Um candidato a Ph.D da Universidade do Arizona descobriu sinais antigos de presença de água em Arabia Terra, ao norte de Marte, como parte de um esforço colaborativo de pesquisa que também envolve a NASA e a Universidade Johns Hopkins.

Arabia Terra é uma região pouco maior que o nosso continente europeu, localizada ao norte de Marte. A área é recheada de crateras, caldeiras vulcânicas, cânions e rochas sedimentares – estas últimas, o foco do estudo assinado por Ari Koeppel e publicado no jornal científico Geology.

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Imagem de uma montanha marciana. Formações rochosas geralmente escondem sinais de água em Marte
As formações rochosas de algumas partes de Marte têm característica sedimentar, ou seja, em algum momento no passado mais distante, elas estavam em um ambiente com água (Imagem: Lubo Ivanko/Shutterstock)

“Nós estávamos especificamente interessados no monitoramento de rochas da superfície de Marte para ter uma compreensão melhor de ambientes antigos – de três ou quatro bilhões de anos atrás – e também descobrir se, naquela época, poderia haver condições climáticas que facilitassem a vida na superfície”, disse Koeppel. “Queríamos averiguar se poderia haver água em grau estável, como poderia ser a atmosfera e a temperatura da superfície”.

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Segundo o especialista, a equipe estudou as possibilidades de “inércia térmica” de vários objetos. Basicamente, isso refere-se à habilidade de perder calor muito rápido (como acontece com grãos de areia ou poeira) ou mais devagar (como é o caso de rochas). Ao analisar as temperaturas da superfície Koeppel e o restante do time conseguiram determinar se um material estava mais solto, erodindo com mais velocidade e, consequentemente, esfriava mais rápido.

A partir daí, eles usaram instrumentos de análise remota presentes em satélites. “Assim como geólogos na Terra, nós olhamos para rochas para desvendarmos a história de ambientes do passado”, disse Koeppel. “No caso de Marte, nós estamos mais limitados. Não podemos simplesmente ir pessoalmente até uma pedra e coletar uma amostra — somos bem dependentes de dados de satélite, e cada satélite tem uma série diferente de instrumentos. Cada um desses instrumentos traz um papel para nos ajudar a descrever as rochas na superfície observada”.

Com base nesses dados, o time conseguiu analisar a inércia térmica e a evidência de erosão das rochas marcianas, descobrindo que os depósitos observados eram bem menos coesos do que se pensava, o que significa que esse ambiente só teve água por um tempo bem menor do que a média do restante do planeta. Koeppel diz que, normalmente, isso seria um “balde de água fria” – com o perdão do trocadilho -, já que a maioria das pessoas tende a pensar que, quanto mais tempo a água permanecer, maior será a chance de ela ter abrigado vida em algum momento.

“Mas para nós, no entanto, isso é bem interessante, pois traz uma série de novas questões”, disse o candidato ao Ph.D. “Quais são as condições que permitiram que a água sobrevivesse ali ainda que por pouco tempo? Será que existiram geleiras que derreteram mais rapidamente por meio de enchentes enormes? Será que houve algum sistema parecido com os lençóis freáticos que escaparam à superfície rapidamente e depois voltaram para baixo?”

Todas essas são perguntas que dependem de pesquisas mais aprofundadas para serem respondidas. Mas elas ressaltam uma diferença interessante entre possíveis climas de Marte. A cratera Jezero, por exemplo, já foi moradia de um imenso lago, o que sugere a permanência prolongada de água, ao contrário dessa área ao norte.

Entender essas diferenças de climas antigos pode nos ajudar a determinar uma figura mais exata de como Marte era há bilhões de anos.

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