Cadeias de montanhas gigantes que ocupavam até 8 mil km em supercontinentes inteiros desempenharam um papel crucial na evolução da vida na Terra. Isso é o que diz um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade Nacional Australiana (ANU) e publicado no periódico científico Earth and Planetary Science Letters.

Segundo os pesquisadores, eles rastrearam a formação dessas supermontanhas ao longo da história do nosso planeta usando traços de zircônio com baixo teor de lutécio — uma combinação de elementos minerais e de terras raras encontrada apenas nas raízes das montanhas altas, onde se formam sob intensa pressão.

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Monte Ama Dablam, na região do Everest, no Nepal. As supermontanhas que teriam contribuído para o surgimento da vida na Terra eram bem maiores do que toda a cadeia do Himalaia. Imagem: GenadijsZ – Shutterstock

Eles descobriram que a mais gigante dessas supermontanhas se formou duas vezes na história da Terra — a primeira entre 2 bilhões e 1,8 bilhão de anos atrás, e a segunda entre 650 e 500 milhões de anos atrás. Ambas as cadeias de montanhas surgiram durante períodos de formação de supercontinentes.

Muito maiores do que as montanhas do Himalaia

De acordo com Ziyi Zhu, autora principal da pesquisa e estudante de doutorado da ANU, há ligações entre essas duas instâncias de supermontanhas e os dois períodos mais importantes de evolução na história da Terra.

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“Não há nada como essas duas supermontanhas hoje. Não é apenas a altura delas — se você pode imaginar os 2,4 mil km de comprimento do Himalaia repetidos três ou quatro vezes, você tem uma ideia da escala”, disse Ziyi.

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“Chamamos o primeiro exemplo de Supermontanha Nuna. Coincide com o provável aparecimento de eucariotes, organismos que mais tarde deram origem a plantas e animais. A segunda, conhecida como Supermontanha Transgondwana, coincide com o aparecimento dos primeiros animais de grande porte, há 575 milhões de anos, e a explosão cambriana, 45 milhões de anos depois, quando a maioria dos grupos de animais apareceu no registro fóssil”.

Aumento do nível de oxigênio na atmosfera abriu caminho para surgimento da vida na Terra

Jochen Brocks, professor da ANU e coautor do estudo, disse que está muito claro. “Todo o registro de construção de montanhas através do tempo é tão claro. Mostra esses dois picos enormes: um está ligado ao surgimento de animais e outro ao surgimento de grandes células complexas”.

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Quando as montanhas surgiram, elas forneceram nutrientes essenciais como fósforo e ferro para os oceanos, turbinando ciclos biológicos e levando a evolução a uma maior complexidade.

Segundo Ziyi, as supermontanhas também podem ter aumentado os níveis de oxigênio na atmosfera, necessários para uma vida complexa respirar. “A atmosfera terrestre primitiva continha quase nenhum oxigênio. Acredita-se que os níveis de oxigênio atmosférico aumentaram em uma série de etapas, duas das quais coincidem com [o surgimento das] supermontanhas”, disse a pesquisadora. “O aumento do oxigênio atmosférico associado à erosão de Transgondwana é o maior da história da Terra e foi um pré-requisito essencial para o aparecimento dos animais”.

Não há evidência de outras supermontanhas se formando em qualquer estágio entre esses dois eventos, o que os torna ainda mais significativos. “O intervalo de tempo entre 1,8 bilhão e 800 milhões de anos atrás é conhecido como o Bilhão Chato, porque houve pouco ou nenhum avanço na evolução”, disse o coautor professor Ian Campbell.

“A desaceleração da evolução é atribuída à ausência de supermontanhas durante esse período, reduzindo o fornecimento de nutrientes aos oceanos. Este estudo nos dá marcadores para podermos entender melhor a evolução da vida precoce e complexa”, afirma.

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