Se você é daqueles que sofre de muito sono a qualquer hora do dia, então talvez uma viagem para Marte lhe interesse. Segundo pesquisa feita pela ESA, a agência espacial europeia, a hibernação humana seria o melhor jeito de irmos até o planeta vermelho com segurança, saúde, além de reduzir custos e uso de espaço dentro de naves.
De acordo com o levantamento, em uma viagem espacial comum, contando apenas o consumo de comida e água, uma tripulação consumiria, em média, 30 kg mantimentos por pessoa a cada dia, isso sem contar questões como a necessidade de proteção contra a radiação do espaço, assegurar a saúde mental dos viajantes e outros desafios.
Leia também
- Estudo mostra que cérebro fica alerta para perigos mesmo durante o sono
- Estudo mostra porque não se deve dormir com a TV ligada
- Google Nest conserta problema de ruído branco que tirou o sono dos usuários

Entretanto, uma forma de contornar esses custos seria a indução de um estado de torpor por meio de hibernação: o método é comum em alguns animais na natureza e, de acordo com Jennifer Ngo-Anh, uma das autoras do estudo e Coordenadora de Exploração Humana e Robótica da ESA, ajudaria a reduzir a taxa metabólica de um astronauta para 25% de sua capacidade durante uma viagem ao planeta vermelho.
Em outras palavras, para chegarmos a Marte sem gastar demais, a ESA recomenda dormir horrores.
“Onde quer que haja vida, há estresse”, disse a especialista. “Essa estratégia ajudaria a minimizar sentimentos de tédio, solidão e agressividade – todos esses, amplificados graças ao confinamento obrigatório de uma nave espacial”.
Ao contrário do que se possa pensar, um estado de hibernação não é bem um sono profundo eternizado por Hollywood: sim, ursos e morcegos em cavernas dormem pesadamente, mas isso tem um senso prático — armazenar o máximo de energia para sobreviver ao frio, que normalmente tem menos alimento disponível.
Mas assim como qualquer outro processo metabólico, acordar um animal de sua hibernação pode ser letal: despertar da hibernação é um processo custoso — o que significa que os animais terão que usar suas reservas, e esse é um gasto que pode não voltar.
Considere que você é um urso, e um alarme de carro lhe acordou antes da hora: você agora tem menos energia do que deveria, sendo obrigado a caçar comida em um período escasso. Seus hábitos alimentares podem mudar forçadamente e aquilo que, antes, você evitava atacar, agora pode lhe parecer apetitoso — como humanos, animais domésticos… você já está vendo aonde vamos com isso.

No que tange aos corpos humanos, a hibernação nunca foi de fato atingida, mas pesquisas sobre ela existem desde 1980: hoje, a medicina moderna consegue induzir um estado de hipotermia controlada para reduzir seu ritmo metabólico, mas isso não é a mesma coisa. A hipotermia é mais ligada à extrema redução de temperatura.
A premissa, porém, é válida como um ponto inicial: ursos têm massa corporal similar à nossa e, em seus períodos de hibernação, eles reduzem suas próprias temperaturas apenas alguns graus, ganhando assim cerca de seis meses de sono e quase completa imobilização.
Naturalmente, se tentarmos isso com o corpo humano, perderemos muita massa, gordura e teremos risco de atrofia muscular generalizada. “Ainda assim, pesquisas mostram que ursos deixam suas tocas com uma perda marginal de musculatura, e precisam de apenas 20 dias para voltarem ao normal. Isso nos mostra que a hibernação previne a atrofia por falta de uso, além de proteger tecidos”, disse Alexander Choukér, professor de Medicina na Universidade Ludwig Maximilians em Munique, Alemanha.
Há também a regulação hormonal: nos animais, a baixa testosterona ajuda na manutenção metabólica, enquanto em humanos, a presença de estrogênio faz esse papel. Por essa razão, os autores acreditam que mulheres seriam candidatas perfeitas para isso.
O estudo sugere que, em uma viagem para Marte, a ESA poderia contar com pequenas cabines com ajustes finos de temperatura, com baixa luz, pouca temperatura (cerca de 10 ºC) e alta umidade. Os astronautas ainda poderiam se mover — como em qualquer sono normal — mas com baixa amplitude e sem restrições, vestindo roupas que evitem superaquecimento e contando com sensores que medissem seus dados biométricos com controles que pudessem ser alterados à distância. E cada cápsula seria cercada por contêineres de água, servindo de escudo contra a radiação.
Finalmente, um sistema de inteligência artificial que permeie toda a nave ficaria constantemente em ação programada, monitorando operações independentes da interação humana e analisando não só o estado dos viajantes, mas também o consumo de energia da nave.
Os detalhes completos foram publicados no site da ESA.
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!