A prefeitura de Detroit planeja demolir o complexo onde funcionava a sede corporativa da montadora americana AMC (American Motors Corporation), extinta em 1988. Em entrevista ao jornal The Detroit News, o prefeito Mike Duggan, do Partido Democrata, anunciou reforma de US$ 66 milhões (R$ 3,7 bilhões) para transformar o complexo em um centro de empregos que irá entregar 150 vagas na construção civil e mais 300 permanentes para a outrora capital automotiva dos Estados Unidos.

Duggan detalhou os planos de reforma, dizendo que esse será um passo para “apagar o pornô de ruínas da paisagem da cidade”. “Estou convencido de que, dentro de alguns anos, vocês verão uma fábrica que irá empregar 300 ou 400 pessoas e será uma fonte de trabalho nesse bairro, e não uma fonte de constrangimento.”

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O complexo onde ficava a sede original da AMC foi construído em 1926 e 1927 pela Electric Refrigeration Corporation, antecessora da Nash-Kelvinator, um conglomerado que comportava a montadora Nash Motors e a fabricante de eletrodomésticos Kelvinator (marca pertencente hoje à Electrolux). Quando a Nash se juntou à Hudson em meados dos anos 1950 para formar a AMC, o complexo da Electric Refrigeration se tornou a sede mundial da recém-formada montadora.

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A AMC ocupou o complexo na Plymouth Road, em Detroit, até 1975, quando a matriz foi transferida para Southfield, uma cidade menor em Michigan. Com a compra da AMC pela Chrysler em 1988, o local se tornou um centro de engenharia para caminhões (especificamente Dodge e Jeep). Este centro funcionou até 2009, quando a Chrysler resolveu se livrar do terreno, vendendo-o no ano seguinte ao site LeftLane News. Daí em diante, a última informação do antes portentoso edifício era de que ele havia caído nas mãos de um sucateiro por US$ 500 (à época em torno de R$ 1.500).

Na visão de Duggan, o terreno está em uma situação tão deplorável que “nada pode ser recuperado”. O prefeito disse ainda que vai conversar com a comunidade em torno da sede para ver quais lembranças podem ser colocadas em memória da finada AMC.

Ruínas da sede da AMC em Detroit, nos EUA
Sede da AMC estava sendo usada pela Chrysler até 2009, mas desde então está inativa (Mandi Wright/Detroit Free Press)

Reforma precisa ainda de aprovação do Conselho Municipal

Apesar da tragédia patrimonial, a prefeitura de Detroit conseguiu vender a sede histórica da AMC para o consórcio NorthPoint Development por US$ 5,9 milhões (em torno de R$ 33 mi) no início do ano. Por volta do fim de 2022, o NorthPoint espera ter demolido o complexo inteiro — a sede, mais as 26 unidades residenciais — para construir o centro de empregos, tendo como principal alvo a indústria de autopeças.

A venda do terreno ainda não foi aprovada pelo conselho municipal de Detroit — o equivalente à câmara de vereadores nos EUA — e outras autoridades locais. Caso seja autorizada, a reforma deve começar em meados de 2023, tendo o início de 2024 como data ideal para a reabertura.

AMC Javelin 1971
Javelin 1971: um dos muscle cars da AMC que fizeram sucesso naquela década (Christopher Ziemnowicz/Wikimedia/CC)

A AMC foi criada nos anos 50 como uma “quarta via” na indústria automotiva de Detroit, à época dominada por General Motors, Ford e Chrysler. A marca chegou a ser a terceira maior montadora dos EUA nos anos 60, mas perdeu tração já no fim da década após uma desastrada tentativa de mudar seu foco de construção para carros mais sofisticados — a fama da AMC sempre foi de carros “econômicos”, como o Nash Metropolitan. Embora tenha obtido sucessos de nicho como os muscle cars Javelin e AMX, a montadora sofreu sérias dificuldades financeiras em seus últimos anos, tendo que se filiar à Renault no fim dos anos 70 para poder financiar sua produção.

Em 1987, a montadora francesa vendeu 47% de suas ações na AMC para a Chrysler, que no mesmo ano comprou a operação inteira.

Créditos para imagem principal: Mandi Wright/Detroit Free Press

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