Um estudo conduzido pelo MIT criou modelos climáticos simulados para comprovar o que já se esperava: houve um aumento na frequência de furacões nos últimos 150 anos. O estudo ainda mostra que, não só temos mais furacões acontecendo em menos tempo, mas as tempestades parecem mais perigosas quanto mais recente é o episódio analisado.

O paper, contudo, reconhece que o aumento parece ser uma tendência mais restrita à região norte do oceano atlântico, uma vez que não foi identificada em outras partes do mundo. Em outras palavras, o estudo diz que os furacões não aumentaram globalmente.

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Visão geral de três furacões: Irma, José e Katia. Estudo mostra que furacões aumentaram em ocorrência nos últimos 150 anos
Furacões Irma, José e Katia no Mar do Caribe e no Oceano Atlântico. (Imagem: lavizzara/Shutterstock)

A ideia do estudo era a de analisar se os registros históricos mais antigos são ou não confiáveis. A afirmação do aumento de frequência e poder das tempestades vem sendo feita há mais de um século. Entretanto, a tecnologia e o acesso à informação mudaram consideravelmente em décadas mais recentes, o que pode colocar em dúvida métodos mais antigos de medição climática.

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Felizmente, não foi o caso: o novo método não usou registros históricos, a fim de manter o estudo sobre furacões livre de qualquer viés. Ao invés disso, o MIT preferiu construir modelos baseados em dados brutos antigos, a fim de ver – com a tecnologia do século XXI – se esses modelos poderiam reproduzir tempestades passadas como elas aconteceram de fato, o que se confirmou.

“A evidência do nosso estudo aponta que, assim como diz o registro histórico, houve um aumento de longo prazo nas atividades de furacões no Atlântico Norte, mas nenhuma mudança significativa na escala global”, disse Kerry Emanuel, professor de Ciências Climáticas do MIT, que assina a autoria do paper. “Isso certamente vai mudar a interpretação dos efeitos do clima nos furacões — que na verdade vêm mais pela regionalização do clima, que algo vem acontecendo no Atlântico Norte que é diferente do resto do planeta. [Esse aumento] pode ter sido causado pelo aquecimento global, que não é necessariamente um efeito globalmente uniforme”.

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Trocando em miúdos: o aquecimento global, embora seja um problema que afete o mundo inteiro, causa diferentes reações em diferentes partes do planeta. Os cientistas do estudo concedem que esse aumento nos furacões pode ser uma consequência desse aquecimento, mas como a tendência não foi reproduzida em outros oceanos, é difícil afirmar isso com certeza.

O método de estudo foi bastante engenhoso: atualmente, a base de dados mais abrangente sobre furacões e tempestades do tipo é chamada de “IBTrACS” (sigla para “International Best Track Archive for Climate Stewardship”). Criada na década de 1940, ela compila informações coletadas por imagens de satélite e navios que estavam na mesma trajetória de um furacão observado.

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Emanuel diz que, embora ninguém questione a veracidade desses dados, a maioria dos profissionais meteorológicos preferem não usá-la para analisar históricos de tempestades. Isso porque o método padrão de projeção climatológica, embora tenha funcionado ao longo de todos esses anos, ainda abre espaço para erros.

Basicamente, cientistas consultam o histórico para reconstruir digitalmente as rotas de navios nos últimos 150 anos, comparando-as com as trajetórias seguidas por furacões modernos. Com isso, eles estipulam um cálculo estatístico de probabilidade de que os navios encontrem ou errem a presença de uma tempestade oceânica.

Entretanto, Emanuel diz que as trajetórias de furacões antigos – do século XVIV, por exemplo – podem ter sido diferentes das tempestades de hoje. Mais além, rotas mais antigas de navios não foram digitalizadas, então elas podem ter sido ignoradas pelo método convencional.

“Tudo o que sabemos é: se uma mudança tivesse ocorrido nas atividades de tempestades, ela não seria detectável por meio dos registros históricos digitalizados”, disse o cientista. “Então eu pensei que, nisso, havia uma oportunidade de melhorar, sem usar nenhum dado histórico”.

O que o time do MIT fez, então? Basicamente, eles “plantaram sementes de furacão”.

Explicando: Emanuel e equipe criaram um modelo global de variação climática. Depois, eles criaram diversos pequenos modelos de tempestades, simulando as ocorrências de furacões. Combinando os dois modelos, o time alimentou esse panorama com dados reais de condições oceânicas e atmosféricas. Aí entra a parte da “semente”: Emanuel usou todo esse panorama para marcar os pontos onde tempestades ocorreram, executando a simulação completa para ver quais “sementes” resultaram em furacões.

Em três simulações de diferentes climas, eles “inequivocamente” identificaram um aumento de atividade no Atlântico Norte. Outras áreas até apresentaram uma mudança módica, mas não em volume suficiente para fazer qualquer diferença no cálculo estatístico.

O modelo foi tão preciso que conseguiu reproduzir, sem ser programado para isso, o período de “seca de furacões”: durante as décadas de 1970 e 1980 o Atlântico Norte viu uma baixa na ocorrência de tempestades – cortesia do aumento da queima de combustíveis fósseis e o uso sem fiscalização de aerossóis de variados tipos. Nestes anos, a região atlântica resfriou, reduzindo a incidência desses episódios climáticos.

O estudo completo foi publicado no jornal científico Nature Communications.

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