O mosaico central de um edifício romano foi desenterrado em uma propriedade de um fazendeiro no Reino Unido, após recomendação do Departamento de Cultura, Mídia, Digital e Esporte (DCMS) da Inglaterra de estabelecer uma ordem de proteção histórica à área.

A decisão vem como forma de assegurar a continuidade de um trabalho iniciado há cerca de um ano pela Universidade de Leicester. Em 2020, Jim Irvine, filho do proprietário Brian Taylor, encontrou os primeiros sinais de que o edifício romano estaria sob a propriedade de sua família. Ele prontamente entrou em contato com as autoridades, mas a quarentena contra a Covid-19 estabelecida na época causou atraso nas análises técnicas e início das escavações.

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Historiador limpa amostra de mosaico encontrado em edifício romano, na Inglaterra
Historiador limpa amostra de mosaico encontrado em edifício romano, na Inglaterra (Imagem: Historic England/Universidade de Leicester/Reprodução)

Dada a natureza da descoberta, a universidade concedeu financiamento para o início urgente de escavações e retirada de materiais essenciais. Em setembro de 2021, alunos e professores da faculdade identificaram o mosaico principal, medindo 11×7 metros (m) e contando parte da história do guerreiro Aquiles – um dos personagens mais conhecidos do conto “Ilíada”, de Homero, que narra os eventos da Guerra de Tróia na mitologia grega.

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De acordo com o estilo artístico e os desenhos vistos no chão do edifício romano, os especialistas presumiram estar em uma área pública, provavelmente um salão de grandes jantares ou palco alguma outra forma de entretenimento. Mosaicos desse tipo eram comumente encontrados na arquitetura romana, sempre exibindo contos mitológicos e grandes histórias.

Apelidado “Mosaico de Rutland”, a peça mostra especificamente a luta de Aquiles contra o príncipe Heitor, filho de Príamo, rei de Tróia. Segundo o conto da Ilíada, Aquiles matou Heitor em um estado de fúria após o príncipe ter assassinado Pátroclo, amigo de infância, companheiro de guerra e (segundo historiadores contemporâneos) amante do guerreiro grego.

O prédio é parte de uma vila completa estabelecida no final do período romano, entre os séculos 3 e 4. Neste período, historiadores afirmam que o Império Romano, logo após o assassinato do imperador Alexandre Severo, entrou em crise, enfrentando extrema dificuldade econômica causada pela inflação, bem como perdendo cada vez mais terreno para as invasões bárbaras, eventualmente se dividindo entre o Império das Gálias, a oeste; e o Império de Palmira, a leste.

O mosaico romano de Rutland, encontrado sob as terras de um fazendeiro na Inglaterra
O mosaico romano de Rutland, encontrado sob as terras de um fazendeiro na Inglaterra ( Historic England/Universidade de Leicester/Reprodução)

Análises revelaram que o mosaico em questão tem danos por fogo e fraturas, o que indica que a área foi reutilizada ou reformada em anos posteriores. Restos humanos também foram encontrados nos escombros que cobriam o mosaico, provavelmente oriundos de funerais realizados quando o edifício romano não era mais ocupado – os restos datam de períodos posteriores à construção, embora os cientistas ainda não saibam determinar quanto.

“Esta é certamente a mais empolgante descoberta de um mosaico romano no Reino Unido neste último século”, disse John Thomas, diretor em exercício da Universidade de Leicester e gerente de projeto das escavações. “Ela nos dá perspectivas inéditas nas atitudes das pessoas da época, seus relacionamentos com a literatura clássica, além de nos contar em grande detalhe sobre o indivíduo que encomendou essa peça – claramente, uma pessoa com conhecimento clássico, erudito, que tinha o dinheiro para encomendar um trabalho tão detalhado”.

Thomas ainda ressaltou o fato de que o entorno do edifício romano também está bastante preservado, embora atividades fazendeiras contemporâneas tenham danificado algumas estruturas. “Escavações anteriores conseguiram capturar apenas imagens parciais de assentamentos do tipo, mas esse aparenta estar bem preservado”.

John Irvine, que fez a descoberta inicial, disse que sentiu sua curiosidade ficar mais aguçada após ter se deparado com itens de cerâmica que não reconheceu de imediato. “Estavam em meio ao trigo”, ele disse, “então eu olhei algumas imagens de satélite depois e vi marcas claríssimas em meio à colheita, como se alguém tivesse desenhado no meu computador com giz”.

Os trabalhos ao redor do edifício romano continuam, conforme os especialistas exploram seu entorno para tentar descobrir mais informações. A descoberta do Mosaico de Rutland será peça principal do programa Digging for Britain, quando a sua nova temporada estrear na emissora BBC no início de 2022.

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