No início da semana, o Olhar Digital divulgou a descoberta do que podem ser as joias mais antigas do mundo: contas de conchas escavadas no Marrocos que teriam mais de 150 mil anos. Agora, um pingente de marfim encontrado em uma caverna na Polônia é o mais antigo registro da habilidade humana de decorar adereços.
Uma equipe internacional de cientistas alemães, italianos e poloneses elaborou um estudo, publicado na revista Scientific Reports, que descreve a descoberta feita na Caverna de Stajnia, um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo, que fica nas proximidades do município de Bobolice.
Estudo da amostra contou com uso de metodologias digitais
De acordo com a pesquisa, o pingente de marfim é decorado com um padrão de pelo menos 50 furos, criando uma curva irregular. A datação de radiocarbono do ornamento sugere uma idade de 41,5 mil anos – o que o torna o objeto pontilhado mais antigo conhecido até hoje na região, precedendo outras descobertas desse tipo de atividade de decoração em quase 2 mil anos. Isso amplia nosso conhecimento atual sobre o momento do aparecimento de objetos decorativos pelo Homo sapiens na Eurásia.
“Determinar a idade exata desta joia foi fundamental para sua atribuição cultural, e estamos entusiasmados com o resultado. Este trabalho demonstra que o uso dos mais recentes avanços metodológicos no radiocarbono nos permite minimizar a quantidade de amostragem e obter datas altamente precisas com um intervalo de erro muito pequeno”, disse Sahra Talamo, autora líder do estudo e diretora do laboratório de radiocarbono BRAVHO, do Departamento de Química da Universidade de Bolonha, na Itália.
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Junto do pingente, também foi encontrado uma espécie de furador de osso. “Se quisermos resolver seriamente o debate sobre quando a arte mobiliar surgiu nos grupos paleolíticos, precisamos datar por radiocarbono esses ornamentos, especialmente aqueles encontrados durante trabalhos de campo anteriores ou em sequências estratigráficas complexas”, explicou.
Outras técnicas utilizadas no estudo do pingente e do furador, além da datação por radiocarbono, foram metodologias digitais a partir das varreduras microtomográficas dos objetos. “Por meio de técnicas de modelagem 3D, os achados foram virtualmente reconstruídos, e o pingente devidamente restaurado, permitindo medições detalhadas e subsidiando a descrição das decorações”, revelou Stefano Benazzi, diretor do Laboratório de Osteoarqueologia e Paleoantropologia do Departamento de Patrimônio Cultural da Universidade de Bolonha, coautor da pesquisa.
Descoberta traz novos entendimentos sobre a presença do Homo sapiens na Polônia
Segundo o artigo científico, o ornamento pessoal foi descoberto em 2010, entre ossos de animais e algumas ferramentas de pedra do Paleolítico Superior, durante um trabalho de campo dirigido pelo coautor Mikołaj Urbanowski, arqueólogo do Instituto de História e Relações Internacionais da Universidade de Szczecin, Polônia.
“Esta joia mostra a grande criatividade e extraordinária habilidade manual dos membros do grupo de Homo sapiens que ocuparam o local. A espessura da placa é de cerca de 3,7 milímetros, mostrando uma precisão surpreendente no entalhe dos furos e nos dois orifícios para usá-la”, declarou a coautora do estudo Wioletta Nowaczewska, paleoantropóloga da Universidade de Wroclaw.
Em estudos sobre a primeira expansão do Homo sapiens na Europa, o território da Polônia é frequentemente excluído, sugerindo que permaneceu deserto por vários milênios após a morte dos Neandertais. “As idades do pingente de marfim e do furador de osso encontrados na Caverna de Stajnia finalmente demonstram que a dispersão do Homo sapiens na Polônia ocorreu já na Europa Central e Ocidental. Esse resultado notável mudará a perspectiva de quão adaptáveis esses primeiros grupos de humanos eram e questionar o modelo monocêntrico de difusão da inovação artística no período Aurignaciano”, disse a coautora Andrea Picin, arqueóloga do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária de Leipzig, especialista no Paleolítico.
Análises mais detalhadas sobre as descobertas da Caverna de Stajnia e de outros locais na Polônia estão em andamento e prometem fornecer mais insights sobre as estratégias de produção de ornamentos pessoais na região centro-ocidental da Europa.
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