A vida do norte-americano Brian Shelton foi marcada pela diabetes tipo 1. Ou seja, quando o açúcar no sangue despencava, ele perdia a consciência. O impacto foi tanto, que ele até já bateu com sua moto contra a parede e desmaiou no quintal de um cliente enquanto entregava correspondência.

No início deste ano, sua ex-mulher, Cindy Shelton, descobriu uma convocação para que pessoas com diabetes tipo 1 participassem de um ensaio clínico da Vertex Pharmaceuticals. Nisso, a empresa estava testando um tratamento desenvolvido por um cientista que prometeu encontrar a cura.

Brian Shelton foi o primeiro paciente e recebeu uma infusão de células, cultivadas a partir de células-tronco, mas exatamente como as células do pâncreas produtoras da insulina que faltavam em seu corpo. Então, agora, seu organismo consegue controlar automaticamente os níveis de insulina e de açúcar no sangue.

Depois disso, Brian pode ser a primeira pessoa a ser curada da doença com um novo tratamento. Tanto que especialistas estão confiantes de que a ajuda está chegando para muitos dos 1,5 milhão de norte-americanos que sofrem de diabetes tipo 1.

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“Esperamos literalmente há décadas para que isso acontecesse”, disse Irl Hirsch, um especialista em diabetes da Universidade de Washington que não esteve envolvido na pesquisa. Ele também quer saber se haverá efeitos adversos imprevistos e se as células durarão por toda a vida ou se o tratamento terá de ser repetido.

Imagem mostra um dedo perfurado, com uma gota de sangue à mostra. Na outra mão, um teste de diabetes
Imagem: Syda Productions/Shutterstock

Já Peter Butler, um especialista em diabetes da UCLA – também não esteve envolvido com a pesquisa – concordou oferecendo as mesmas ressalvas: “É um resultado notável. Ser capaz de reverter o diabetes devolvendo-lhes as células que faltam é comparável ao milagre que foi quando a insulina foi disponibilizada pela primeira vez há 100 anos.”

Pesquisa para cura da diabetes custou US$ 50 milhões

Tudo começou com uma pesquisa de 30 anos conduzida por Doug Melton, um biólogo da Universidade de Harvard. Ele estava estudando o desenvolvimento de sapos, só que abandonou esse trabalho, determinado a encontrar uma cura para o diabetes, pelo impacto que a doença teve na sua família.

Ele se voltou para as células-tronco embrionárias, que têm o potencial de se transformar em qualquer célula do corpo. O objetivo era transformá-las em células de ilhotas para tratar pacientes. Um problema era a origem das células, que vinham de óvulos fertilizados não usados de uma clínica de fertilidade.

Porém, em agosto de 2001, o presidente norte-americano da época, George W. Bush, proibiu o uso de dinheiro federal em pesquisas com embriões humanos. Portanto, Melton teve que separar seu laboratório de células-tronco de todo o resto em Harvard.

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A próxima etapa — um ensaio clínico em pacientes — precisaria de uma empresa grande, bem financiada e experiente com centenas de funcionários para poder fazer acontecer. Além de que tudo tinha que ser feito de acordo com os padrões exigentes da Food and Drug Administration (FDA, agência reguladora americana).

Muitos anos depois, em abril de 2019, em uma reunião no Hospital Geral de Massachusetts, Melton encontrou um ex-colega, David Altshuler, que havia sido professor de genética e medicina em Harvard e vice-diretor do Instituto Broad. Altshuler havia se tornado o diretor científico da Vertex Pharmaceuticals e perguntou a Melton o que havia de novo.

Oito semanas depois, a Vertex adquiriu a empresa por US$ 950 milhões. E até o momento, não será anunciado o preço para seu tratamento para diabetes até que ele seja aprovado e provável que seja caro. O desafio da Vertex era garantir que o processo de produção funcionasse sempre e que as células estariam seguras se injetadas nos pacientes.

Em seguida, a FDA permitiu que a Vertex iniciasse um ensaio clínico com Brian Shelton como seu paciente inicial. Para isso, Shelton precisa tomar medicamentos que suprimem seu sistema imunológico.

Cirurgia para diabetes com robôs
Imagem: Divulgação

O tratamento de Brian Shelton é conhecido como teste de segurança de fase inicial e exigia um acompanhamento cuidadoso, além de começar com metade da dose que seria usada posteriormente no teste, observou James Markmann, cirurgião de Shelton no hospital que trabalha com a Vertex no teste.

“O resultado é muito impressionante, é um verdadeiro salto em frente para este campo”, disse Markmann. Inclusive, no mês passado, a Vertex estava pronta para contar os resultados a Melton.

Para Brian Shelton, o momento da verdade veio Poucos dias pós o procedimento, quando Brian Shelton deixou o hospital. Foi quando ele mediu o açúcar no sangue, fez uma refeição e viu que seu açúcar no sangue permaneceu na faixa normal.

Fonte: O Globo

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