A acusação parte de funcionários da Tesla: passando por cima de preocupações com segurança, Elon Musk teria forçado a introdução do piloto automático da Tesla antes do sistema estar completamente pronto. O CEO pode ter, dizem eles, enganado motoristas.

As informações são do The New York Times (NYT). O jornal entrevistou 19 pessoas envolvidas com o desenvolvimento do piloto automático da montadora ao longo dos últimos dez anos. Os entrevistados descreveram editais internos de Musk, divergências de engenheiros sobre o projeto e declarações do CEO que eles dizem ter enganado o público.

Câmeras como olhos

A Tesla foi erguida em torno da promessa de representar o futuro da direção, com grande parte de seu norte centrada no sistema de recursos capaz de, sozinho, dirigir, frear e acelerar os veículos da montadora. Ao contrário de outras empresas que trabalham com veículos autônomos, Musk insistiu que tal autonomia na direção poderia ser alcançada somente com câmeras rastreando os arredores dos carros.

Nas ideias do CEO, já que os humanos podem dirigir com apenas dois olhos, isso significa que os carros devem ser capazes de dirigir apenas com câmeras, sem outro tipo de ajuda. Entretanto, muitos engenheiros da empresa questionaram a segurança nesse sentido, ou seja, no desenvolvimento de um sistema sem a implementação de outros dispositivos de detecção.

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Oito dos engenheiros da Tesla entrevistados pelo NYT discordaram dessa direção tecnológica, assim como especialistas externos. Alguns profissionais deixaram a empresa, porém, outros seguiram as ordens de Elon Musk.

Tem que chamar de copiloto, não de piloto automático

Engenheiros do projeto também se opuseram ao plano da equipe de marketing da montadora de apelidar a tecnologia de assistência ao motorista de “piloto automático” (Autopilot), pelos mesmos motivos que os críticos e reguladores da Tesla já citaram: implicaria recursos que a tecnologia não tem. O nome alternativo preferido para a tecnologia era “co-piloto” (Copilot).

Agora, essas perguntas estão no centro de uma investigação, após pelo menos 12 acidentes em que veículos da Tesla usando o piloto automático dirigiram contra caminhões de bombeiros, carros de polícia e outros veículos de emergência estacionados, matando uma pessoa e ferindo outras 17.

Propaganda é a alma do negócio

Schuyler Cullen, especialista em visão computacional que supervisionou uma equipe que explorou as possibilidades de direção autônoma na Samsung, disse que a abordagem de Musk apenas com câmeras era fundamentalmente falha. ”Câmeras não são olhos! Pixels não são gânglios retinais”, disse o fundador e CEO da Summer Robotics.

Amnon Shashua, executivo-chefe da Mobileye, uma ex-fornecedora da Tesla, disse que Elon Musk pode exagerar as capacidades da tecnologia da empresa, mas que essas declarações não devem ser levadas muito a sério. “A verdade não é necessariamente seu objetivo final. O objetivo final [do CEO] é construir um negócio”.

Famílias estão processando a Tesla por causa de acidentes fatais. Além disso, clientes da montadora estão processando a empresa por deturpar o piloto automático e um conjunto de serviços irmãos chamados Full Self-Driving (FSD).

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