhecido como cost-plus. Esse método permite que a Nasa tenha supervisão substancial no processo de desenvolvimento e continue a fornecer fundos adicionais para os contratantes se as despesas ultrapassarem o orçamento.
Por outro lado, a nave estelar da SpaceX está sendo construída por meio de um contrato de preço fixo. Nesse caso, a Nasa tem menos supervisão e fornece uma única quantia em dinheiro para o desenvolvimento do veículo, enquanto a contratada investe recursos próprios.
O OIG observa que a adesão a contratos de preço fixo pode ajudar a Nasa a reduzir custos. “Com os recursos emergentes fornecidos por parceiros comerciais, a agência pode ter opções futuras que podem ajudar a controlar os custos para cumprir suas metas de exploração”, afirma o relatório.
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