Viagens aéreas contribuem significativamente para as mudanças climáticas, isso é fato. Um voo transatlântico emite carbono suficiente para derreter cinco metros quadrados de gelo marinho do Ártico, afirmam os cientistas climáticos. O que poderíamos dizer sobre aquele veículo que sobrevoa o mundo todo na véspera do Natal? Por não ser movido a nenhum tipo de combustível, seria o trenó do Papai Noel um meio de locomoção sustentável e não agressivo ao meio ambiente?

Vamos entrar no clima e imaginar que o trenó do bom velhinho é algo real, que, segundo a tradição, é puxado por nove renas: Dasher, Dancer, Prancer, Vixen, Comet, Cupido, Donner, Blitzen e o encantador Rudolph, que usa seu nariz vermelho e luminoso para guiar as companheiras durantes nevascas e tempestades.

Para saber se um veículo puxado por tantas renas assim seria um meio de transporte amigo do meio ambiente, devemos conhecer como esses animais se comportam no decorrer do ano.

Como animais ruminantes, as renas comem plantas que fermentam e produzem metano em seus intestinos – um potente gás de efeito estufa. Imagem: Vladimir Melnikov – Shutterstock

Fermentação no estômago das renas produz metano

Primeira questão: as renas são animais ruminantes. Elas comem plantas que fermentam e produzem metano em seus intestinos – um potente gás de efeito estufa. Mas, enquanto as renas estão no chão, elas mordiscam pequenos arbustos, e esse pastoreio tem um efeito significativo no orçamento de carbono da paisagem ártica.

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Um estudo publicado este ano no jornal científico Global Change Biology, que analisou esses animais em áreas na fronteira entre a Noruega e a Finlândia, comparou os fungos do solo em áreas sujeitas ao pastoreio de renas durante todo o ano com lugares onde as renas pastam apenas durante o inverno. 

Segundo o estudo, o pastoreio apenas no inverno permitiu que a floresta de bétulas se espalhasse pela tundra. No entanto, os lugares com renas de alimentando o ano todo tinham mais vegetação de charneca. 

Os solos férteis criados pela bétula e as espécies de fungos que vivem no subsolo das árvores liberam mais carbono. Os fungos mais especializados do solo da charneca, por sua vez, trabalham mais lentamente, permitindo que os estoques de carbono se acumulem.

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Para a floresta de bétula, as renas são benéficas, pois controlam a população dessas plantas, cuja propagação libera carbono do solo. De acordo com os pesquisadores, o pastejo de renas mede se a tundra local se torna mais florestada e perde carbono ou se permanece coberta por arbustos anões que retêm o carbono do solo com mais segurança. Isso certamente mais do que compensaria suas flatulências de metano, tornando-as carbono-negativas.

Os bosques de bétula são o lugar ideal para encontrar o fungo agárico mosca Amanita muscaria – o clássico cogumelo de desenho animado com um chapéu brilhante artisticamente salpicado de pipoca.

Devido aos efeitos tóxicos desse cogumelo, as renas que o comem são vistas correndo em círculos, fazendo barulhos estranhos e tendo espasmos. Há relatos de pastores de renas que bebem a urina desses animais que ingerem esse fungo. Esta mistura quente retém os efeitos alucinógenos dos fungos enquanto perde a toxicidade.

Infelizmente, o que entra em uma extremidade da rena ainda pode causar problemas de emissão de carbono quando chega na outra extremidade. 

Peregrinação do Papai Noel inunda atmosfera de gases de efeito estufa

Outro estudo publicado em 2021, no periódico Science Direct, liderado por pesquisadores do nordeste da Finlândia, mostrou que excrementos de renas depositados nos pântanos e brejos que pastam no verão podem aumentar significativamente a produção de metano nas turfeiras.

O processo parece resultar diretamente de micróbios produtores de metano que pegaram carona no rúmen das renas (essencialmente a primeira câmara do estômago, uma câmara de fermentação onde os micróbios ajudam a digerir a comida desses animais) e se jogaram nas turfeiras, se infiltrando na vida microbiana desse ambiente.

Assim, tendo em vista que as bactérias produtoras de metano nos excrementos incluem espécies que geralmente não são encontradas nos pântanos, o cocô de rena inocula os solos dos pântanos com poder adicional de produção de metano. 

Como elas devem se alimentar bastante para dar conta de toda a jornada da noite de Natal, é de se imaginar o quanto de metano toma conta da nossa atmosfera a cada pum e arroto desses cervídeos voadores.

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