As acusações de assédio moral e sexual dentro da Activision chegaram a um novo patamar com uma reportagem do Wall Street Journal, implicando o CEO da empresa, Bobby Kotick, de ter conhecimento prévio dos problemas bem antes de eles “estourarem” na mídia internacional.

A matéria veiculada no jornal tira sua base de uma série de documentos que lhes foram oferecidos por fontes, citando situações que pintam uma situação complicada ao CEO, que vão desde não agir diante de reclamações até falhar em notificar membros do board de investidores e diretores de acordos legais relacionados a um possível estupro.

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Foto mostra o CEO da Activision, Bobby Kotick. Empresa vem sendo acusada de assédio sexual e ocultação de casos desde julho de 2021.
O CEO da Activision, Robert “Bobby” Kotick, chegou a admitir possibilidade de renúncia ao cargo caso situações de assédio sexual na empresa não fossem resolvidas, mas reportagem recente afirma que ele sabia de várias situações e escolheu não agir (Imagem: Activision Blizzard/Divulgação)

Desde julho deste ano, a empresa por trás de franquias de jogos como Call of Duty, Crash Bandicoot e World of Warcraft, para citar algumas, vem sendo acusada de “permissividade de uma cultura de assédio sexual constante”. Desde então, a Activision vem se defendendo com unhas e dentes, prometendo acabar com o problema à medida que novos casos vêm tomando a luz na mídia – como um funcionário ter filmado mulheres dentro do banheiro das dependências da companhia.

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De lá para cá, a Activision vem tentando reverter a imagem extremamente negativa trazida pela investigação levada contra ela pelo estado da Califórnia: em setembro, a Blizzard, sua subsidiária, criou um fundo de US$ 18 milhões (R$ 100,67 milhões) para auxílios variados às vítimas de assédio. Fora isso, mais de 20 pessoas em variados cargos foram demitidas ou pediram demissão, incluindo J. Allen Brack, o agora ex-presidente da Blizzard.

Claro, não ajudou muito o fato de que, em meio a tudo isso, Bobby Kotick recebeu US$ 155 milhões (R$ 867,09 milhões) como participação no lucro de quase US$ 9 bilhões (R$ 50,35 bilhões) da empresa – o que fez com que o público considerasse o fundo citado acima como sendo de valor irrisório ou insuficiente.

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Nas divulgações mais recentes, o Wall Street Journal mostra uma série de e-mails e memorandos consideravelmente preocupantes: em alguns documentos, há diversos elogios e reconhecimentos oferecidos a funcionários que já haviam deixado a Activision durante os casos de assédio sexual – o que sugere que o material é recente.

Outro documento revela que Bobby Kotick estava ciente de um caso de estupro envolvendo um supervisor da companhia – a situação foi resolvida por meio de acordo e a vítima foi coibida a não mais tratar publicamente do assunto. Kotick não teria avisado os investidores da empresa desse fato.

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Em documentos mais antigos, o jornal revelou uma ameaça feita pelo próprio Kotick a uma assistente, onde ele dizia que iria matá-la. De acordo com um porta-voz da Activision, a frase foi dita em tom de brincadeira.

Ex-líder de projetos na Activision, Jen Oneal também disse ser vítima de assédio sexual na empresa, tendo comunicado seu caso ao time jurídico da companhia, sem retorno. Ela ainda cita outra ocasião – uma festa que contou com a presença do próprio Bobby Kotick – “recheada de mulheres seminuas dançando em postes de strip tease”. Em tal festa, disse Oneal, as funcionárias mulheres eram constantemente encorajadas a “beberem mais”.

Vale lembrar que Oneal foi nomeada chefe da Blizzard após a saída de Allen Brack, mas ela própria confirmou deixar a empresa pouco tempo depois – “a melhor decisão para mim e minha família”, ela disse à época.

O outro lado

Em resposta à reportagem do Wall Street Journal, a Activision disse que, em meio às acusações de assédio sexual, o texto é “impreciso” e “enganoso”. Veja trechos do comentário a seguir:

“Estamos decepcionados com a reportagem do Wall Street Journal, que representa uma visão imprecisa e enganosa da Activision Blizzard e do nosso CEO. Os casos de má conduta sexual que foram levados à sua atenção tiveram uma resposta direta. O WSJ ignora as importantes mudanças que estão em curso para tornar este o local de trabalho mais receptivo e inclusivo da indústria, e falha em reconhecer os esforços de milhares de funcionários que trabalham duro todos os dias para fazerem justiça aos seus — e aos nossos — valores”.

“O constante desejo de ser cada vez melhor sempre destacou esta empresa. E é por isso que, graças ao direcionamento do Sr. Kotick, nós fizemos melhorias significativas, incluindo uma política de tolerância zero para condutas inapropriadas. E é por isso que seguimos em frente sem perder o nosso foco e velocidade, dedicando recursos para continuar ampliando a nossa diversidade não apenas na empresa, mas em toda a indústria, bem como assegurar que todo funcionário venha trabalhar com o sentimento de segurança, valorização, respeito e inspiração. Nós não vamos parar até sermos o melhor lugar para se trabalhar”.

Kotick publicou um vídeo – transcrito pelo site oficial da Activision – onde também chama a reportagem com os mesmos adjetivos: “imprecisa” e “enganosa”. Após a publicação dos comunicados, a entidade “ABetterABK”, formada em reação à Activision e as acusações de cultura de assédio sexual, anunciou pelo Twitter a realização de passeatas até que o CEO seja removido do cargo.

Robert “Bobby” Kotick vem liderando a Activision desde 1991, e esteve presente em alguns dos principais feitos da empresa, como a aquisição da Blizzard Entertainment (que resultou no rebranding que fez a companhia passar a atender por “Activision Blizzard” desde então). O board de diretores da companhia – do qual o próprio Kotick é membro majoritário – disse, em nota, que o CEO “agiu apropriadamente” no enfrentamento às acusações.

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