A parte de dentro da Terra está esfriando a um ritmo mais rápido do que nós antecipamos, de acordo com estudo publicado por cientistas da Instituição de Carnegie pelas Ciências, em Washington. Os especialistas desenvolveram um novo método de análise que imita o ambiente entre a parte mais interior do manto e o exterior mais viscoso do nosso núcleo, usando diamantes para reproduzir experimentos em laboratório.

Há 4,5 bilhões de anos, a Terra era coberta por um oceano de magma, atingindo temperaturas extremas. Com o passar das eras, isso foi esfriando e dando origem à camada quebradiça que conhecemos como “manto”, bem como todos os fenômenos relacionados a ele: vulcanização, placas tectônicas e a convecção mantélica, por exemplo.

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Imagem mostra um planeta com cores de gelo, simbolizando a Terra esfriando
Terra gelada? Ainda não, segundo cientistas, mas resfriamento acelerado está maior do que o que eles esperavam e isso pode ter consequências num futuro bem distante (Imagem: Outlook Artist/Shutterstock)

Entretanto, nós ainda não sabemos quanto tempo esse processo levou e, mais além, quanto tempo essa queda gradual de temperatura levará para levar os fenômenos acima a pararem por completo. Os cientistas de Carnegie suspeitam que isso tenha a ver com a condutividade dos minerais que formam a “divisa” entre o manto e o núcleo da Terra.

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Essa camada é formada majoritariamente por um minério conhecido como “bridgmanita” (cientificamente, “perovskita de silicato de magnésio”). Mas analisar a sua condutividade térmica era difícil porque, bem, ele está quase no centro da Terra, onde nós ainda não conseguimos chegar.

A solução é tentar reproduzir esse mesmo ambiente em laboratório, dentro de condições controladas, e foi isso que o professor emérito de Carnegie, Motohiko Murakami, e sua equipe conseguiram fazer, por meio de um sistema de medição de absorção óptica em um diamante aquecido com um laser pulsante direcionado.

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Segundo Murakami, isso permitiu que os cientistas descobrissem que a capacidade de condução térmica da bridgmanita é 1,5 vez maior do que eles esperavam – o que por sua vez sugere que o fluxo térmico próximo ao centro da Terra também é maior do que o antecipado.

Um fluxo térmico maior acelera o processo de convecção mantélica (o movimento de arrastamento do manto vindo de correntes que transportam calor do interior da Terra para a sua superfície) e, por si, acelera o processo de esfriar o planeta. Isso pode trazer impactos, por exemplo, nos movimentos das placas tectônicas: as grandes massas continentais do manto são as principais responsáveis por terremotos por se moverem umas nas direções das outras e se chocarem.

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Com o interior do planeta esfriando, esses movimentos podem desacelerar. Isso já nos era esperado, mas o novo estudo indica que isso pode acontecer mais rápido do que pensamos.

E não é só isso: segundo Murakami, essa “refrigeração acelerada” também pode alterar as fases mais estáveis dos minerais entre o manto e o núcleo da Terra. Quando muito fria, a bridgmanita se transforma em pós-perovskita – uma fase cheia de pressão do silicato de magnésio. Quando este minério começa a dominar, a refrigeração deve ficar ainda mais rápida, uma vez que ele tem uma condução térmica ainda mais eficiente.

“Os nossos resultados podem nos dar uma nova perspectiva na evolução das dinâmicas da Terra”, disse Murakami. “Eles sugerem que a Terra, assim como outros planetas rochosos, está esfriando e se tornando menos ativa de forma bem mais acelerada”.

O estudo completo está disponível no jornal científico Earth and Planetary Science Letters.

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